Estamos em 2018. Já perdi a conta há quantos anos vou fazendo análises a headsets gaming. A maioria são bons. Uns são bons – ou até fantásticos – para o preço que pedem por eles. Uns são razoáveis, outros fracos. Mas, ao fim e ao cabo, finda a utilização da análise e algum tempo a tentar convencer-me, dou por mim, lenta e gradualmente, a regressar aos “meus”. Àqueles que tomei como meus, pese embora vá colocando uns no trabalho, outros no PC dos miúdos, outros na mesinha de cabeceira… Para jogar ou trabalhar no PC, tenho vindo, há anos, a recorrer a uns já descontinuados SteelSeries 9H. O microfone tem alguns problemas – capta muito baixo, como já poderão ter visto nas streams que aqui tenho feito – e a caixa do controlador do volume está com os azeites, que é como quem diz, volta e meia corta-me o som de um dos auscultadores e só andando lá a remexer no controlo do volume e dobrando o cabo em posições religiosas é que a coisa se compõe.

Não estão frescos como eram há uns anos. Mas são aqueles que melhor me servem em termos de som. A placa de som externa permite trabalhar o som dando um bom sistema Surround que, em determinados jogos, me permite identificar a origem de sons com uma margem de erro mínima, sendo que até falei disso na minha análise ao PUBG.

Estamos em 2018. E chegou lá a casa um headset que arrisca passar a ser essa confortável referência a que reverto em busca do meu lugar de conforto após aventuras e traições com outros aparelhos. Eu volto para ti. Falo dos SteelSeries Arctis Pro + GameDAC. O nome é extenso demais, eu sei, mas eu perdoo-lhe. Não tem daquelas cores estapafúrdias e ar garboso brilhante. Não, nada disso. É sóbrio, num preto robusto, sem invenções, embora disponha de iluminação própria e personalizável também. Com uma fita elástica por debaixo do arco a garantir o conforto do portador. Não parece muito, mas ao fim de umas horas de utilização apercebemo-nos da diferença.

A instalação requereu a leitura do manual, dado o número de cabos incluídos. Nada de complexo. Uma consola para ficar por cima da mesa, um cabo a ligar a uma porta USB do PC e a entrar nessa consola, um cabo da consola para o Headset e está praticamente tudo feito. As dúvidas que podem surgir advêm do facto de serem incluídos cabos e ferramentas para ligação a PlayStation 4, além de PC. Coisas positivas, portanto. Indispensável, é no entanto, actualizar o software da SteelSeries que possam ter instalado no PC ou efectuar a instalação do mesmo. Sem os drivers e a aplicação devidamente funcionais, há muito que se perde.

Mas o que se ganha, afinal?

Em bom português, um som do caraças! O isolamento é excelente, deixando de fora tudo o que não seja aquilo que queremos ouvir. O resto… é usar a consola para nos dar a mão e guiar pelo áudio pretendido. O essencial é escolher se pretendemos usar a ligação à PS4, ao PC “Normal”, ou ao PC com som de Alta Resolução. Antes que se perguntem porque raios é que alguém quereria ligar-se ao PC no modo Normal em vez de em Hi-Res, passo a explicar: determinadas componentes do sistema surround não estão disponíveis para o modo de alta definição.

Mas afinal, o que tem de especial essa coisata do Hi-Res? Bem… este é o primeiro headset gaming a ter esta certificação. Vou tentar explicar. Não se trata de um conceito propriamente consensual, e apenas recentemente a indústria aceitou mais ou menos o termo para algo que exceda a qualidade de CD, com bitrates de 24 ou superiores, com sampling rates de 96 kHz.

Assumindo que já tenham ouvido falar de bitrates de Áudio, aqui o velhote assistiu ao nascimento dos primeiros Mp3, e ainda fez muitos downloads no Napster com bitrates de 64kbps… coisas como os 128kbps vieram mais tarde e acima disso, como os agora ubíquos 320kbps eram um luxo. Pois bem, o MP3 é um formato tido como “lossy”, ou seja, há perda de qualidade áudio na sua compressão. Passa virtualmente imperceptível à maioria, sobretudo pelo hábito, dirão alguns. E concorda-se, em parte. Mas ouvir uma música a 64kbps é diferente de ouvir a mesma música a 128kbps ou 320kbps, certo? Notam-se diferenças. Pois bem. Aí o que está em causa é quem perde menos em relação ao som original. No Lossless, isso é uma não-questão. Não há compressão. Não se perde nada do original. Nadinha. Nem uma migalhinha fora do prato. Então, deixamos de usar bitrates e passamos a definir o áudio pela sua sampling rate e pela bit depth.

 

Sampling Rate

O Áudio digital consiste em inúmeros “pontos de dados” que são reproduzidos de forma extremamente rápida. A exemplo do que acontece no vídeo, com a sobreposição rápida de imagens a simular o movimento, o som digital faz o mesmo, mas, em vez de “fotografias” de imagens, são… “fotografias” de som. Samples. A taxa de Samples mede-se em Hz e diz-nos quantas destas “fotografias” são lidas por segundo. Assim, quanto mais alta a sampling rate, maior é a resolução do áudio.

