Uma análise à cadeira AEROCOOL AC120
Sou um velho gamer da velha guarda. Velho. Quando penso em videojogos, há um qualquer flash de toda a minha vida em torno dos mesmos – a exemplo do que, dizem, sucede quando estamos prestes a quinar. Só que aqui, em vez de vermos o nosso primeiro beijo, a primeira vez que comemos uma tosta mista com queijo derretido a pingar, ou o nascimento do nosso primogénito em cinemática câmara lenta, vemos os jogos que marcaram a nossa vida, a nossa história. E, com eles, outros fragmentos de memória. O meu primeiro computador, um Spectrum 128k ZX +2. O meu primeiro PC, um magnífico 286 com um disco rígido que deveria ter perto de 20Mb. As tardes passadas a jogar Commodore Amiga em casa de um amigo. Os noitadas em torno de Age of Empires nas salas da faculdade. Os primórdios da minha ligação por cabo, alternados entre Counter-Strike e Command & Conquer: Red Alert 2 no extinto Gamespy. Mas, também, os locais. A minha primeira secretária. O chão com uma carpete onde por vezes me sentava em posição de lótus, de olhos vidrados no ecrã. A persiana que ficava em frente à secretária na actual casa dos meus pais. A vista que tinha do escritório do meu primeiro apartamento, que acolhia os meus olhos cansados e os compensava com uma paisagem campestre perto do centro de Vila Nova de Gaia… e eu ali ficava, a olhar uns segundos para descansar os olhos e fazê-los focar-se num ponto distante em vez de um ecrã a 40cm de distância… E mais, mais coisas, a secretária que eu tinha na altura. O meu primeiro tapete de rato. O meu primeiro jogo na Steam. A minha cadeira… A minha velha cadeira, poída nuns lados, assumidamente rota de outros, deixando ver as entranhas em espuma laranja, cobertas com uma pequena manta…
Repito, sou um gamer da velha guarda. Tive várias cadeiras. Cresci demais para algumas. Mas recordo bem a debruada carpete em soalho dolorosamente rígido em que não raras vezes repousei – deformei – minhas nalgas enquanto jogava. A minha cadeira não é bonita. Não é nova. Faltam-lhe pedaços de pele e guincha quando me inclino, quando viro ou … vá, guincha sempre. Mas está lá. Faz parte da mobília. E por lá – pensara eu – ficaria até um dia ter que a levar para o cemitério das cadeiras, onde repousaria sob uma lápide enfeitada com uma pequena rosa vermelha, rodeada de cadeiras, bancos e cadeirões. Feliz para sempre. Mas vá, nunca me fez propriamente falta uma nova cadeira. Oh sim, são bonitas, aquelas todas XPTO, com corzinhas, luzinhas, enfeites de Carnaval e andores de procissão. Mas, sei lá, nunca tinha pensado muito nisso. Até que a Alientech me colocou uma dessas lá em casa para análise. Não tem enfeites de Carnaval. Nem um andor. Mas tem luzinhas. Juro! As cores até são sóbrias. Bonita, a danada. Toda preta. Com buracos, assim toda desportiva, a malandra. Lindona. Fica, de facto bem, lá em casa. Mas… convenhamos… já escrevi críticas de música, de cinema, de ratos, teclados, tapetes de rato, headsets e consta que também faço umas coisitas sobre videojogos, mas, como raios se analisa uma cadeira?
E mais importante ainda, como se analisa sobriamente um equipamento destes, sem que haja grandes directrizes a seguir ou conhecimento técnico específico sobre o tema? Pá… é uma cadeira. Tem luzes! Senhores, de um ponto de vista técnico, comunico-vos então que é uma cadeira. Que é de facto confortável. Apelida-se de “gaming”. E tem luzes.
Muito obrigado por terem acompanhado a nossa análise técnica. Agora vamos ao que interessa. Nunca me tinha feito falta. Mas enquadro-a na categoria do Netflix ou da internet de banda larga, ou de um smartphone. Não faz faltinha nenhuma. Até se ter tido por uns momentos. Aí, quando deixamos de a ter, já lhe sentimos falta.
Mesmo para um gajo como eu, a quem as luzinhas e perlimpimpins são completamente indiferentes. Agrada saber o detalhe com que as mesmas foram colocadas, com uma bolsa para um Powerbank para as alimentar lá por baixo. Não as vou ligar. O meu Powerbank serve para alimentar o meu sempre faminto smartphone em regime de quase exclusividade. Mas o pormenor da bolsa e da forma como as ligações são feitas é revelador de um critério de qualidade que transpira para aquilo que se espera de uma cadeira: conforto, ergonomia, segurança.
Convenhamos, é bonita, a moça. Toda preta. De assento mais largo que a minha velha companheira, com limitações sobre-elevadas para confinar a pernaça ali no seu devido lugar. Os apoios para os braços também são radicalmente diferentes. Menos intrusivos, permitem configurar a sua altura, adaptando-se bem às especifidades do corpo de cada um. No início, estranhei o facto de poderem ser rodados tanto para dentro como para fora. Mas a verdade é que faz sentido. Permitem uma maior acessibilidade à cadeira em lugares mais confinados – ainda que não seja o caso – e dou por mim a usar os apoios para braços em tarefas anteriormente inéditas, nomeadamente, o devido apoio para os braços ou o cotovelo. A ergonomia mede-se assim. Quando a coisa assenta tão bem que parece que nasceu para estar ali. No encosto, uma pequena almofada lombar amovível e outra, em formato de diapasão, para a cabeça. Sim, usei a palavra “diapasão” numa análise a uma cadeira. O Rubber é assim. A dita almofada dá para rodar e ajustar como nos aprouver. Se forem nabos como eu, usarão da mesma em várias posições, quer estejam a jogar um jogo mais intenso, quer estejam relaxadamente a rever no YouTube as cenas mais degradantes da Casa dos seg… um filme! Um filme. Ou uma série.
Certo é que a base de apoio é confortável e os ajustes apenas nos permitem equilibrar ainda mais aquele nosso espaço para criar um cantinho nosso, um refúgio acolhedor, confortável e pessoal, enquanto desbaratamos impropérios ao microfone e debitamos tiros despachando inimigos agarrados aos jogos de sempre.
Claro que são perto de 200€. E são 200€ que, em jogos, dariam para comprar um bom número de jogos que temos na lista de espera. E podemos considerá-lo um luxo também. Mas, e aqui diz-me a voz da experiência… é um luxo porque ainda não a usámos. Ainda não tivemos as nossas redondas nalgas devidamente acarinhadas a acolchoadas pela devida cadeira. Mas mais ainda… trabalho num sítio que, felizmente, reconhece um dos males de passar tempo em demasia sentado ao computador. A ponto de contratar alguém para, várias vezes por mês, visitar a empresa e tratar de massajar, endireitar, corrigir e acalmar as costas, os pescoços, e os músculos doridos de quem lá trabalha. Quando se passa muito tempo em frente a um computador, a jogar ou trabalhar, estas coisas que parecem um luxo deixam de o ser e entram de rompante na categoria do bem-estar. Na correcção de postura. Não têm impacto só durante o dia de trabalho ou numa sessão de jogo, mas também na forma como nos sentimos depois, à noite, ou no dia seguinte, ou na semana seguinte, até. Esta cadeira da Aerocool não é, de todo, barata. Está dentro de determinada gama de preços para cadeiras consideradas acessórios gaming. Mas tem o efeito de nos fazer repensar nas nossas prioridades. A mim, pelo menos, fez. E só por isso, já se recomenda uma alapadela experimental.