Caçada Semanal #154
Esta caçada não é uma apologia ao imperialismo ou ao colonialismo, nem sequer um elogio à Eurovisão (que descobri completamente por acaso no Facebook que já está a decorrer cá em Lisboa). Ou pior, um cruzamento dessas duas coisas a relembrar a música Conquistador dos Da Vinci, os Eurythmics à Gomes Sá que Iei-Or e o seu marido Pedro Luís nos agraciaram no final dos 1980s.
Os 2 indies da semana mostram-nos que é possível conquistar mundos de várias formas, sendo que uma delas passa por salvá-los. Não numa forma maquiavélica vilanesca de destruir algo para o salvar, mas de efectivamente tentar impedir a extinção do planeta.
Basta pensarmos que em diversas línguas a ideia de “conquistar alguém” passa por levar a que essa pessoa nos ame, ainda que muitos dos alvos da campanha #MeToo levem o verbo demasiado à letra.
X-Morph: Defense
O meu calcanhar de Aquiles com jogos de tower defense levou um valente ataque com o cruzamento inteligente de géneros que X-Morph: Defense trouxe para a mesa. Combinando elementos de top-down shooter com tower defense, a dificuldade dura de roer deste jogo desenvolvido pelos EXOR Studios demonstra-nos um caminho possível para um género que parece ter já esgotado a sua criatividade.
Se estamos habituados a repelir invasões inimigas dentro dos géneros (em separado) dos tower defense e dos shoot’em ups, neste X-Morph: Defense somos nós a raça invasora, fazendo aterrar núcleos independentes e inteligentes da nossa consciência colectiva em pontos chave da Terra para terraformá-la (passando a redundância) em usinas de prospecção da energia do planeta.
Visualmente é brilhante o quanto os seus criadores conseguiram puxar aos limites o detalhe das muitas unidades e estruturas que vão aparecendo e que vamos construindo no terreno de jogo. Elementos estes que nunca ficam ofuscados pela velocidade estonteante com que os elementos de top down shooter são jogados, com projécteis a preencherem o ecrã.
Com tanto a acontecer por todo o terreno, é a tensão e a espectacularidade das boss fights que vêm trazer um grau acima ao que estamos habituados a ver em jogos indie que costumam ter reconhecidas limitações técnicas e orçamentais. Ver os edifícios a ruírem à medida que os colossos dos exércitos humanos nos tentam destruir é um pormenor inesperado mas que ajuda a compor o “realismo” dos diversos ambientes das diversas missões.
Alternar entre as sequências de construção de estruturas e os momentos verdadeiramente imparáveis de shooting confere dois ritmos distintos e intersectáveis de jogabilidade, tornando X-Morph: Defense numa das melhores propostas de cruzamento de género com o qual tivemos contacto nos últimos tempos. E se até achamos que somos bons a jogar qualquer um dos dois géneros em separado, o desafio que X-Moprh nos traz é suficiente para repensarmos essas nossas qualidades.
Dominari Tournament
O tempo é a nossa moeda mais valiosa e o investimento desse valor que muitos jogos é incomportável para muitas pessoas que têm um tempo extremamente limitado disponível para jogar. Os 4X são provavelmente um dos géneros que mais exigem de nós nesse aspecto e que nos fazem mergulhar durante um tempo infindável em cada missão.
Dominari Tournament é um 4X com uma aura de casualidade (estranhamente enganadora) e que nos permite ter jogos altamente satisfatórios de 10 minutos. A forma como o estúdio Tiny RTS (nome apropriado para estes criadores) decidiram repensar o género e torná-lo o mais leve possível é evidente no seu recém-lançamento em Early Access.
Em Dominari temos o objectivo de conquistar sistemas solares, e para isso temos planetas que vamos descobrindo e que vão servir de rede estratégica e de criação de recursos e unidades do nosso império. À medida que o tempo vai passando podemos ir conduzindo essas unidades para outros planetas e colocá-los em circulação de forma a defender os nossos planetas periféricos, e preparar a investida aos inimigos.
Aqui a força está literalmente nos números, e é curioso que mesmo com um interface simples, com upgrades interessantes que nos possibilitam estratégias desafiantes, o simples acto de andar a arrastar e conduzir unidades de planeta em planeta torna este RTS 4X como uma das melhores apostas para fãs do género que não têm muito tempo para dedicar “a sério” à conquista espacial.