Ah Ubisoft, durante anos foi alvo de chacota geral no mundo dos jogos, era aquela casa que servia perfeitamente para ilustrar a máxima “Se algo pode correr mal, corre mal”. Hoje já não é o caso, tem vindo a subir o seu rendimento, a ter mais cuidado no que faz tanto nos seus jogos como na apresentação publicitária dos mesmos. Longe vai o dia de lançamento de Assassin’s Creed Unity.

Foi há 4 ou 5 anos mas parece tão longe no tempo.

O esquema da sua apresentação parecia uma linha de montagem, mas era uma linha de montagem que deu gosto ver. Uma estrutura simples que pode ser descrita em “Wham, Bam, Thank you Ma’am. Next, Please”. Sem falhas, sem grandes fogos de artifício ou inutilidades, tudo foi feito com a devida reverência e associado ao jogo em questão. É óbvio que teve cor e música em algumas situações, jogos como Just Dance 2019 ou o DLC de Donkey Kong para Mario+Rabbids não pode ser apresentado sem algum espectáculo e ritmo, mas tirando isso e o aparecimento do actor Jason Gordon-Levitt para explicar como estão a usar a sua plataforma HitRECord para recolher contribuições de arte e outras coisas para Beyond Good and Evil 2, foi bastante sóbria. A Ubisoft sabe o que tem que fazer no mercado agora, como tem que se movimentar e isso mostrou-se naquele palco em que deixaram o público impressionados de forma bastante positiva.

Tendo em conta que a forma de apresentação dos jogos foi bastante sóbria a Ubisoft só podia contar com uma coisa, conteúdo. Em qualidade e número.

Enquanto o DLC de Mario+Rabbids parece ser uma adição perfeita à insanidade genial do jogo surpresa do ano passado, e Just Dance tenha a sua legião de fãs, não deixam de ser jóias menores da coroa da casa francesa. As sequelas de The Division, The Crew e Trials, assim como For Honor mostraram que o estúdio consegue trabalhar em várias frentes ao mesmo tempo sem aparentemente perder a qualidade do seu trabalho. Mas foi em alguns dos seus outros títulos que a Ubisoft mostrou mais garra.

Sabendo que a divisão de Montreal da Ubisoft está há bastante tempo a trabalhar em VR não é de estranhar que o novo jogo Transference seja mais focado nessa plataforma. Ainda há muito por revelar neste jogo de terror psicológico, a não ser que é agradável ver a empresa lançar uma luz naquilo que sabíamos que tinha potencial.

Depois do sucesso inesperado de Mario+Rabbids foi apresentada mais uma parceria com a Nintendo. Aparentemente menor em tamanho mas potencialmente maior em valor. Dentro da sua nova franquia Starlink: Battle for Atlas em exclusivo para a Nintendo Switch é incluído Fox McLeod o saudoso piloto de naves que a Nintendo tem deixado fora da lista de convocados desde o falhado Star Fox para a Wii U. Tirando ter o personagem, nave característica e algumas missões o jogo não vai ser diferente das suas congéneres na PS4 e XBox One, a utilização de naves físicas num jogo digital à la Lego Dimensions, Disney Infinity ou até Skylanders é um risco por parte do estúdio já que a aceitação de jogos com “brinquedos” tem vindo a cair nos últimos anos. Por outro lado a possibilidade de não ter que comprar nada físico (a não ser o kit inicial) porque todo o conteúdo adicional pode ser puramente digital, e depois da primeira utilização não ser obrigatória a interação física são uma manobra inteligente num mercado cada vez mais digital e pode não ser o jogo de Star Fox que o público pede há anos, mas pode ser o suficiente para revitalizar a franquia se tiver o sucesso da parceria anterior. Tendo em conta que Shigeru Miyamoto estava no público e recebeu o protótipo do Arwing utilizado no jogo, pode ser visto como um sinal de aprovação do criador de Fox.

Já a reacção a Skull and Bones foi mista, um dos jogos mais ansiados pelo público desde que foi anunciado mostrou um foco único na batalha naval. Em tudo aparenta ser um port evoluído do que os jogadores mais gostaram de Assassin’s Creed IV, contudo acredito que falharam, pois o que os fãs queriam era um Black Flag sem a parte de Assassin’s Creed. A Ubisoft foi mais além e retirou tudo o que não era passado num barco. Os jogadores queriam as ilhas, as cidades, o comércio, tudo o que envolve a vida pirata, não queriam o enredo. Não acredito que ainda vão a tempo de corrigir isso mas pode ser que consigam fazer algo que seja aceite de forma mais benevolente do que a sua concorrência directa lançada no início do ano.

E como estamos no tópico, Assassin’s Creed Odyssey fechou a apresentação com chave de ouro. Depois do interregno de um ano para recriar o universo AC numa espécie de soft-reboot, Odyssey vem consolidar o novo caminho da série. Movendo o cenário para a Grécia antiga, deixando o jogador escolher entre um personagem masculino ou feminino e de acordo com um pequeno teaser final a inclusão de figuras mitológicas pode ser dos melhores jogos da série até à data. A sombra de Ezio é longa e paira em todos os jogos que partilham da franquia só que há uma luz forte a afastar essa sombra pouco a pouco. Se continuarem assim, o mais famoso dos assassinos está a correr o risco de cair no esquecimento.

A Ubisoft fez o seu trabalho, não vacilou em campo e colocou a fasquia alta para tentar igualar em anos futuros. Nunca pensei dizer isto mas algumas pessoas podiam aprender muito com o que foi feito aqui.