Bons dias meus queridos alunos. A aula de hoje volta ao esquema de pedidos para encontrar jogos. Mais ou menos.

Professor, precisamos de ajuda

Sou bombeiro voluntário e no quartel temos por aí consolas para nos distrair de vez em quando. No outro dia, estávamos a falar porque não há jogos sobre ou com bombeiros ou protecção civil em geral. Há jogos que podemos ser detectives, há jogos que podemos ser bodes, ou árvores, porque não bombeiros?

A questão é: Há jogos de bombeiros?

Zé Carlos

Obrigado pela tua pergunta no geral e um muito obrigado a ti e todos os que garantem a nossa segurança muitas vezes sem recursos nenhuns e com bastante sacrifício pessoal em particular. Infelizmente a população geral só se lembra que existem quando é preciso, e ignoram-vos a maior parte do ano.

Infelizmente nos jogos passa-se o mesmo. Por alguma razão os game developers/publishers acham que simular um soldado da paz não é tão glamoroso ou pelo menos tão rentável como um soldado de guerra. Tal como no mundo real, mesmo sem guerras activas nos últimos anos (esperemos que assim continue) no nosso país e em muitos outros os orçamentos para as forças militares são muito superiores aos da protecção civil. A própria estrutura do jogo FPS era fácil de colocar em prática num jogo de bombeiros como é exemplificado por Real Heroes Firefighter.

Infelizmente a natureza humana na vida real e nos jogos é mais agressiva que gostaria que fosse, devido a isso os jogadores preferem andar a matar-se uns aos outros do que apagar fogos ou fazer algo amigável. Se fizessem um Harvest Moon ou Stardew Valley que permitisse interacção “fisica” entre jogadores garanto que mais de metade deles andaria a dar com enchadas e pás nas cabeças uns dos outros enquanto diziam “Isto é PvP, não gostas vai jogar outra coisa”. É tão certo como ver construções fálicas se o jogo permitir isso.

Dito isto, e pedindo desculpa pelo pequeno desabafo acima, existem excepções. Para mim duas em particular do fundo do baú.

Na lista de jogos da Rare para a Nintendo 64 encontram-se alguns dos melhores da consola, como Golden Eye, Donkey Kong e Conquer’s Bad Fur Day, contudo esquecido no tempo está um que vendeu mais de um milhão de cópias em 1997, Blast Corps.

Admito que não é um jogo de bombeiros, mas é da protecção civil. Mais ou menos…

No jogo há um veiculo sem travões que carrega uma arma nuclear, se bater em algo rebenta, numa bela nuvem cogumelo que irá obliterar tudo num raio de quilômetros. O jogador controla os veículos da Blast Corps com a função de limpar o caminho da bomba. Está certo que não é o que seria esperado, mas muitas vezes a destruição de algumas coisas é o caminho mais viável para a segurança de todos, como muitos bombeiros sabem.

Blast Corps é extremamente divertido apesar de ter sido relativamente complicado quando foi lançado. Usando uma perspectiva isométrica e um sistema semelhante a clássicos como micromachines fugia ao clássico dando-nos controlos diferentes para cada veículo que incluíam entre outros um camião e uma espécie de fato exoesqueleto, exigindo que o jogador tivesse uma curva de aprendizagem maior, mas ao mesmo tempo mais recompensadora no final.

Também esquecido no tempo e igualmente genial temos um jogo de bombeiro puro, numa vertente Sci-fi/futurista.

Em 1998, a Sonic Team apresentava Burning Rangers, para a Sega Saturn precisamente usando como base o conceito de um jogo em que se salvam pessoas em vez de as matar.

Burning Rangers passa-se num mundo utópico em que fogo é o único perigo, os Rangers são os heróis desse mundo, munidos de jetpacks e extintores são chamados para acabar com os fogos.

Inspirado em Nights Into Dreams (feito pelo mesmo estúdio) passa a grande jogabilidade para um campo de 3ª pessoa mantendo as acrobacias características do seu antecessor. Os níveis tinham dois objectivos principais, apagar fogos e salvar civis. A melhor parte do jogo era como encontrar os civis em perigo, porque éramos guiados pelo som, como que os primeiros passos ou inspiração para o que vieram a ser as experiências de som binaural.

Infelizmente nunca repetiram o jogo ou o seu conceito, talvez um dia possamos vir a ter jogos que honrem os melhores dos humanos, mas para já Zé Carlos, não me parece que vá ser o caso.

Mais uma vez obrigado, até daqui a duas semanas.

Podem enviar as vossas questões para perdidosemachado@gmail.com