Apocalypse World de D. Vicent Baker cumpre o que promete no seu próprio nome: uma aventura num mundo pós-apocalíptico. Contudo, há pormenores que têm que ficar bem assentes para aqueles que, movidos pela curiosidade e pela paixão de histórias neste contexto, que Apocalypse World é um jogo maduro onde linguagem ofensiva, violência descritiva e explícita e até sexo fazem parte, não só da natureza, mas também da mecânica de jogo.
O mundo foi movido por uma onda de caos que destruiu toda a estrutura social existente. Agora cada um tenta sobreviver como pode, com os recursos que tem à sua disposição e com as alianças que tenta ou não desenvolver.
Também aqui temos uma série de Atributos/Stats embora com nomenclaturas diferentes dos comuns Força/Strength e Constituição/Constitution. Em Apocalypse World, o retrato da nossa personagem é estabelecido numericamente através de Cool (agir calmamente quando sob pressão), Hard (agressividade/hostilidade), Hot (beleza e charme para seduzir e manipular), Sharp (ler uma pessoa ou uma situação) e Wierd (abrir a mente para as estranhas anomalias sensoriais do novo mundo). Tudo o resto é normal, com os dados a serem rolados quando as situações o permitem, sendo adicionados Moves como forma de beneficiar não só o lançamento em si como o seu resultado de um ponto de vista tanto mecânico como narrativo.
Com a essência mecânica já estabelecida, permitam-me que me foque naquilo que para mim é um dos pontos fortes deste sistema. A premissa em si é excelente e a forma como tudo está feito suporta-a sem quaisquer dificuldades nem detrimentos. As regras e demais dicas que estão espalhadas pelo manual com o intuito de auxiliar na gestão de uma sessão de jogo são subjectivas de forma propositada para que cada um faça a sua própria interpretação. A título de exemplo, em lances bastantes baixo, consta na descrição da sugestão: prepare for the worst.
Para além disto, o papel do Mestre de Jogo (aqui chamado de Master of Ceremonies) não é tanto de preparação da sessão de ter todo um trabalho-de-casa já feito e que só basta apresentar aos jogadores. Aqui, o Mestre de Jogo é encorajado a fazer toda uma série de perguntas aos jogadores ao longo de toda a acção. Aliás, esta própria premissa é intensificada pela inclusão daquela sessão 0 onde constam os interesses, os objectivos e as expectativas de todos os participantes, como uma própria sessão de jogo. Aqui não só se criam as personagens de um ponto de vista mecânico, como lhes é incutida a sua personalidade e no fim a Hx, que mais não é que a história de vida que as personagens partilham entre si e o quão bem se conhecem. E, como não haveria de deixar de ser, é um elemento com peso para a progressão da personagem.
Através de toda uma série de perguntas e respostas, as personagens vão nascendo, vão criando laços de amizade, ódio, vingança e repúdio, e o mundo vai crescendo, numa forma de Ameaças/Threats que nas sessões posteriores irão voltar para testar aqueles que se aventurarem a explorar este novo mundo.
Apocalypse World é um sistema maduro que não tem medo de o ser e que cumpre o que promete sem olhar a meios. Estes pormenores aliados à forma fluída e subtil que gere toda a mecânica de jogo faz com que seja um sistema não só muito interessante, como também fácil de pegar, ler e jogar.
Querem ver as vossas fantasias apocalípticas satisfeitas? Apocalypse World está aqui para isso.