O som de um CD usa uma sampling rate de 44.100Hz. Coisa bonita, huh? Pois bem, o formato Hi-Res usa 96.000Hz ou mais, por isso… embrulha!

Bit Depth

O Bit Depth diz-nos basicamente quantos bits são usados para construir cada sample. Quanto mais bits houver, maior é o detalhe. Compare-se a coisa a ver um canal de televisão normal e depois ver a coisa em HD.

O som de um CD tem 16 bits por sample. Os formatos Hi-Res têm, no mínimo, 24. Isto aumenta então a profundidade e o detalhe de cada amostra. Para os amantes do género, é possível encontrar som de alta fidelidade em formatos como FLAC ou lossless WAV. No entanto, é raro encontrarmos jogos que disponibilizem áudio em Hi-Res. Isso, em parte, ajuda a distinguir os modos PC e PC Hi-Res que o headset disponibiliza.

Satisfeito? Elucidados? É a explicação possível de quem não é, de todo, especialista na matéria, mas foi consultar umas coisas para tentar explicar a diferença que se verifica entre o Áudio normal e o Hi-Res e, sobretudo, o impacto que uma engenhoca destas tem para um tipo como eu. É natural que tenham mais questões e há muito para ler e estudar sobre o assunto. Muito mesmo. Mas, no final, o que me interessa aqui exprimir é a experiência enquanto potencial comprador. E essa… é do caraças.

É que o formato Hi-Res não implica, por si só, que seja possível ouvi-lo com qualquer equipamento. O certificado Hi-Res atribuído a estes Arctis Pro garante que o DAC (Conversor Digital Analógico) consegue processar 96 kHz, 24 bits e que tanto o amplificador como os headphones conseguem fornecer som com frequências até aos 40.000 Hz, por oposição aos 24.000  Hz que a generalidade dos headsets gaming oferece.

A qualidade do som é, então, ponto assente e incontornável. A consola – de seu nome GameDAC – pode ser colocada em cima da mesa e permite-nos acertar inúmeras opções, desde o balanço dos graves e agudos até ao volume de saída. Mas faz mais que isso. Está, por via do software da SteelSeries associado ao equipamento, integrado com o Discord e com alguns jogos, o que faz com que o ecrã do GameDAC apresente informações relativas ao jogo que estou a jogar, caso configurado para tal e disponível, e apresenta também informação relativa a quem está a falar a dada altura, no servidor de Discord onde me encontro. É gimmicky. No calor da refrega de um jogo mal temos tempo para desviar os olhos do ecrã, mas é interessante o detalhe e, em alguns casos, útil. Útil é, também, o ChatMix, facilmente acessível através do GameDAC, para equilibrar no ponto certo o volume dos jogos e do Discord. O aparelho vai mais longe e oferece também um Stream Mixer, para nivelar o som que pretendemos seja injectado na Stream que estejamos a fazer, nas proporções desejadas. Enfim, há uma panóplia de definições e configurações ali na mesa, ao lado do teclado, para regular com dois dedos apenas. Simples, útil, empowering.

Um dos pontos fracos que poderia verificar-se (e que, fruto da idade ou do conceito, vão atacando os meus velhinhos 9H, coisa que vou reparando sempre que os uso no Discord por força das queixas que ouço acerca da minha voz sempre que os uso) era o Microfone. Mas aqui, nada a dizer. Só louvores, até agora. Alguma irritação inicial, devido ao facto do Sidetone (aquela funcionalidade irritante de ouvirmos nos nossos auscultadores aquilo que falamos ao microfone) estar constantemente a ligar-se sozinho. Mas isso resolveu-se com a actualização do software da SteelSeries, para alívio dos meus nervos. Em todo caso, aquilo que testei e, sobretudo, aquilo que me faz chegar quem comigo priva nos diversos servidores de Discord por onde vou passando quando jogo (já passaram no do Rubber Chicken? Temos coisas porreiras por lá! Venham! Venham jogar connosco!), é uma qualidade inatacável no som captado. Para registo, que conste que é um Microfone Clearcast Bidireccional. Poderá ser importante para alguns que nos estejam a ler. Para mim, o aval final é dado por aqueles que me aturam nos servidores, e esse é claramente favorável.

Concluindo…

Pois bem. E coisas más? Há? Há. Quer-se dizer, não, não há. Mas há. Não há nada de errado com o headset, repare-se. Nada. Tudo o que nele temos é do melhor que experimentei até agora. Ergonómico, com um sonzaço do caraças, DAC dedicado, bons graves, fenomenal para ouvir som de qualidade…. a parte menos boa? Tudo tem um preço. E um produto destes não é, definitivamente, para todas as carteiras, a custar mais de 250€. Não consigo, com sinceridade, julgar a relação qualidade-preço deste equipamento porque é, sem dúvida, o melhor headset gaming que alguma vez tive nas mãos. Não ousarei dizer que são os melhores do mundo, da galáxia e arredores. Mas são, pelo menos, os melhores de entre as várias dezenas que tenho experimentado ao longo dos anos. E que preço é que temos como justo para os melhores?… Pois.

Pelo que o que diria era mesmo isto: não têm grandes limitações de orçamento e querem comprar o absolute best dos gaming headsets, compatível tanto com PC como com PS4? Comprem um destes.