Caçada semanal #161

Rednecks, esse momento nada arbitrário da vida dos norte-americanos que como em quase tudo o que acontece naquele país, é uma versão extrema do que existe noutros lugares. Os rednecks até eram uma caricatura engraçada com o qual crescemos, e que foi serviu para nos dar uma imagem da América profunda, mas por outro lado foi exactamente isso que ajudou a eleger um “monstro” como o Trump. E nem precisamos de mergulhar em Far Cry 5 para pensar no potencial nefasto da ignorância e o extremismo do isolamento dos rednecks.

Mas agora num tom mais suave: os 3 indies que trazemos esta semana podem ter a malta mais provinciana dos EUA como algum pano de fundo, mas são muito mais ligeiros do que qualquer ilação política que quiséssemos ou pudéssemos tirar. Ao contrário do que é habitual, nem todos os jogos desta caçada são recomendáveis, aliás, o primeiro é, o segundo é assim-assim e o último é para fugir a sete pés como uma pessoa normal da consanguinidade.

Porém, uma nota de desagrado: a tradução habitual de redneck faz sentido histórico como “saloio” mas a realidade americana já está a tantos anos de distância que nem vale a pena equivaler uma coisa à outra.

Immortal Redneck

Tentar explicar o conceito de Immortal Redneck é automaticamente localizá-lo no tempo e no espaço, ainda que vos tenhamos de lembrar que apesar dos indícios em contrário, este jogo saiu há poucas semanas. Em Immortal Redneck somos um redneck (surpreendidos?) que capota o seu veículo no deserto e é ressuscitado como uma múmia. Daí a andar de arma em punho a percorrer uma série de cenários a matar tudo o que mexe é um passinho. Quase tão grande como termos um desmiolado a ser eleito Presidente dos EUA. E eu ainda nem estou a antever o Kanye West na Casa Branca.

Apesar dos laivos de roguelike, o espírito de Immortal Redneck é o da loucura dos FPS dos 1990s, cujo conceito e ideias não faziam sentido nenhum nem precisavam de fazer porque tudo o que queríamos era rebentar com coisas. E à falta de termos a nossa equipa de futebol ali à mão, qualquer coisa servia. Estou a brincar é claro. Não só condeno qualquer tipo de violência como acho que os únicos locais onde esse extravasar de testosterona e fúria são aceitáveis é mesmo no mundo controlado do ambiente virtual dos videojogos. E para isso Immortal Redneck é perfeito.

Cada vez que morremos podemos gastar as moedas que apanhámos a fazer upgrades na skill tree e evoluir o personagem para que vamos um pouco melhor preparados para a próxima luta. Um pouquinho pelo menos, já que Immortal Redneck sabe que vamos morrer muitas vezes e isso até é parte da diversão.

Zombie Derby

Será que algum dia alguém irá fazer um jogo de sobrevivência num apocalipse zombie sobre jogos de apocalipse zombie? Fez sentido? É que grande parte dos jogos do género também já deixaram de fazer há muito. Zombie Derby é um deles, e não podia ser mais óbvio que este jogo foi originalmente feito para mobile.

Com a sequela lançado há poucos meses, este primeiro jogo criado pelo estúdio Brinemedia de 2013 é um endless runner em que a gasolina obriga a que as nossas viagens tenham fim fazendo dele um endful runner? Não sei. Com camiões armados até às rodas, o nosso objectivo é chegar o mais longe possível com o combustível que temos no depósito e atropelar zombies pelo caminho. A ordem pela qual o fazemos é inteiramente da nossa responsabilidade.

Com um preço baratinho (até mais barato do que alguns desavergonhados ports de mobile para PC) Zombie Derby tem até bastante conteúdo dentro das suas possibilidades de upgrades aos componentes do nosso veículo. Simples na ideia e na jogabilidade e óptimo para momentos de relax sem precisar de pensar muito, um jogo mediano mas “engraçadito” pela customização. Ao bom estilo redneck.

Great Hunt North America

Armas. Aquilo que muitos americanos gostariam de ter implantado no lugar dos genitais se isso fosse possível. Poucas coisas conseguem representar melhor os americanos do que as armas, e é possível que a taxa de antivaxxers fosse mais baixa se as vacinas fossem dadas com espingardas.

Diz que a caça recreativa é uma coisa divertida, e Great Hunt North America tenta provar-nos isso com um jogo tão ridiculamente mal-feito que quase nos convence do contrário numa postura que é mais paródia do que coisa séria.

Os cenários são praticamente todos iguais, horríveis, vazios, e os animais são tão realistas quanto uma dramatização de notícias da CMTV. Mecanicamente se fosse um bocadinho mais horrível poderia ganhar um prémio de mediocridade, mas acho que os falhanços de transpor o realismo da caça dá-lhe igualmente uma aura de paródia que lhe assenta tão bem.

Dar headshots a animais a uma distância imensa com chumbos de caçadeira ou faz de mim o melhor jogador de FPS de sempre ou há algo que falha muito em Great Hunt North America. Esperem, eu disse algo? Queria dizer tudo. É que nem falei do quão caricaturalmente horrível é o nosso cão de caça, que me fez lembrar há uns anos em que me mascarei de Tintin e levei como companhia um Milu que era feito de um molho de algodão com duas gotas de tinta-da-China a fazer de olhos. E mesmo esse cão de algodão que se desfez com a chuva dessa noite era mais interessante do que isto que aparece neste jogo. Se querem experimentar a caça (pelo menos de forma virtual) apostem num theHunter: Call of the Wild e mantenham-se longe deste Great Hunt North America. A menos que (sem julgamentos) a vossa família tenha sido uma adepta fervorosa da consanguinidade e achem que gastar dinheiro com maus jogos de caça é uma coisa porreira de se fazer.