Já fui muito mais fã de Star Wars que hoje. Não tem nada a ver com os filmes novos que não gosto, simplesmente preferia as que agora são chamadas Lendas do que os actuais. Salvo raras excepções. Gosto de, tal como em grande parte dos meus livros favoritos do antigo Expanded Universe, estar a acontecer um afastamento dos Skywalkers. Este afastamento é tratado de uma forma superior por Dave Filoni em Star Wars Rebels do que por J.J. Abraams e Rian Johnson nos filmes. Talvez porque Filoni já tinha um historial desde o filme de animação Clone Wars de 2008 e porque séries têm mais espaço para explorar. Neste caso literal e figurativamente. O universo é rico e dá para muita exploração, antes de cair nas mãos da EA tínhamos óptimos jogos Star Wars e eu Ia-me Esquecendo de fazer um artigo sobre o meu FPS favorito, talvez o único que gosto mesmo. Já muitas vezes falei de Star Wars: Republic Commando, mas pela primeira vez, vou entrar mais a fundo no seu mundo.

Primeiro e acima de tudo há que explicar a diferença entre um Clone Trooper e um Stormtrooper. Clone Troopers são soldados geneticamente criados e treinados em Kamino para preencher a falha de militares que a República tinha, são todos clones de Jango Fett, um caçador de recompensas Mandalorian. Stormtroopers são soldados que se alistam (voluntariamente ou não) ao exército do Império. Há uma diferença crucial na também em termos de treino e equipamento, mas aí já estaríamos a entrar num campo diferente. Gostava também de deixar aqui uma nota para pensarem acerca da quantidade de pessoas que os “heróis” de Star Wars mataram na destruição das duas Death Stars

Em Star Wars: Republic Commando vestimos a armadura de RC-1138 (Boss) o líder de Delta Squad, composto também por RC-1140 (Fixer), RC-1262 (Scorch) e RC-1207 (Sev). Cada um deles recebeu treino especializado para tornarem o seu quarteto numa máquina letal. Mais letal que as outras. Fixer é um hacker, Scorch especialista em explosivos e Sev um Sniper. Não querendo dizer que qualquer um deles ou Boss sozinho não consigam cumprir as funções uns dos outros, são simplesmente mais proficientes nestas funções.

Usando a estrutura típica dos FPS de 2005, quase num sistema on-rails, oposto aos cenários abertos de jogos mais actuais, Republic Commando conseguia ser diferente porque não era um jogo em que pudéssemos entrar à Rambo com armas a disparar por todos os lados até acertar nos inimigos todos. Aqui temos que ter um componente táctico de black-ops que os personagens carregam na sua criação e histórico. O facto de ter 3 companheiros (em parte das situações) também muda a estratégia de jogo, foi dos primeiros shooters que tive em que podia contar com alguém (apesar de ser inteligência artificial) que me ajudasse no caso de ser atingido e viesse com um medpack para me “ressuscitar” e também conseguiu que me preocupasse com eles. Sendo comandante do esquadrão e usando ao máximo as mecânicas de comando, podemos e devemos garantir a segurança de todos enquanto cumprimos a missão, sendo neste ponto que o jogo tem os seus maiores trunfos.

Fugindo dos Skywalkers mas mantendo-se dentro do rico universo de Star Wars, Republic Commando consegue dar-nos quatro personagens com os quais podemos empatizar. Conseguimos fazer mais que isso, criamos uma relação de companheirismo com eles que torna o final do jogo ainda pior.

(Peço desculpa desde já pelos pequenos spoilers que vou dar a quem nunca jogou. Se quiserem saltem a secção seguinte, continuem depois da imagem.)

Começamos o jogo sozinhos em Geonosis, para a primeira missão dos Deltas. Esta opção é mais mecânica que de enredo pois é para nos habituar aos comandos e funcionalidades, mas também para ir apresentando os Deltas um a um e as suas especializações. Quando conhecemos Fixer, é necessário fazer hacking a algo logo de seguida, quando Sev se junta ao grupo há uma posição de Sniper e antes disso tudo Scorch já tinha rebentado algumas coisas, contudo começamos a ver logo de início que eles não têm apenas habilidades diferentes, eles têm personalidades próprias. O seu comportamento, diálogos, atitudes são completamente diferentes, vemos que eles até podem ser clones mas são indivíduos, enquanto Scorch e Sev têm sentido de humor, Fixer é mais “careta” por exemplo. Este aspecto da personalidade é uma ideia continuada em Clone Wars e Rebels especialmente em Commander Rex. Esta ideia de que os clones têm personalidade própria pode dar-nos uma ideia interessante sobre a essência da humanidade e da criação, mas isso é conversa para outro dia.

Depois do sucesso em Geonosis continuamos com a Prosecutor Campaign, um ano depois e com os Deltas já mais coesos e fluidos como equipa. Na missão final no planeta natal dos Wookies, os Deltas são já uma entidade só, partida em quatro, quase como se fossem uma representação das quatro cores/personalidades do ser humano. Tal como as Tartarugas Ninja. Eles e as suas personalidades somos nós. Crescemos com eles, mesmo não tendo vivido todas as suas missões, acompanhamos o seu crescimento, a sua evolução.

Há um fechar de um círculo de enredo no jogo quando acabamos a última missão separados, tal como tudo começou. Infelizmente é também a última vez que os Deltas estão juntos pois a missão, apesar de ser um sucesso oficial tem um custo bastante pesado, tendo em conta que um dos membros fica para trás, mostrando que aos olhos da República os Clones são totalmente dispensáveis e o mais importante é a batalha, afinal eles foram criados para lutar e morrer, as suas personalidades e vidas eram indiferentes.

Republic Commando não é um jogo fácil, é um óptimo shooter com bastante que pensar. A inteligência artificial dos inimigos é muito superior ao normal mas isso talvez tenha sido porque a dos nossos companheiros também são muito acima do normal, tornando o equilíbrio quase perfeito. Se falha em alguma coisa é porque nos deixa a desejar mais, a querer viver mais histórias com estes companheiros de guerra, estes irmãos de armas.

Infelizmente Republic Commando ficou por ali, não teve sequelas apesar de uma ter sido planeada e posteriormente cancelada. Conseguiu dar-nos personagens e uma história interessantes e das melhores jogabilidades dentro do Universo Star Wars. É um jogo obrigatório que anos depois ainda consegue aguentar-se bem à luz de shooters mais modernos. Está disponível para Steam e pode ser jogado na Xbox, ou na Xbox One utilizando a sua capacidade de retrocompatibilidade a par de ambos os Battlefront, KotoR, Jedi Academy e Starfighter a partir de 26 de Abril.