Caçada Semanal #145
O trocadilho não é meu, e até é um MMO indie em 8 bits à venda no Steam, e certamente que pesquisarem alguma coisa semelhante na net seja em português, francês ou inglês e decerto que verão o quão fácil é de correlacionar a palavra nostalgia (nas diversas línguas) e a consola da Nintendo. Aliás, se me permitem a ousadia pessoal transposta para o geral, continuo a sentir que não existe nenhuma plataforma que exemplifique melhor a noção de nostalgia do que a 8 bits da Nintendo e a forma como ajudou a configurar o mercado.
Este peso de influência que a consola e o seu catálogo têm e tiveram em mim, e de igual forma têm para milhões de pessoas e milhares de game devs pelo mundo inteiro. Essa é uma das justificações para termos tantos jogos com abordagens retro, 8 e 16 bits, desenvolvidos com tecnologia actual.
A caçada desta semana traz 3 desses exemplos. São 3 bons indies que poderiam facilmente ter pertencido à época áurea dos cartuchos da Nintendo.
The Count Lucanor
Começando logo por uma pequena batota em relação ao título e até aos restantes jogos desta Caçada, The Count Lucanor, lançado em PC em 2016, chegou entretanto à Switch, em todo o seu esplendor visual “acima” das potencialidades técnicas dos 8 bits e próximo do auge dos 16 bits.
Apesar do aspecto inicial que nos lembra o colorido dos RPGs da SNES, The Count Lucanor é na realidade uma excelente abordagem aos jogos de terror. Aqui vivemos o papel de Hans, um rapaz de 10 anos que amargurado com a falta de prendas e doces no seu aniversário decide sair de casa para procurar o seu próprio tesouro. É aí que descobre a possibilidade de vir ele próprio a ascender ao lugar de Count Lucanor, e a sua aventura começa.
The Count Lucanor é um puzzle game de horror repleto de não-linearidade, onde temos a possibilidade de escolher o nosso caminho e as nossas soluções, e com essa abertura poder chegar a múltiplos finais. Com uma tremenda direcção artística e pixel art, The Count Lucanor é uma pequena surpresa indie retro que serve de standard para todos os jogos que queiram explorar o filão dourado da nostalgia.
Fantasya Final Definitiva REMAKE
Imaginem que no início da expansão e acessibilidade de motores como RPG Maker, alguém decide fazer uma tremenda homenagem aos Final Fantasy de NES, mas ao contrário de tanta gente que nos tenta arrancar umas lágrimas de emoção ao fazer histórias trágicas com um look retro, os nossos irmãos brasileiros do estúdio CleanWaterSoft decidiram trocar-nos as voltas e querem fazer-nos chorar… a rir.
Fantasya Final Definitiva REMAKE é um jogo de humor, totalmente (e unicamente) em Português, e que está repleto de humor. O protagonista não é o pobre herói melancólico amnésico de outros Final Fantasy, mas sim um bêbado com um instinto surpreendente para criar confusão, e se lhe falta a memória a culpa é certamente do álcool. Dos diálogos, aos inimigos e à própria auto-consciência do jogo enquanto jogo, há tanto de divertido neste jogo que acredito que para um português só raras vezes é que algumas expressões idiomáticas do Brasil é que poderão ficar no vazio, e compreendemo-las-emos apenas por contexto.
Esta é uma colectânea que agrupa dois jogos feitos na década passada em torno do mesmo ambiente e do mesmo universo, Samuka, o bêbado, herói por acaso, e o seu fiel companheiro o cão Totó. Muito mais que um mero jogo feito em RPG Maker como existem às pás pelo Steam (e não só), Fantasya Final Definitiva REMAKE é uma das mais hilariantes homenagens que podemos encontrar à série Final Fantasy. Só temos pena que não exista versão em inglês, porque este jogo merecia chegar ainda mais longe em termos de alcance de público.
TinyWar high-speed
Certamente uma das maiores surpresas ao qual tivemos acesso nos últimos tempos. A começar pelo género e o ambiente: um RTS em 8 bits não é propriamente das coisas que mais ocorram. O que é até um feito incrível se tivermos em consideração que praticamente todos os géneros e abordagens estão perfeitamente saturados no mercado.
TinyWar high-speed ocupa assim um espaço estranho, e surpreendentemente divertido. A jogabilidade é simples: temos de construir edifícios ofensivos e defensivos na nossa cidade, sendo que os primeiros, passivamente com o tempo, vão criando unidades que seguirão em linha directa para atacar o centro da cidade inimiga.
O jogo processa-se todo em automatismo, com os dois exércitos beligerantes a deslocarem-se directamente para o quartel-general inimigo numa batalha de atrito entre as duas forças. A nossa missão é a de conseguir contrariar os ataques e defesas dos nossos adversários com o posicionamento e a compra de novos edifícios.
TinyWar high-speed é muito mais complexo e fervoroso do que aparentava originalmente com todo o seu automatismo. E é uma das grandes surpresas de um género que tanto evoluiu que até tem como possível exemplo um jogo como este, mais despido de tantas mecânicas modernas.