No seu núcleo, RPGs de mesa são jogos onde histórias são contadas através do esforço de todos os envolvidos, jogadores e Mestre de Jogo. Isto dá forma a um dos termos que é utilizado para descrever esta plataforma, sendo ele o de jogos narrativos. Uma história será sempre contada à mesa, independentemente do que se estiver a jogar.

Perante este elo comum que une todos os vários jogos, resta perguntar se a forma como os mesmos funcionam (estrutura, mecânica, premissa, etc.) interessa, ou se o espírito de união, o interesse pela criação da narrativa e a versatilidade do Mestre de Jogo são mais importantes.

Começando pelo fim, um Mestre de Jogo versátil, à partida, conseguirá moldar um qualquer sistema de forma a ir de encontro à experiência que pretende passar aos jogadores (e que eles próprios apontaram durante a construção do contrato social). A título de exemplo, é possível usar Dungeons & Dragons para contar uma história de terror à imagem de Call of Cthulhu, havendo inclusive no Dungeon Master’s Guide uma secção sobre a inclusão de Sanidade como mecânica de jogo. Para não falar que já existem versões que permitem implementar em Dungeons & Dragons 5e as mesmas mecânicas de jogo com as quais nos deparamos em Darkest Dungeon.

Isto leva-nos para o primeiro ponto da questão. Independentemente da versatilidade e da experiência do Mestre de Jogo, sendo mais ou menos capaz de manipular os meios que tem à sua disposição para cumprir um determinado fim, não deixa de haver sistemas que foram desenhados com uma premissa em mente. Uns prometem uma premissa de fantasia toda ela épica e heroica, outros terror absoluto e desolação, e outros nostalgia ao permitirem recordar momentos da nossa infância. Assim sendo, havendo sistemas com um propósito claro à vista, haverá necessidade de mudar a natureza desse mesmo propósito? Independentemente da resposta binária, é mais que certo que é mais fácil adaptar um sistema que é nosso conhecido e com o qual temos alguma familiaridade do que simplesmente estudar e aprender um novo.

Este é um tópico que tem muito que se lhe diga, e há vários argumentos que intercedem em favor de ambos os lados. Dentro da rubrica Rola Diplomacia do projecto Rola Iniciativa, tratámos de discutir este tema, e contámos com a ajuda do inimitável João Mariano para alargar o nosso leque de opiniões.

Como já foi acima referido, estamos longe de dar uma resposta absolutamente correcta a esta questão, tendo cada um direito à sua interpretação. E nesse sentido, coloco-vos o presente dilema: o sistema interessa?