Dead in Vinland , AKA, “I’ve got 99 problems and the gods are one“
Com lançamentos como God of War e o sucesso de Thor: Ragnarok e da série Vikings, parece que a mitologia e cultura nórdica estão de volta em força! Dead in Vinland do estúdio CCCP junta-se ao panteão numa tentativa de se demarcar do seu antecessor Dead in Bermuda, pedindo emprestado alguns elementos da rica tapeçaria nórdica para tentar melhorar os piores aspectos do jogo anterior: as personagens desinteressantes e com pouco desenvolvimento e a história desconexa.
Em Dead in Vinland somos encarregados de tomar conta de uma família viking que se viu forçosamente exilada da sua terra e se encontra naufragada numa ilha desconhecida. Eirik, Moira, Kairi e Blodeuwedd formam uma dinâmica familiar bastante cómica, mas que nos prende desde os primeiros dias pela sua simplicidade e intimidade. O nosso papel é explorar a ilha e construir um campo que nos permita enfrentar as dificuldades de sobreviver numa terra inóspita e hostil. Pelo caminho encontramos aliados, inimigos, deuses e toda uma parafernália de coisas que nos infernizam ou facilitam (a maior parte inferniza) a tarefa de sobreviver.
Trata-se de um misto de micro-management dos recursos disponíveis com exploração à base de choose your own adventure, onde os stats das nossas personagens decidem a resolução das escolhas que fazemos. No entanto o sistema é surpreendentemente profundo, com muitas variáveis e possibilidades diferentes. O jogo divide-se em dias, cada um com três fases: duas de dia e uma de noite. Durante o dia temos de planear as nossas acções cuidadosamente de forma a garantir recursos vitais como madeira (para manter a fogueira acesa), água e alimentos. Para isto temos de alocar diferentes personagens a várias estações no nosso campo. Todas as estações reagem diferentemente aos nossos stats e agravam ou melhoram estados como fadiga, doença, feridas e depressão, que, se chegarem a 100% causam a morte da personagem em questão. Se alguma das quatro personagens iniciais morrer, o jogo acaba. É uma mecânica que nos mantém sempre atentos e exige alguma capacidade de planeamento. Na terceira fase ocorrem discussões entre as nossas personagens, alterando as relações pessoais que podem conferir bónus ou reduzir os nossos stats, além de contribuírem para a capacidade das personagens efectuarem a mesma acção diurna em colaboração. Depois segue-se uma fase de distribuição de água e alimentos, em que temos de priorizar e decidir quem merece o quê e por que razões. Se vos parece fácil, acrescentem o facto de haver variáveis meteorológicas que nos danificam o campo e aumentam os nossos estados negativos exponencialmente. Ah! Ia me esquecendo que somos assediados frequentemente por bárbaros que nos pedem um tributo em diversos recursos. Nem pensem em negar este tributo. Eu experimentei e não correu bem…
“Fear not death for the hour of your doom is set and none may escape it.“
~Volunga Saga, c.5
Com tantas coisas a pesar contra nós, como podemos sobreviver? Bem, aqui entra a exploração da ilha e o sistema de upgrades do campo. Com uma boa gestão do ritmo de exploração da ilha, conseguimos descobrir cenários que nos ajudam com itens ou novas personagens, contribuindo para aumentar a riqueza do nosso campo, quer por aumentar o número de personagens disponíveis, ou pela descoberta de uma jazida cheia de recursos indispensáveis. Ao obtermos estes recursos, podemos aplicá-los a melhorar o nosso campo, quer com novas acções (caçar, pescar, cozinhar, forjar novos itens, etc…) ou a aumentar a eficiência dessas acções. Ao mesmo tempo que isto acontece, as nossas personagens vão evoluindo, ganhando traits benéficas e ficando mais capazes nas acções que lhes atribuímos mais frequentemente. Com a progressão do jogo, chegamos a um estado em que a sobrevivência começa a perder a prioridade e conseguimos dedicar-nos mais intensamente à melhoria do nosso campo e personagens, expandindo a nossa exploração da ilha e desbloqueando os segredos da ilha (incluindo vingarmo-nos dos bárbaros!).
O jogo conta com uma apresentação visual bela com cenários e personagens detalhados e um estilo bastante similar a banda desenhada. Além disso também tem uma banda sonora interessante, se bem que pequena, focada em gerar um ambiente de hostilidade e incerteza, mas também de esperança, o que gera uma experiência imersiva com um ambiente muito próprio. No entanto, existem vários aspectos do jogo que quebram a fluidez da experiência e nos frustram.
O combate é simples demais, com pouca variedade de acções e uma progressão limitada. Existe mais como um mecanismo para gerar alguma tensão ou sensação de ameaça do que propriamente como uma mecânica que contribui para o desenvolvimento do nosso campo. Além disso, embora as personagens sejam interessantes e nos façam lutar pela sua sobrevivência, a progressão da história é muito dependente de conseguirmos balancear uma exploração constante da ilha com as outras mil e uma coisas que ameaçam matar as nossas personagens. Para jogadores menos experientes isto leva a grandes períodos de tempo entre os momentos de recompensa em que sentimos que estamos a progredir. Entramos numa monotonia de sobrevivência da qual nem as mecânicas profundas e interessantes nos conseguem tirar, o que alonga muito o ritmo a que o jogo ocorre. Por sua vez, este arrastar da jogabilidade arrisca-se a afastar todos menos os fãs mais acérrimos deste tipo de jogo, que sabem tratar-se apenas de um momento em que a sobrevivência é mais importante do que a progressão.
Dead in Vinland é um jogo bem melhor do que o antecessor e, para todos os efeitos, é um exemplo bom do género, misturando um ambiente opressivo à la Darkest Dungeon, com mecânicas de sobrevivência e gestão de recursos suficientemente desenvolvidas, mas não opressivamente complexas. No entanto, é um jogo difícil de recomendar ao jogador comum, sendo necessário algum investimento de tempo, paciência e concentração para extrair o melhor que o jogo tem para oferecer. Se és fã do género e não te importas de jogos com um ritmo lento, então recomendo vivamente, pois oferece muitas horas de jogabilidade intensa. Dead in Vinland está na Steam a 19,99 € (17,99 € com 10% de desconto no momento da publicação).