Survival games: não conseguimos viver sem eles nem com eles. Poucos são os casos de jogos de sobrevivência que quiseram levar a fórmula um bocadinho mais longe, e sem dúvida que um desses casos foi Don’t Starve, que no meu caso foi o jogo que me abriu os portões do género.
Quando recebemos informação sobre Disdoored tivemos vontade de o jogar de imediato. Não apenas por percebermos logo nos primeiros instantes que esta era uma versão quase surreal (e menos dark fantasy) de Don’t Starve, mas porque a claymation que vemos no trailer nos impele a atirar moedas e notas para o ecrã. Disdoored é Don’t Starve se de repente o Tim Burton caísse numa misturadora com plasticina e saísse de lá um batido de Nick Park.
Lembro-me de ser miúdo e de tentar reproduzir com a plasticina que tinha em casa algumas das séries e filmes que via na televisão. É claro que a distância entre o que eu produzia e o que via dos profissionais era gigantesca, até porque por alguma razão todas as minhas peças de plasticina iam apanhado bocados de plasticinas de outras cores, criando uma amálgama um bocado nojenta. Já têm esta imagem na cabeça? Prossigamos, então.
Todos os elementos que surgem em Disdoored, repito, todos, sem excepção, foram animados pelo clay master Anton Riot e pela sua equipa. Estamos a falar de cerca de 20000 fotos tiradas para que este estranho e delicioso mundo de sobrevivência seja quase palpável, que quase consigamos sentir o cheiro da plasticina.
Já antes tínhamos tido jogos em claymation, especialmente point ‘n click adventures como Neverhood e Armikrog, mas nenhum mais “dinâmico” como Disdoored, onde a liberdade de movimento e os múltiplos pontos de vista dos nossos personagens, inimigos, e objectos devem ter estendido e muito a produção de todos os assets em plasticina. Se uns minutos depois de estarem dentro deste jogo não vos vier à memória animações de Leste trazidas pelo saudoso Vasco Granja ou mesmo do mais ocidental Mr. Bogus, então não sei o que fará.
Como dizíamos, a proximidade com Don’t Starve do ponto de vista mecânico é imensa, mas isso não deixa de dar espaço a Disdoored para inovar. Há muitos recursos para apanhar, ainda que a fauna e os minerais presentes não sejam tão óbvios quanto noutros títulos. Sabiam que umas plantas tipo espanador às riscas brancas e pretas dão cordas? Nós só soubemos depois de as colhermos.
O nosso objectivo primordial é criar uma base que nos permita ser auto-suficientes, e para isso temos de ir plantando sementes (que irão brotar em lustrosas plantas de plasticina) para além de criar animais que podem ser alterados por nós. Um caracol de plasticina que dá leite? Em Disdoored é possível.
Depois de Don’t Starve Together ter mostrado o caminho que um survival game pode ter com uma abordagem multiplayer, Disdoored permite-nos adicionar até mais 4 amigos para ultrapassarmos as agruras do mundo de plasticina jogável mais surpreendente que já conhecemos.
Com um sistema de level up simples em que ganhamos XP escondido por todas as acções que fazemos e que nos conferem pontos para melhorar as nossas estatísticas, a grande preparação é armar-nos até aos dentes para enfrentarmos as muitas portas que surgem à medida que exploramos o mundo. Dentro delas encontram-se pequenas “dungeons” com um desafio elevado e que trazem a componente de combate de forma mais óbvia para um jogo que quis criar uma camada adicional para além da “mera” sobrevivência.
Apesar de o encontrarmos ainda em Early Access e de estar já muito sólido do ponto de vista de desenvolvimento, conteúdo e aplicação de assets e mecânicas, há pequenos problemas de fluidez e optimização gráfica que acreditamos que serão corrigidas aquando do lançamento final do jogo. Disdoored é já um excelente survival game cooperativo em alpha, e uma aposta obrigatória para quem já fez tudo o que tinha a fazer em Don’t Starve e não se importa de ir mudar de ares para um sítio que cheire mais a plasticina.