Caçada Semanal #146
Quando percorro os muitos cadernos de desenhos que tenho desde miúdo há algo que salta à vista: a forma descomprometida como temos ideias e as assumimos, sem receios das constricções sociais ou até do que é ou não politicamente aceite.
Para nós, em criança, não existem ideias parvas. Para alguns, em adultos, também não. É frequente olhar para muitos dos personagens que inventei em miúdo e sorrir por saber que a maturidade traz consigo o sacrifício da ingenuidade. Sejam eles personagens copiados descaradamente de outros existentes (coisa que até a Marvel, DC e Image sempre fizeram) seja por junções de coisas aparentemente desconexas que se ligam aqui, seja por coisas que hoje diria estapafúrdias mas que até têm piada.
Os 3 indies de hoje parecem abraçar essa ingenuidade salutar e pueril de bom grado. E ainda bem.
Bacon Man An Adventure
Parece que pouco há para inventar em 2D action platformers que não seja a ocasional introdução de mecânicas inovadoras ou da criação de settings perfeitamente díspares e que permitam ao jogo distinguir-se num sub-mercado onde tudo parece já ter sido feito antes.
Bacon Man: an Adventure é mais um caso de sucesso do Kickstarter, de um projecto bem-aceite em torno de .um personagem que podia ter saído daquele desvio abrupto que a cultura pop deu nos 1990s em direcção à loucura dos 1980s.
O titular personagem é um pedaço de bacon antropomórfico e dos seus companheiros Lard Lass, Feta e Pan. E sim, já que a temática de todo o jogo é uma espécie de luta contra a roda dos alimentos todo o enredo e os personagens são pequenos trocadilhos em torno de comida. O que inclui um ancião chamado Sau-Sage.
Um indie louco e divertido com um conceito estranhamente delicioso, feito para nos tirar a barriga de misérias de 2D action platformers.
Crazy Dreamz: Best Of
A entrega das comunidades para com os seus jogos de eleição é um elemento de respeito do mercado dos videojogos. Que o diga por exemplo a comunidade afecta a DOTA 2 que tantos jogos já criou utilizando a possibilidade de modding do jogo, alguns deles que até deram lugar a jogos lançados a título individual.
Crazy Dreamz: Best Of, para além do visual cartoon e colorido, e de bastante detalhado, tem um simpático protagonista felino que anda de espada em punho em mais um distinto 2D action platformer deste artigo de hoje.
Mas o que é que o distingue realmente? É o porquê de Best Of no título. Crazy Dreamz: Best Of orgulha-se de se vender como o primeiro jogo a incluir a totalidade de níveis (são 100) criados pela comunidade, em que o Dreamz Studio indica que 50% da faturação é redistribuída pela comunidade que criou estes 100 níveis.
Uma boa e democrática ideia, num jogo simpático que custa 9,99€, com um desafio e variedade interessante dentro do género.
Boo! Greedy Kid
As birras são daquelas coisas que toda a gente acha que são evitáveis quando não tem filhos, mas depois de os ter percebe que são tão naturais quanto a entrega das Finanças ou um Campeonato de Futebol em portugal cheio de casos. Por muita educação e auto-controlo que uma criança possa ter, há sempre momentos que, seja por cansaço ou feitio, lá vai descambar em birra, daquelas em plenos pulmões em que não sabemos para onde virar.
Boo! Greedy Kid é sobre isso, mas levado ao extremo. Neste 2D puzzle game controlamos um miúdo que tem tanto de mal-educado quanto tem de viciado em refrigerantes, cujo pai se recusa a dar-lhe dinheiro para os comprar. Depois de adoptada uma vida de birra e de crime cujo objectivo é conseguir, em cada um dos muitos níveis (em que alguns deles têm múltiplos pisos) apanhar dinheiro suficiente para comprar refrigerantes no fim do jogo. Pelo caminho temos de escapar à polícia e ir matando os restantes vizinhos com um berro de puto-mimado, e sobreviver.
Este é sem sombra de dúvidas um puzzle game interessante e desafiante, e acima de tudo com uma ideia diferente extremamente bem-executada. Este jogo tem tanto de casual como de uma ideia bem-conseguida, e que está na mesma esfera de jogos com ideias diferentes e interessantes como o de Level22 Gary’s Misadventure, em que temos de nos esgueirar pelo escritório atrasados sem que o chefe perceba.