Ando a rever Dragon Ball Z com o meu filho e só há dias terminámos a famosa saga do Frieza. É engraçado como a memória nos trai, e algumas das formas intermédias do vilão já tinham ficado lá num cantinho escondidas, o que inclui aquela semi-transformação que ele faz depois do Son Goku chegar pela primeira vez a Super Guerreiro e dar-lhe uma valente tareia. Quando tudo parecia perdido para ele, eis que começa a inchar como se andasse a dar nos batidos de proteína e em injecções de sémen de cavalo de forma compulsiva, e alcança uma forma “final” todo musculado que não fossem as suas pretensões galácticas quase que o deixariam pronto para entrar directamente num reality show da TVI. Por alguma razão, e no meio de tantas formas “definitivas” do Frieza, algumas delas são como se nem tivessem existido na minha mente.

Há quase 4 anos (o tempo realmente voa) a injustamente malograda Wii U via chegar um dos exclusivos que prometiam trazer para a ribalta o interesse do público com a consola doméstica da Nintendo. Hyrule Warriors, o cruzamento da saga The Legend of Zelda com Musou, os famosos jogos da Koei Tecmo conhecidos no Ocidente como Warriors e que já aplicaram a sua fórmula de hack ‘n slashing a diversas franquias conhecidas, chegava ao mercado para o gáudio dos fãs da Nintendo. 

A ideia que tinha então em relação a Hyrule Warriors manteve-se e cumpriu-se. O casamento das duas linguagens foi perfeitamente conseguido, e até conseguiram de forma inteligente pegar no mythos hyruliano e adaptá-lo a uma identidade completamente diferente. Mas gostar de jogos “tipo” Warriors não é coisa para todos e dificilmente este seria um título que serviria de must-buy a uma plataforma como a Wii U, como Breath of the Wild poderia ter sido não tivesse sido lançado como descargo de consciência durante o surgimento da Switch.

Dois anos depois seria a vez do João, cujas exéquias um dia dirão que é um dos maiores fãs de Zelda conhecidos pela Humanidade, acabariam por indicar também isso no port do jogo para a 3DS.

Nesta altura já se sentia a aura de contenção de danos que a Nintendo sentia em relação às fichas colocadas na sua consola doméstica. Um excelente catálogo de brilhantes exclusivos “inacessíveis” a muitos jogadores que não tiveram a vontade de investir na Wii U. Não que os consiga criticar com tantos erros estratégicos e comerciais que a Nintendo teve em relação à sua consola, que ditaram um fim imerecido a uma das consolas com exclusivos mais fortes de que há memória, mas a Wii U merecia mais do que teve da parte dos consumidores, e acho que o tempo um dia lhe fará a devida justiça. Afirmo sem qualquer problema que em termos de exclusivos, a Wii U tem um número maior de jogos excelentes do que a sua antecessora que foi o sucesso que todos sabemos.

Mas definir hoje como exclusivos esses jogos que foram originalmente lançados na Wii U já não é bem verdade. Uma parte de mim compreende, aceita e até acha salutar este “esforço” da Nintendo em transladar esses jogos para plataformas com mais massa crítica e que os possam verdadeiramente usufruir como eles merecem. Numa militância pela massificação de objectos de qualidade este é o passo certo a dar. Mas não consigo traçar a linha onde esta prática comercial se excede.

Este Hyrule Warriors Definitive Edition inclui todo o conteúdo lançado em DLCs na primeira versão e o conteúdo adicional da segunda, mas parece-me que o update visual para as potencialidades da Switch ou o facto de reunir tudo o que existe deste spinoff numa edição só está mesmo a piscar o olho a todos aqueles que ainda não o jogaram antes. A única forma de compreender este terceiro lançamento em quatro anos de Hyrule Warriors é vê-lo como uma espécie de derradeira hipótese a todos aqueles que “saltaram” a Wii U e a 3DS. Mas apenas para esses.

Para todos os outros esta terceira tentativa já me parece ter ido longe demais. Num espaço de 4 anos lançar o mesmo ex-exclusivo em 3 plataformas subsequentes é mais uma aula ministrada pela Capcom do que aquilo que a Nintendo nos habituou, na sua aposta no risco e na criação de novo e excelente conteúdo. Mas como a carteira de cada um é a da sua própria responsabilidade, investir ou não nesta Definitive Edition depende da decisão de cada consumidor.

Quase 20 anos depois do final de Dragon Ball Z, o mundo viu Frieza a regressar num dos filmes oficiais com uma nova forma, desta vez ainda mais poderoso e dourado. É possível que seguindo a tónica do mercado e o hábito de todas as restantes companhias, que em 2038, se a Terra ainda existir, que possamos ver chegar à Nintendo Wii Z ou lá o qual for o nome da consola ou plataforma de então uma Hyper-Definitive Edition de Hyrule Warriors, a comemorar o 15º port do crossover com a Koei Temco, dando a oportunidade aos nossos netos de o jogarem. E já agora um novo filme de DBZ, onde Son Goku atinge um nível de Super Guerreiro com cabelo rapado, e o Frieza transforma-se na sua forma mais violenta e poderosa de sempre: o Rúben Dias.