Caçada Semanal #171

Durante muito tempo os videojogos eram vistos apenas como brincadeira. A minha infância foi inclusivamente passada em casa de vizinhos a brincar (e eles na minha), que é como quem dizia jogar Master System, NES e mais tarde Mega Drive. De todo o tempo que passava com a consola a “brincar” segundo a minha tia-bisavó eu ia “morrer ou ficar maluco”. Tudo isto porque se para ela não era estranho o tempo que ela própria passava a ver TV, era mais estranho eu passar esse mesmo tempo a olhar para o ecrã mas a “brincar” naquelas coisas estranhas que eram as consolas e os computadores.

Por isso venham brincar comigo, mesmo à distância e sem nos conhecermos, e aceitem as 3 propostas de indies que temos para fechar a semana.

Downward Spiral: Horus Station

Há um ano e alguns meses falámos aqui do prólogo de Downward Spiral, um jogo narrativo na primeira pessoa em Realidade Virtual que nos levou para um ambiente retro-futurista. Enquanto exploramos uma estação espacial na tensão típica deste tipo de abordagem sci-fi e vemos as gotas de suor a flutuarem à nossa frente na falta de gravidade do espaço.

Os paralelismos com um dos grandes filmes de Kurbick são impossíveis de não fazer. Penso até que os criadores nem se importam e até devem assumir as óbvias semelhanças sem qualquer pudor. Downward Spiral: Horus Station estende esse universo numa experiência sombria que alia FPS com exploração narrativa, onde o mood musical foi composto pelo Ville Valo, vocalista da extinta banda HIM.

A sequela deste jogo ambicioso que em alguns momentos tenta raspar visualmente com o que alguns AAA têm feito mantém a tónica de co-op online misturado em experiência VR. Se quiserem perceber se vos agrada a premissa de Downward Spiral: Horus Station podem sempre comprar o prólogo por 1,99€. Um bom jogo de Realidade Virtual que conta uma história interessante sem ficar limitado pelo single player.

PLAY WITH ME

Let’s Play a Game” é a tagline de SAW e do seu génio serial killer Jigsaw, e com todas as ideias retorcidas que o vilão e o seu séquito põe em prática ao longo de 40 e tal filmes (o número de filmes pode não ser exacto) era de estranhar que não existissem jogos indie a sofrerem a sua influência .

PLAY WITH ME, criado pelo estúdio Aurem, coloca-nos nesse mesmo ambiente, sob a pele de um detective que tenta encontrar a identidade de um serial killer que a imprensa conhece apenas sob a alcunha Illusion.

Assumindo-se como um puzzle horror game, com a tendência real que temos visto dos escape rooms é impossível não o ver como um. Para ultrapassarmos os obstáculos criados pelo psicopata temos de utilizar objectos presentes na sala, ultrapassar ilusões de óptica e puzzles mecânicos dentro de um tempo limite para podermos progredir.

Apesar de narrativamente não ser uma maravilha (e convenhamos, nem os filmes de SAW são) é interessante a forma como este jogo indie tenta mimetizar (de forma menos sangrenta) a lógica de quebra-cabeças de Jigsaw e a interligação de puzzles com motivos homicidas. Com uma demo disponível na sua página de Steam é possível que PLAY WITH ME fosse terreno apetecível para a Realidade Virtual, tornando a experiência mais aterradora. Quem sabe no futuro?

OVERLOAD

Lembram-se de Descent, de 1995? O shooter a 360º que imprimiu uma série de inovações técnicas e conceptuais aos FPS tridimensionais? É que os seus criadores estão de volta, 23 anos depois, e acabaram de lançar OVERLOAD.

OVERLOAD leva-nos de volta ao cockpit de uma nave por corredores labirínticos e claustrofóbicos, onde tudo o que se mexe tem apenas uma missão destruir-nos, numa campanha single player que se estende por 15 níveis difíceis e que nos põem o coração a saltitar de tensão.

O mercado mudou muito desde Descent e isso sente-se também nas inovações trazidas para este OVERLOAD. Entre a personalização e customização da nave e do seu armamento, passando por diversos níveis de dificuldade e tabelas classificativas online, este é um dos casos old school de shooters que existem de forma descomprometida com a diversão e o desafio em mente.

É claro que a experiência de um jogo como este em 2018 não poderia ficar completa sem suporte de Realidade Virtual e multiplayer online. OVERLOAD é assim uma sequela espiritual de um dos mais emblemáticos shooters dos anos 1990, mas trazido para os dias de hoje como todo o rigor e características esperadas para o mercado actual. Altamente recomendado para fãs de shooters retro mas que queiram também muitos níveis de desafio em single e multiplayer.