Caçada Semanal #152

Talvez aquilo que mais admiro no mercado indie é a sua capacidade, possibilidade e arrojo de surpreender. Aliás, é essa capacidade e necessidade de surpresa que vão conseguindo destacar alguns excelentes títulos num mercado tão sobre-povoado que é uma quase surpresa que alguns jogos e estúdios resistam à distribuição do poder de compra dos consumidores.

Os 2 jogos que trazemos esta semana são dois desses casos. Dois títulos tão diferentes e que mostram esta necessidade de diferenciação dos títulos indie.

PC Building Simulator

No outro dia fui pesquisar vídeos no YouTube para aprender como aplicar massa térmica no processador do meu Raspberry Pi. Isto porque apesar dos muitos PCs que já tive na minha vida, nunca montei um desde a raiz, deixando os meus dotes de construtor de PCs para os meros momentos em que troco gráficas ou que colo novas memórias. Acho que o mais avançado que já fiz foi ligar uma ventoinha lateral, e mesmo assim tive de me assegurar que estava a ligá-la ao jumper certo. Diz-se jumper não é?

Para muita gente a capacidade de inovar é a resposta à frase cliché de pensar fora da caixa, mas PC Building Simulator não se limita a fazê-lo, como nos leva a pensar a caixa, que neste caso é a torre onde vamos colocar todos os componentes que um PC necessita. O trocadilho é meio parvo mas o simulador, surpreendentemente, não é.

Gostamos de simuladores, caso os nossos artigos aqui não o tenham já demonstrado. E se há muitos simuladores se limitam a “simular”, PC Building Simulator vais mais longe e consegue criar uma storyline e uma justificação narrativa para termos herdado uma pequena loja de PCs.

O realismo de toda a acção é tão grande que este jogo tem o apoio das grandes marcas de componentes. Para além de ser bem mais divertido do que eu próprio esperaria, PC Building Simulator tem uma camada pedagógica surpreendente, especialmente para quem, como eu, não domina a fina arte de montar computadores. O seu realismo e interligação com os componentes reais e as suas marcas transformam-no também numa excelente ferramenta de experimentação e aprendizagem em torno do mundo dos PCs.

PC Building Simulator, ainda em Early Access,  é o videojogo que toda a gente goza ou menospreza até ter a oportunidade de o experimentar e perceber que mais do que um simulador, existe aqui um jogo bem divertido.

GROOD

Quando a evolução do mercado (ou Deus, se acreditarem nisso) criou os shoot’em ups percebeu que eles respondiam a um tipo de desafio descomprometido em que queríamos testar a nossa destreza e reflexos sem termos de o fazer na vida real, onde a coisa é capaz de aleijar.

GROOD, à venda no Steam por apenas 2,49€ diz que tem uma história ali por trás apesar de eu não saber nem querer sequer ouvir qual é. Só quero mesmo mergulhar na componente de bullet hell a roçar tangencialmente o injusto que ele nos traz.

GROOD, o andróide protagonista, consegue receber uns quantos tiros antes de perdermos o jogo (coisa que vai garantidamente acontecer). Sem barra de vida presente, o único indicativo disto é mesmo o ecrã que vai ficando partido e estilhaçado, complicando-nos a visão, o que significa que para além de o jogo ser duro como ossos, à medida que vamos perdendo fica ainda mais difícil de distinguir através de um ecrã partido quais as partículas que nos magoam, e as que não.

Com um visual low poly mas com excelente inclusão de efeitos visuais de ciclos de dia e noite e clima, GROOD é extremamente difícil mas consegue trazer um desafio interessante com uma abordagem visual diferente do que se tem feito no género. Porque ainda é possível fazer algo diferente num género recheado de coisas iguais.