Caçada Semanal #164
Aqui no Rubber Chicken falamos de muitos, muitos indies. Se fossemos militantes de algum partido (e alguns de nós até são) decerto que seria algo como o Partido Indie ou algo semelhante. Uma militância extrema e um respeito por aquilo que nos chega às mãos, seja mau, bom ou assim-assim, mas que merece sempre ser falado de forma honesta.
Nas nossas caçadas nem sempre reservamos espaço apenas para os jogos que recomendamos mesmo, e até tem acontecido misturarmos um bocadinho as coisas e próximo a um jogo recomendado surge outro que vos sugerimos que fujam a sete pés.
Esta semana a coisa não é bem assim. Os 3 indies que trazemos, independentemente de pequenas falhas, são todos obrigatórios dentro dos seus respectivos géneros. Vale a sempre a pena dar um bocadinho de amor a jogos indie.
Já agora, se não perceberam a piada expressa no título:
Creepy Road
Não sei se é um reflexo pavloviano que me faz ver Jack Burton em todos os camionistas que sejam protagonistas. Por isso também não sei justificar porque é que Creepy Road me faz lembrar tanto um dos meus filmes favoritos de um dos meus realizadores preferidos: Big Trouble in Little China. Aliás, com um personagem chamado Flint Trucker há pouco espaço para a imaginação, e só se ele se chamasse Redneck McKiller Truck é que a coisa poderia ser ainda mais on the nose.
E ainda bem que assim é. Se há algo que nos salta à vista neste run and gun bidimensional desenhado à mão ao bom estilo de Metal Slug e até de Guns, Gore and Cannoli é que os exageros, como nos melhores dentro do género, são mais que bem-vindos.
Em Creepy Road a loucura e a imaginação andam de mão dada e isso resulta numa excelente diversidade e criatividade de inimigos para derrotar. Visualmente maravilhoso, Creepy Road acaba por sofrer com o facto de que os membros do estúdio que o criou serem ilustradores e designers gráficos, deixando algumas componentes mecânicas desafinadas e até pouco-polidas quando comparados com side scrolling shooters antigos que resolviam melhor os controlos do que ele muitas vezes consegue.
É um jogo difícil mas não injusto, e um óptimo e divertido run and gun que pelo meio tem algumas falhas que o impedem de ser verdadeiramente brilhante. E tem falta de Kurt Russell, mas isso quase tudo o que já foi feito tem.
Light Fall
Há alguns anos o que Light Fall traz, e de forma excelente, seria uma completa novidade. Mas nos dias de hoje é muito difícil distinguir verdadeiras mãos-cheias de bons platformers bidimensionais com protagonistas que são silhuetas negras, com ou sem olhos, em fundos coloridos.
Juntem-lhe uma pitada de esforço narrativo a colar as mecânicas de puzzle platforming e temos uma série de jogos, uns melhores que outros, do qual temos obviamente de evidenciar o que distingue este jogo desenvolvido pelo estúdio Bishop Games.
Seguindo a tónica “recriada” por McMillen e o seu Super Meat Boy, Light Fall traz-nos um jogo com um desafio imenso, onde temos de utilizar a habilidade do protagonista em criar até quatro plataformas no ar para nos locomovermos no desafiante level design deste jogo.
Aqui os reflexos são tudo. Uma hesitação e falharemos uma plataforma recém-criada e vamos ter de recomeçar um percurso que nos fez suar como num dia de Verão.
Não sendo inovador nas mecânicas, a solidez de Light Fall é forte o suficiente para lhe dar uma voz própria, numa altura em que para além do lançamento em PC este jogo saiu também para Switch. E ainda bem. Ainda que o encosto visual com Limbo e afins possa ser um motivo para algumas pessoas olharem para ele, é um risco que correm ao podermos achar que é apenas mais um a seguir esse filão.
The Friends of Ringo Ishikawa
Já aqui falámos da nossa paixão por 2D side scrolling brawlers, e se Streets of Rage é um dos exemplos que surgem automaticamente na cabeça de todos (e por boas razões), Double Dragon e River City Ransom são talvez dos nossos melhores exemplos cá na capoeira. Mas este The Friends of Ringo Ishikawa, desenvolvido pelo one man show que atende pelo nome de yeo está na mesma esfera de criatividade de Punch Club, curiosamente ambos são desenvolvidos por game devs russos.
Mas se no caso desse jogo que arrebatou o meu prémio de melhor jogo da Gamescom 2015, The Friends of Ringo Ishikawa leva-nos para um mundo que poderíamos ver num bom anime sobre school life, onde vestimos a pele pixelizada do titular Ringo Ishikawa, um estudante que vive preso entre as relações humanas com as pessoas à sua volta e a paixão pelo combate de rua.
A história é muito mais complexa do que poderíamos esperar, mas também The Friends of Ringo Ishikawa não é apenas um brawler. É algo mais. À semelhança de Punch Club temos uma série de decisões no dia-a-dia, e que passam também por treinarmos as nossas habilidades. Mas se naquele jogo os combates funcionavam numa escala de um pseudo-boxing manager, aqui o combate é puro brawler.
The Friends of Ringo Ishikawa é uma excelente mistura de uma interligação de géneros, um magnífico trabalho de um autor sozinho e uma grande componente narrativa que é totalmente inesperada para alguém que apenas olhe para para algumas imagens do jogo, ou que passe de raspão no seu trailer.