Deixem já aqui fazer um preâmbulo: eu adoro feiras. Provavelmente o meu gosto por feiras é apenas ultrapassado pelo Paulo Portas, e desde pequeno que estes tradicionais ajuntamentos comerciais efémeros fazem parte da minha vida, especialmente a Feira do Relógio (que era perto da casa onde cresci) e a da Ladra, a qual ainda hoje gosto de ir.

Mas todos sabemos que a ida às feiras tem no bico uma de várias situações: ou vamos comprar fruta e legumes, ou coisas em segunda mão ou material “menos” original, que é como quem diz, “cenas da feira”. E para quem jogou Bullet Witch é isso que sente mas mais ao menos ao contrário. Sendo este jogo originalmente de 2006 e Bayonetta de 2009, é como se aquelas maravilhosas calças de fato-de-treino da Odidos que compraram na Feira da Brandoa tivessem sido feitas antes das da Adidas.

A tentar cavalgar a onda de nostalgia recente que tem feito uma vaga de remakes, re-releases e remasters, uns mais desejados do que outros, Bullet Witch parece um daqueles relançamentos que pouco sentido fazem. Mesmo que a editora o apelide como “uma forma de uma nova geração de jogadores de conhecer pérolas “antigas””, a qualidade que o jogo sempre teve cria tanta necessidade de um re-relançamento como alguém querer fazer um Best Of da Maria Leal.

Quando um jogo de 2006 consegue parecer um mau jogo de 2001 isto já quer dizer muito. E não é só aquele preciosismo atroz como se 5 anos não fizessem qualquer diferença. Olhem para o início do milénio e para o 3D que se fazia. Olhem para 2007 e vejam o salto tremendo que já tínhamos conseguido e nem era preciso o Crysis para o comprovar. Agora olhem de novo para o Bullet Witch e sintam toda a sua falta de esplendor.

É engraçado que quando pensamos em bruxas e armas o ambiente multi-colorido (mesmo em cenários mais escuros) e over-the-top de Bayonetta nos salta logo à cabeça. Bullet Witch é isso mas se o jogo desenvolvido por Kamiya e companhia tivesse sido regurgitado entre um pai pássaro para o bico de um filho pássaro.

Alicia, a protagonista, é uma bruxa, mas a sua vassoura é uma arma e uma varinha para criar encantamentos e invocações, como um canivete-suiço da bruxaria. É pena que um jogo tão medíocre quanto este tenha uma protagonista que teria margem de progressão com os seus exageros tivesse ela sido criada com mãos mais talentosas e mais corajosas de fazer algo novo e diferente. Basta ver o caminho ainda mais longínquo para onde Bayonetta conseguiu chegar e percebemos que Alicia era um candeeiro brilhante no meio de esferovite impregnada de lama, e que pouco conseguiria crescer num ambiente tão estéril quanto o jogo que a rodeia.

Os inimigos parecem versões cor-de-rosa dos soldados de Rogue Trooper e a falta de imaginação e repetição a que este third person shooter nos obriga faz-nos rapidamente questionar o pessoal da XSEED que achou que de entre o catálogo da defunta Cavia deveria ser Bullet Witch a merecer um port para PC, mais de dez anos do seu falhado lançamento inicial?

Onde a maioria dos third person shooters nos agarram pela espectacularidade e pela diversidade e criatividade de mecânicas associadas a um género muito circunscrito, Bullet Witch é mecanicamente aborrecido, obrigando-nos a atravessar um tremendo corredor passado num cenário tão vazio e desinspirado que jogá-lo num fundo verde de wireframe seria praticamente o mesmo.

Poderia haver algum potencial na utilização das magia e invocações de Alicia, mas o resultado é tão conservador e limitado que só lhe poderemos dar o eventual valor de poder ter servido de lampejo de inspiração para o que a malta da Platinum Games faria com Bayonetta ou como exemplo do que não deviam fazer.

Talvez este port faça sentido apenas a quem jogou na Xbox 360 e gostou do jogo, mas visto a ausência de diferenças sem ser a inclusão de todos os DLCs, não consigo perceber o porquê de alguém querer investir 14,99€ neste jogo. Só assim de repente consigo pensar em dezenas de melhores maneiras de gastar esse dinheiro, e duas delas envolvem comprar ténis da Reboke na Feira da Brandoa.