Isto de ter o desktop pejado de jogos, maioritariamente, indies, divididos entre aqueles que comprei em bundles, Steam sales ou jogos para análise, significa que grande parte das minhas madrugadas depois da família ir dormir são passadas numa espécie de curadoria de jogos independentes. Há muita banalidade por aqui, mas por vezes surgem aqueles momentos em que pegamos num jogo e somos tragados por ele até que as horas passam sem darmos por elas.
Esse foi o caso de Aggelos.
Nem é preciso falar do nosso fraquinho por metroidvanias para perceber o encanto de Aggelos. Sem nada de inovador (especialmente depois de termos levado uma verdadeira tareia de criatividade com Yoku’s Island Express), Aggelos é muito mais uma homenagem aos primórdios do género do que uma tentativa de o reinventar.
Os seus criadores anunciam-no como uma homenagem a Wonder Boy, e acredito que o seja especialmente pelos seus 16 bits e pelo sucesso nostálgico recente da reedição desse título. Mas desde os primeiros instantes que Aggelos é para mim um sucessor espiritual de Zelda II: The Adventure of Link mas em 16 bits, em toda a glória que a tecnologia actual permite.
Narrativamente é um jogo simples, com pequenos laivos de pormenores interessantes que o elevem para lá da corriqueira História do Herói. Mas é mecanicamente onde Aggelos brilha, com a sua vertente clássica aos metroidvanias, com muito backtracking e apenas ligeiras dicas de onde prosseguir. À medida que vamos avançando no jogo vamos aprendendo novos ataques (que são utilizados em sequências de platforming, como o rising attack) e novas magias. Depois de completarmos as dungeons que estão perdidas pelo mapa, parte do desafio passa por pensarmos nos becos sem saída onde chegámos e se já temos as capacidades para os ultrapassar. Isso e aqueles segredos inacessíveis que os nossos novos poderes podem, ou não, dar acesso.
De espada em punho, o dinheiro vai servindo para comprar novas lâminas (com os respectivos bónus de ataque e habilidades associadas), novas armaduras (com os respectivos bónus de defesa) para além de poções. Cada morte é menos penalizadora do que em outros jogos (como Shovel Knight por exemplo) e apenas perdemos uma porção do XP ganho, e mantemos o mesmo outro que tínhamos.
O levelling up é pouco intrusivo no jogo, e serve apenas para receber pequenos boosts nas estatísticas, para além de subir de nível restabelecer os nossos corações, o que é muitas vezes um verdadeiro salva-vidas. Tirando isso nunca senti que necessitava de fazer grind para derrotar determinado boss. O equipamento é infinitamente mais importante neste aspecto do que o nosso nível. De forma tradicional, tanto os inimigos de nível como os bosses têm padrões reconhecíveis e penso que em nenhum deles necessitei do que mais de 2 mortes para compreender os seus movimentos e saber como contra-atacá-los.
A forma como as diferentes magias e habilidades são necessárias no level design (e nas batalhas de bosses) são alguns dos momentos mais criativos de um jogo que pode facilmente ser terminado num trago. A sua dificuldade e o seu excelente platforming são bastante acessíveis mesmo para quem nunca jogou os clássicos do género em 8 e 16 bits, mas por outro lado não consigo perceber o apelo para além daqueles que tiveram contacto com o género nos seus primórdios.
Aggelos é um excelente metroidvania, mas ao contrário de jogos como Yoku’s Island Express ou Hollow Knight dificilmente consegue ser apetecível para novos jogadores. O seu público-alvo está perfeitamente circunscrito ao pessoal nostálgico e amante do retro e que vê aqui uma nova forma de jogar algo que conhece, mas pela primeira vez, num estranho mas delicioso déja vu.