Battle for Enlor apresenta-se como um jogo de estratégia por turnos, com cartas. Tive o meu primeiro impacto com ele em directo para o público do Rubber Chicken há uns dias e há muito para dizer, embora pouco seja de bom.

Mas vamos começar pelo bom, porque não? A arte é agradável, para um pequeno estúdio indie – embora, e não foi só a mim, algumas das personagens pareçam-se em demasia com as de outros jogos.  (“Budget Windranger” assenta-lhe bem, Sr. Pedro Nunes) O menu é limpo, sem elementos supérfluos ou a distrair-nos e as personagens, agradavelmente ilustradas, têm uma palete bastante interessante e diversificada de habilidades para utilizar, com um número bem satisfatório de personagens com quem podemos construir a nossa party de 4 membros para enfrentar os malévolos… coisos que ameaçam… Enlor. Acho eu. Não sei. Deve ser. É que não há nada que nos indicie qualquer laivo de história além do nome do jogo. Nada. Temos um mapa pela frente e coisas em que clicar. E zungas, lá estou eu a escolher a party para enfrentar os coisos.

A primeira experiência começa mal, com erros ortográficos na descrição do Boss que escolhi primeiro. E porque é que o escolhi primeiro? Porque calem-se, eu é que sei. O moço, um cavaleiro com ares de Sven (do Dota 2) e com um capacete de onde emana uma luz vermelha. Seguiu-se um período razoavelmente longo em que eu, jogador dedicado e interessado, me informei sobre as diferentes habilidades dos 8 personagens disponíveis para construir uma party equilibrada, capaz, eficaz. Um guerreiro para a vanguarda, para defender os restantes elementos, um curandeiro para ficar mais resguardado, um … esqueçam lá isso. Metam num frasquinho, tapem-no com uma rolha e atirem-no para uma das ondas da Nazaré.

 

O Boss ataca quem quer, independentemente das suas posições. E, para este Boss em particular, o tal armado em Sven, é indiferente vocês cuspirem para cima dele, mandarem uma poderosa bola de fogo, um relâmpago ou uma manada de elefantes… dá tudo 1 de dano. UM! Não, não estão a perceber… Esqueçam os Buffs. Esqueçam o dano que cada um dá, que vocês estiveram cuidadosamente a escolher para a vossa party. Esqueçam as magias poderosas. Um de dano. É tudo o que conseguem sacar de atacar este senhor num combate em que o momento alto foi, para mim, carregar repetidamente em habilidades quando não tinha Mana para as fazer, para ouvir a voz a repetir “not enough mana”… sim. é verdade.

Mas vá, plano B. Pode ser que este Boss seja Bossy demais. Vamos tentar outro. Um em que faça sentido termos uma party com pés e cabeça, equilibrada, num misto entre o poder de ataque e a recuperação de vida! Pois… parecia. Quase que me enganavas, sacana. Começa bem, que este enfarda dano como gente grande – na verdade, não é bem assim, mas entre levar sempre 1 e levar um valor entre 1 e o valor máximo de uma habilidade já não é mau. Pode ser que agora consigamos usar as habilidades convenientem…. que é isto? Então o Boss em vez de atacar… escreve? Estou a lutar com o célebre Dandellion, da saga Witcher? Olha… uma letra! Pfffft. Pois… Só que perceber o que ele estava verdadeiramente a fazer desmontou um pouco mais da lógica do jogo. Ora o nosso amigável Boss escritor estava, enquanto comia espadeiradas no lombo e bolas de fogo na venta, a jogar ao Enforcado com os nossos amigos. Quando ele acaba de escrever o nome, essa personagem morre, falece, desaparece. É um conceito que tem a sua piada, de facto. Tem. Está original. Mas, mais uma vez, invalida tudo aquilo que possa ser uma vantagem ou desvantagem das nossas personagens. Tem muita vida? Reduz o dano que leva em 50%? Tem, ali ao lado, um curandeiro para lhe restaurar vida? Indiferente. Quando a última letra é escrita, a personagem falece. Kaput. Tiram-lhe as pilhas e não há mais coelhinho.

Ainda assim, é possível ultrapassar este Boss. Mas a somar-se a estes, há outros que apontam as deficiências em termos de conceito deste jogo. A machadada final naquilo que foi a minha paciência para com um jogo que não vale os  3,99€ que pedem por ele foi com um outro Boss, um sacaninha mal encarado que adora aplicar debuffs aos meus companheiros de viagem por Enor…. Endor… Flora… Elora… Enlor! Em plena batalha contra a feroz criatura que não sei bem porquê, batalha comigo, eis que nenhum dos ataques dos meus camaradas de armas surte efeito. Dodge. Dodge.Dodge. Dodge. Quatro vezes seguidas. Está lá, a Stream não mente! No turno seguinte, novamente… Dodge. Dodge. Dodge. Dodge. Dois turnos em que as minhas personagens falham todo e qualquer ataque,enquanto se aproximam da morte. Não é pela dificuldade que o jogo me chateia. É pelo absurdo, pelo desrespeito por algumas normas mais ou menos convencionais de se criar um jogo e um conjunto de mecânicas, e pela transversal falta de qualidade naquilo que se apresenta.

E que me perdoem os seus criadores, a quem louvo a iniciativa de enviarem o seu jogo para análise e eventual promoção, mas este não é um jogo que eu recomendaria a ninguém de borla, quanto mais a pagar 3,99€. Este parece ser um jogo feito por amantes de jogos, sem dúvida, mas sem qualquer conhecimento de regras básicas de como funciona um jogo e o seu interface… A começar no menu, e na total ausência, por exemplo, de um controlo de volume, que se encontra disponível, pasme-se, apenas durante uma batalha. E a terminar num conjunto de habilidades que até estão bem criadas para as personagens, mas que depois se verificam maioritariamente inúteis face à forma como o jogo se desenrola. Um desperdício de criatividade. Que seria um desperdício de dinheiro, se eu pagasse por ele.