-“Que tal o título clickbait?”       -“Faltou o ‘Não vais acreditar no nº5!!!'”

Videojogos são um dos melhores meios de entretenimento dos dias de hoje, com histórias interessantes e interativas, desafios que puxam pela cabeça e reflexos, e mundos fantásticos onde podemos experienciar vidas alternativas. Mas são também por vezes os mais demonizados. Uma mãe que passa horas em frente da televisão, estará no entanto, pronta a admoestar os filhos que façam o mesmo com um comando na mão, porque lhes derrete o cérebro. Um qualquer reformado, que passa as tardes a jogar à sueca no café, aponta a perda de tempo que os videojogos são. A namorada, que traz 5 sacos da Zara no braço, olha de forma julgadora a caixa daquele jogo que estás a comprar.

Chega de exemplos estereotipados, porque é ferramenta que hoje em dia dá direito a crucificação sócio-digital. O que estas personagens, e outras diversas em género e faixa etária, têm em comum, é o afastamento da realidade no que toca aos videojogos e as suas potencialidades. Vendo apenas de fora, o que conhecem é alimentado pelos relatos sensacionalistas dos meios de comunicação generalistas, que na maioria dos casos estão em igual posição. Isto, porque os videojogos são um meio com algumas barreiras à entrada. Para além do interesse inicial, requerem algum investimento nos títulos e talvez no hardware para os jogar, conhecimento sobre o género da nossa preferência entre o oceano de ofertas, tempo para lhes dedicar, ou até, destreza física para os controlar.

Claro que o vasto espetro de géneros e dificuldades, assim como a sua ubiquidade no mercado mobile, assegura que qualquer pessoa já tenha experimentado pelo menos um videojogo. Mas Fruit Ninja e Candy Crush não são os melhores representantes das possibilidades do meio, estando os maiores trunfos bloqueados por uma ou outra barreira mencionada.

Assim, tal como cada jogo possui uma progressão incremental de dificuldade e complexidade para que nos adaptemos aos seus sistemas, sugiro o mesmo método para aclimatizar alguém para quem o salto para um jogo AAA pareça insuperável. Pode parecer os testemunhos das tele-vendas, mas esta progressão ajudou a minha cara metade a passar de alguém que “não tem tempo para isso”, para alguém dedicado o suficiente para ganhar o troféu de Platina em Skyrim depois de se apaixonar por Tamriel.

Nestas escolhas vou dar exemplos de jogos em plataformas modernas, mais acessíveis em preço e disponibilidade. Não é uma lista dos melhores jogos de sempre, mas sim de marcos de progressão. É mais importante o fim que se pretende do que a escolha do jogo em si, e as preferências do jogador devem ser tidas em conta.

Nível 1 – A diversão

Apesar da imagem isolacionista dos videojogos, muitos exemplos preservam o lado social na origem dos primeiros jogos. E são estes a melhor porta de entrada para este meio de entretenimento, com controlos simples, desenhados para acessibilidade ao público geral, e um ambiente de interação. As voltas e reviravoltas de uma corrida de Mario Kart ou o caos de Overcooked são perfeitos para um ambiente de festa com vários jogadores. Um qualquer jogo da série Lego, de preferência num dos universos cinemáticos preferidos do iniciante, oferece uma simples aventura a dois. Podem ainda partilhar um comando, e controlar um irmão cada em Brothers: A Tale of Two Sons.

Nível 2 – A arte

Quando os controlos mais básicos não são desafio, está na hora de propor um jogo curto e artístico em vez daquele filme no Netflix. Gone Home ou Dear Esther, são tão leves em termos de controlos que costumam ser criticados por muitos como walking simulators. Journey é uma peregrinação cheia de simbolismo e visuais bem conseguidos. Papers Please coloca-nos em situações difíceis onde as escolhas não são a preto e branco. Todos despertam sentimentos através de ferramentas únicas ao meio dos videojogos.

Nível 3 – O desafio

Eventualmente estará na hora de prosseguir, mas aquela dificuldade em controlar a câmara com o analógico direito ou com o rato persiste, e os reflexos dos dedos ainda não estão bem assimilados na memória muscular. Portal e Portal 2 são um ótimo treino para o primeiro problema, requerendo muito olhar em volta, sem qualquer perigo ou pressão. Os puzzles progressivamente mais complexos e satisfatoriamente desafiantes são também o exemplar máximo do género. As picardias da GLaDOS e a história contada pelo próprio edifício, atam tudo isto num pacote com um belo laço. Se há jogos essenciais para esta lista, são estes. Para a destreza, nada melhor que um jogo de plataformas. Posso recomendar qualquer um dos títulos do famoso canalizador Mario neste género, seja os originais em 2D, até ao mais recente Odyssey na Nintendo Switch. Ou outros como Unravel, Rayman Legends, Limbo, e o meu favorito de infância: Oddworld: Abe’s Oddysee, na sua mais recente versão New ‘n’ Tasty.

Nível 4 – O coração (e as mecânicas)

As complexidades não terminam nos controlos. Coisas tão simples como um mundo aberto podem suscitar perguntas como: “mas o que se faz?”. Listas de atributos, pontos e inventários podem ser intimidantes à primeira vista. O combate é stressante quando não estamos ainda completamente em controlo. Ni no Kuni: Wrath of the White Witch, Kingdom Hearts ou Pokémon, são exemplos de boas introduções a estes fatores, sendo desenhados com a acessibilidade em mente. São jogos mais ou menos abertos, mais ou menos lineares; um com combate por turnos, outros com sistemas derivativos deste. São fáceis de jogar, mas com mecânicas mais complexas para quem as quiser explorar. Através deles, mundos mais complexos abrem-se à exploração. Apelam também às sensibilidades básicas e a elementos de fantasia que só não tocam os corações mais empedernidos.

Nível 5 – A liberdade

Não é por acaso que a Bethesda lançou The Elder Scrolls V: Skyrim em todas as plataformas possíveis e imaginárias. O jogo tem um apelo generalista que o torna num nome facilmente reconhecido. Tem também outras características que o tornam uma escolha ideal para esta etapa final que deixa o jogador pronto para avançar na direção que quiser. É precisamente a liberdade que este oferece. Com uma personagem personalizada, o jogador pode abordar a aventura da forma que quiser. Como um arqueiro furtivo que limpa uma caverna cheia de inimigos sem que ninguém dê pela sua presença, como um mago que queima tudo à sua frente ou como um guerreiro que prefere a espada, o machado, até mesmo os punhos, ou uma mistura de tudo isto. O combate é simples e a progressão de experiência, baseada na utilização das habilidades, também. Os terrenos montanhosos de Skyrim e os seus habitantes criam um mundo que pede para ser explorado, oferecendo uma experiência como nenhuma outra nesta lista. Alternativa? The Elder Scrolls IV: Oblivion.

Este é o salto do ninho. A partir daqui, estão prontos para voar.

Boss Opcional – À lei da bala

Se o salto para um mercado cheio de shooters ainda precisar de um degrau extra, Fallout 3, 4 ou New Vegas podem ajudar. Não estou a puxar a sardinha à Bethesda, mas a mesma liberdade, variedade e simplicidade de Skyrim aplicam-se aqui também, com o bónus de poder utilizar a mecânica de “V.A.T.S.”, que permite num aperto parar o tempo e apontar a áreas específicas do alvo.