Logo pelo título devem pensar que estou com delírios de grandeza, mas eu sei que a malta da EA lê atentamente o que andamos aqui no Rubber vai dizendo. Não acreditam? Olhem só para aquele like maroto da conta oficial da EA no artigo que o Nuno escreveu pouco depois de ter saído da conferência em Los Angeles.

EA: nós sabemos que tu sabes que estás sempre de olho nas coisas que sabemos e dizemos.

Agora num tom mais sério: como puderam ver pela nossa transmissão em directo, houve uma série de pontos em que gostámos mais desta EA do que a EA que tem sido nos últimos anos. Convenhamos, se há empresa que andou a remar no epicentro da tempestade foi esta, com a sua grande polémica corporativa das loot boxes a causar vagas contrárias de vários sectores geopolíticos. Algo que praticamente nenhuma empresa se quer orgulhar de fazer.

Os videojogos são cultura, mas são sobretudo um negócio de centenas de milhões. A EA é uma corporação gigantesca e o seu objectivo primário é a obtenção máxima de lucros. Eu acredito que a empresa fez o que qualquer uma num sistema capitalista faria: esticar a corda até esta rebentar. E eu acho que rebentou. E ao rebentar ainda partiu uma ou duas paredes, fez ruir o tecto e rachou o chão. Urgia mudar a tendência, alterar a opinião público, e desviar ligeiramente o rumo do negócio.

Há vários anos que falo do quanto o mercado, e nós consumidores e media mudámos. Se há mais de uma década a ideia de vendas de jogos digitais era algo que dava uns passos ainda tímidos com muita gente a julgar que nunca iria singrar, hoje a ideia de pagar uma subscrição para ter acesso livre a conteúdo é algo perfeitamente ajustado às nossas gerações. Não sei quantas vezes já referi em público, em apresentações e artigos que para mim o caminho do negócio da Electronic Arts passaria por um step up do seu já excelente serviço de Origin Access, permitindo que os títulos actuais ficassem disponíveis para os seus subscritores.

É fácil falar mal da EA, muito por culpa de si mesma e de facilmente se “pôr a jeito”. Eu próprio não me coíbo de lhe dar uns valentes açoites, especialmente no ano de 2017 onde a companhia foi indiscutivelmente longe demais. Mas subscrevo o serviço de Origin Access no PC há cerca de 2 anos e continuo a achá-lo um produto forte, com o seu Vault a ter um bom acervo de jogos “antigos” e de adicionar com muita regularidade títulos recentes às suas prateleiras.

Isto na prática é mais ou menos uma invenção minha. A sério.

Não conheço a fundo os relatórios de contas anuais e apresentações aos accionistas da EA mas acredito que os jogos de desporto, especialmente o FIFA, correspondam a uma fatia gigantesca da coisa. Eu que até tenho analisado anualmente o grande videojogo dedicado ao desporto-rei vejo com relutância o modelo de negócio de vender a full price anualmente novas iterações que regra geral se limitam a actualizar as listas de jogadores e pouco mais. Foi este um dos fundamentos para eu defender fervorosamente um serviço anual onde os subscritores tivessem incluídas as novas versões dos seus grandes títulos, sobretudo os anuais: FIFA, Madden, NHL e afins.

De alguma forma a EA deu-me ouvidos, apresentando a evolução da sua subscrição para o Origin Access Premier, que fará isto mesmo, como sempre defendi. No dia de lançamento o meu FIFA 18 no PC recebe uma actualização de alguns gigas e transforma-se como que por magia num FIFA 19.

Sejamos sinceros: esta solução surge por duas razões, a primeira é que a companhia percebe que existe abertura dos consumidores para isto, com a massificação de serviços como Netflix, Spotify, Amazon Prime, e a segunda é porque fazendo as contas é possível que recebam ainda mais dinheiro do que já recebiam. Façamos as contas. Imaginem uma pessoa que apenas compra um jogo da EA por ano, gastando cerca de 70€ nele. Apesar da vontade de comprar outro dos grandes lançamentos, um Need for Speed ou um Battlefield, o somatório de duas compras aproxima-se dos 140€/anuais leva-a a adquirir apenas o título de desporto. Se a anuidade for próximo do PlayStation Now ou do Xbox Game Pass (cerca de 100€) acaba por compensar para esse subscritor e para a EA, já que esta em vez de receber anualmente 70€ de um comprador, passa a ganhar (aproximadamente) mais 30€. O que parece à priori uma pechincha corporativa é potencialmente uma forma da EA aumentar ainda mais os lucros. E se querem saber, para mim, é uma win-win situation.

****-se. Não é isto. Aliás, isto está tão longe que só me apetece repetir: ****-se.

De uma conferência amena em que a EA parece estar a aprender o que todos queremos em termos de conteúdo mas ainda a falhar em termos de forma, já que permanece esta vontade de ter algum fait-diver em palco, para mim o anúncio do Origin Access Premier foi o ponto de alto daquela que foi de longe a melhor prestação da EA em E3 dos últimos anos. Mas que para muitos foi apenas uma nota de rodapé ofuscada por Battlefield 5, Jedi: Fallen Order, mais conteúdo para Battlefront II (que não importa a ninguém), Unravel Two e Sea of Solitude (o jogo que mais me deixou entusiasmado nesta apresentação, mas gostos são gostos) e Anthem. Só não falo do jogo mobile de Command & Conquer porque me apetece mandar alguém a um sítio feio por tratarem tão mal a minha série de RTS favorita de sempre. Com tantas coisas positivas na postura da EA ao longo da conferência toda, a demonstrar um tremendo mea culpa, e tinham de sujar os lençóis com uma jogada típica… da EA. Tentar fazer cash in de uma das séries mais queridas pelo público com um jogo de putativa entrada nos eSports do mercado mobile. Consegues mascarar a ganância da EA, mas não consegues tirá-la de lá.