Eu gosto do meu trabalho. Deste, do meu emprego nem por isso mas paga-me as contas e permite que tenha um estilo de vida onde posso fazer isto, mas por mais que goste dele dar uma opinião sobre jogos como Heat Guardian é sempre uma tarefa um bocado ingrata.
Nos quase 3 anos que já escrevo para o Rubber Chicken passaram-me pelas mãos umas duas centenas de jogos, quando acrescentamos a esses um histórico de mais de 30 anos de jogador implica que tenho um background relativamente extenso em várias gerações e estilos de jogos, ultimamente o meu foco maior saiu dos AAA que toda a gente joga e passou para o mercado indie, contudo há indies e há indies, e quando estamos a olhar para eles de uma forma profissional, não podemos medir todos pela mesma bitola. Nunca perdendo a isenção que tentamos ter ao escrever um artigo, não podemos simplesmente olhar para todos da mesma maneira, é por isso que a minha visão de Heat Guardian é parcialmente deturpada não consigo tirar da cabeça que tudo neste jogo é produção de uma só pessoa.
Denis Rudoi é o criador do jogo a 100%, portanto é impossível exigir que ele tenha a mesma proficiência, velocidade ou conhecimento para corrigir algumas das maiores falhas técnicas do jogo porque ele é só um homem, vivendo um dia de 24 horas tal como nós todos, e se todos sabemos que fazer algo com mais pessoas é complicado (seja ou não um jogo) podem imaginar que corrigir e optimizar falhas gráficas, dar várias opções de resolução ou vários tipos de controle podem ser muito complexas, não dando tanta importância ao que o jogo é e se não o comparar excessiva e injustamente a outros jogos Heat Guardian é um top-down shooter decente que se pode comprar por €9.99 no Steam.
O objectivo neste Heat Guardian é sobreviver, algo banal tendo em conta a maior parte dos jogos não fosse o revivalismo de algo que eu apreciava bastante nos bons Resident Evil (original e 4) e algo mais interessante ainda. Dos Resident Evil há a questão de limite de recursos, ao longo dos tempos fomos perdendo isso, mas no primeiro quando até os saves eram limitados e no 4 em que tínhamos que organizar os nossos recursos naquela caixa, algo que sempre considerei dos melhores mini-jogos involuntariamente criados de sempre. Passei horas a mudar caixas e sprays, ervas e armas de horizontal para vertical para conseguir tirar o melhor proveito de tudo. À falta deste mini jogo, Heat Guardian continua a dar-nos aquela sensação preocupante de falta de algo. Quando estamos a ser atacados pelos mutantes que habitam este mundo a nossa tensão não está só em matá-los. Temos que matá-los antes de acabarem as balas e temos que encontrar mais balas antes que apareçam mais mutantes, é uma pressão constante que é minimizada tendo em conta a maior ameaça de todas. O nosso ambiente.
O mundo está gelado, portanto não temos que sobreviver só aos mutantes, temos que sobreviver ao ar gelado que nos suga a vida aos poucos, andando de fogueira em fogueira, encontrando combustível para o nosso aquecedor portátil. Há um ar gelado de filme de terror bem trabalhado neste jogo, mesmo com uma aparência simples quase reminiscente de top-down shooters dos finais dos anos 1980 mas um cuidado elaborado em termos de ambiente. Ameaças constantes na escuridão, gestão de armas e recursos, e tudo isto com um braseiro às costas.
É-me difícil dar uma opinião concreta sobre Heat Guardian se o comparar a outros jogos fica aquém de muitas produções mesmo com muitos pontos a seu favor, mas por outro lado quando sabemos que a sua produção é feita por uma espécie de one man army custa não recomendar apoiar o criador, portanto vou-me abster de mais comentários e deixar que decidam por vocês e se comprarem o jogo digam de vossa justiça.