Sempre adorei o Dr. House. Doutor mesmo, assim em jeito de tradução do House MD original para a terceira palavra mais utilizada da língua portuguesa: “Doutor”. Claro que estou a conjecturar aqui… É só uma suposição. Pode perfeitamente ser a segunda. Mas certo é que House (e temos sorte de aqui as nossas brilhantes mentes tradutoras não terem apelidado o homem de “Doutor Casa”) é um médico do caraças. Sei disso porque era a minha frequente companhia nos serões em que, após o jantar, eu tratava de arrumar a cozinha enquanto a minha doce esposa e os meus adoráveis miúdos ficavam um bocadinho na sala a brincar e a ver televisão juntos. Ali na cozinha, era das alturas em que efectivamente dava uso à nossa TV que lá se encontra… e o detergente da louça disputava com House as minhas atenções. Bons tempos, acompanhando caso após caso, de desenlace em desenlace, sabendo-se de antemão que nunca era Lupus. A coisa virou uma piada, com a quantidade de vezes que alguma doença NÃO era Lupus. Era uma piada batida, mas ainda assim melhor que aquilo que a Fox transmite à mesma hora, actualmente, com uns Hawai Five-0 que começam mal com uma música que irrita a mais pequena fibra do meu ser e que acabam pouco depois, quando o meu nojómetro dispara e eu tenho que mudar de canal ou dedicar-me exclusivamente ao esfreganço da porcelana de mesa.

E abro aqui um parêntesis porque, caso houvesse um Behind the scenes do Dr. House, de seu nome Dr. House’s secrets, a coisa ficaria perfeita traduzida para “O Doutor da Casa dos Segredos”. São coisas. Peço desculpa.

Bio Inc. Redemption fez-me lembrar House. Ele sabe umas coisas. É um tipo esperto. Sabidão. Mas também pertence às principais marcas de cabrão, com aquele feitiozinho de merda e lado do lábio soerguido num misto de escárnio e nojo, num meio-sorriso assimétrico que dá vontade de lhe partir os dentinhos todos por ordem alfabética. E ele faz isso, mas ao mesmo tempo é um cabrão adorável a quem queremos pagar um copo e dizer meia dúzia de parvoíces. O jogo é uma espécie de encarnação digital do personagem.

Em Bio Inc. Redemption há pessoas. E há maleitas, que é para não dizer doenças ou enfermidades. Há maleitas. Posto isso, cabe-nos escolher se queremos a escola da vida, em que vestiremos a pele de um dos estagiários do Dr. House para debitar testes em busca de diagnósticos a fim de tratar o nosso anónimo paciente; Do outro lado, temos a escola da morte, em que temos como missão levar a cabo o falecimento das pessoas, que é como quem diz fazer com que batam a caçuleta. Confesso que, contrariamente ao que seria de esperar, me agarrei mais ao mais comum lado da vida. Encarnar a pele de um dos estagiários de House, fazendo testes atrás de testes para ver que raio de doenças afectavam os pacientes e cuidá-las antes dele precisar de ser embalsamado é um desafio que agarrei com unhas e dentes. O aspecto de um corpo humano reflectindo parte dos seus sintomas e mostrando os diversos sistemas do organismo é o nosso campo de batalha. Há que investigar, com base nos sintomas apresentados pelo paciente, e procurar encontrar o mais plausível para com isso levar a cabo os testes com melhor possibilidade de sucesso. Há testes que permitem o despiste de um punhado de doenças e outros tão específicos que identificam apenas uma.



Identificada a doença, cabe-nos agir para a curar, eliminando desde logo parte da degradação do sistema afectado e riscando uma da lista. Sim, uma. Uma porque o Zé que nos chega às mãos não tem uma gripezinha ou uma bronco-pneumonia. Não. O tipo é uma espécie de viveiro para tudo quanto é doença, infecção, condição e enfermidade. É uma, duas, três, dez doenças! Tudo a fazer com que o nosso paciente se vá lentamente esvaindo, dando confiançudos passos para a morte certa.

Ora até aqui tudo bem. Claro que há um rangerzinho de dentes de irritação porque o indivíduo em vez de ter Lupus tem quinze condições a tratar e calharam todas de começar a manifestar-se quando está a nosso cargo, mas é um jogo. É um desafio interessante e vai-se fazendo de forma agradável e envolvente.

Mas há uma nódoa neste pano branco… O nosso médico, esse que até sabe umas coisas, é irritante p’ra caraças. Em termos de conceito, compreende-se que tenha que haver uma forma de limitar o número de testes de diagnóstico a serem efectuados. Caso contrário, estendia-se o senhor, testava-se para 1001 doenças simultaneamente e íamos para casa a tempo de ainda apanhar a Roda da Sorte (bons tempos..). A solução aqui passa por uns Biopoints que temos que ir gerindo para não só elaborar os testes necessários como para tratar as doenças detectadas. Até aqui tudo bem em Santarém. O problema existe quando se passa do conceptual para a prática e se força o jogador a agarrar teclado e rato enquanto olha para o ecrã para reagir enquanto-o-diabo-esfrega-um-olho, clicar no selector do sistema que aparece iluminado e depois clicar e manter pressionado o rato por cima do coisinho, da coisata, da ceninha que representa um coiso qualquer que depois nos dá 1, 2 ou 3 biopoints.

Podia ser um chill-game. Não é. Mas há pior. O sádico House parece ter uma apetência por colocar os mais valiosos coisinhos, a valer 3 Bipoints, logo no início. Ora não raras vezes o que acontece é que enquanto se desloca o rato para o sistema correspondente, se clica lá e se trata de tentar clicar nele para o colher, já o coisinho se foi à vida, levando com ele 3 preciosíssimos pontos. Podia ser uma coisa de nada e acontecer muito raramente. Não é. E, embora a versão testada seja ainda uma versão de preview, longe da final, a verdade é que a irritação foi, gradualmente, ganhando primazia em relação ao efectivo gozo que o jogo me dava. É que, a juntar à catadupa de doenças que cada infeliz patenteia, ficar sem 3, 6 ou 9 preciosos pontos na batalha contra a morte podem significar a derrota certa.

Lá está, no melhor pano cai a nódoa. Em todo caso, estou em crer que isso será algo a ser resolvido a curto prazo, e aí, meus caros, não há como não recomendar este Bio Inc. Redemption. Joguem! Não é contagioso!