Nas palavras de H. P. Lovecraft “a emoção mais velha e mais forte da humanidade é o medo” e alguns podem dizer que a intensidade desta emoção associada ao instinto natural de sobrevivência culmina na razão pela qual ainda existimos. Contudo, o medo é subjectivo, e quando mal controlado, corre o risco de se tornar numa piada.
Há muitos sistemas que estão construídos em redor da temática do terror, tais como Call of Cthulhu e Dread. Para além das narrativas ricas em horror e suspense as próprias mecânicas ajudam a construir a tensão e o ocasional arrepio na espinha, seja através da medição de sanidade no primeiro ou o remover de um peça de uma torre prestes a desabar.
Mas enquanto que assustar as personagens é fácil uma vez que são elas que estão a experienciar tudo, o mesmo não se pode dizer dos jogadores. Não é a atirar monstros horrendos uns atrás dos outros que vamos conseguir criar o ambiente que procuramos. É necessário que tudo cresça naturalmente, idealmente, pela ignorância inicial das personagens e dos jogadores face aos perigos que os cercam, passando pela descoberta de acontecimentos estranhos e culminando na derradeira realização de que os seus maiores pesadelos têm uma forma física que quer a todo o custo manter-se viva.
Para ajudar o passo calmo de toda a narração, uma música ambiente adequada está na ordem do dia, e, para além dela, o silêncio absoluto. Da mesma maneira que sons assustadores repercutem reacções nesse sentido, também a ausência do som consegue transmitir a ideia de solidão e desolação.
A própria narrativa deve ser calma e fluída, procurando a riqueza no detalhe apenas quando é realmente necessário, sob o risco de os jogadores se “perderem” na quantidade de detalhes. Juntando estas peças todas, temos uma receita de sucesso para suores frios e batimentos cardíacos acelerados.
O terror é algo sempre presente, em nós e à nossa volta, nem que seja somente pelo medo do desconhecido. E para aqueles que decidem enfrentar o terror em todas as suas formas, é importante lembrar as palavras de Nietzche “se olhares para o abismo durante demasiado tempo, ele acabará por olhar de volta”.