Já perdi a conta a quantos artigos sobre tactical RPGs escrevi esta semana, e ainda por cima falta um que está na calha: Into the Breach. Mas dois meses depois do seu lançamento cá estamos para falar de uma das grandes apostas da Paradox para este ano e que é um dos melhores e mais complexos tactical RPGs que já jogámos: BattleTech.

Defini-lo como um dos melhores do género não é apenas pela reconhecida paixão que tenho por mechas e por demais robots gigantes. Mas porque o estúdio Harebrained Schemes, depois de ter ganho o seu espaço mediático com os excelentes jogos de Shadowrun desta década, pegou na sua experiência e num franchise culturalmente poderoso e criou um jogo táctico que não é para todos, mas é verdadeiramente obrigatório para os aficionados do género.

O meu primeiro contacto com BattleTech (a série) aconteceu de uma maneira algo inesperada. Devia ter cerca de 5 anos quando numa tendência lá de casa de se montar model kits de tanques e aviões alguém nos ofereceu um mecha gigante, de plástico verde, que pertencia à série de modelos BattleTech Defenders. Estar perto do meu avô à medida que ele ia dando forma àquele robot era o sonho de qualquer miúdo que tinha os Transformers como a melhor coisa de sempre. E que trinta anos depois continua a ter os seus olhos a brilhar com mechas.

BattleTech tinha nascido uns anos antes nos jogos de tabuleiro e nos wargames, estendendo-se também para os livros e para uma malfadada série de animação. Depois de diversas adaptações a videojogo desde a NES, é este BattleTech da Paradox o melhor jogo já feito com a franquia criada por Jordan Weissman e companhia. Acredito que grande parte do sucesso deste título se resume ao facto de que 34 anos depois de ter criado os primeiros jogos de tabuleiro da marca, o mesmo Jordan Weissman regressou às batalhas de mechas adaptando-o a videojogo com o seu estúdio Harebrained.

A proximidade mecânica com XCOM não é inocente, e muito do marketing deste título acabou por ser destinado a todos aqueles que têm seguido religiosamente essa série desde o seu reboot na 2K Games. Mas por outro lado é impossível não ver a inspiração que wargames e jogos de tabuleiro como BattleTech tiveram naquilo que viria a ser hoje o standard dos RPGs tácticos, portanto diria que na troca de galhardetes há um empate técnico.

Apesar do enredo deste jogo ser complexo e ter grande ligação com todo o universo expandido de BattleTech, aqui controlamos um líder de mercenários que vai aceitando missões a troco de créditos. Já que o dinheiro é a nossa motivação, cedo percebemos que a gestão do mesmo acaba por ser um sub-jogo dentro do jogo. Já que somos mercenários (e só trabalhamos com eles), necessitamos dos muito suados créditos para contratar novos pilotos, para comprar novos mechas e componentes, ou para reparar aqueles que ficaram danificados, para além de termos de pagar pelas deslocações para os locais das missões. Como no nosso, nada neste mundo é gratuito.

Em cada missão podemos levar até 4 BattleMechs connosco, os quais podemos alterar dos chassis ao armamento, passando até pelos rotores que definem a amplitude de ataque de cada um. Se num tactical RPG cada decisão e cada decisão tem de ser tomada como se fosse a última, em BattleTech isto assume uma importância ainda mais vital. Para além de termos de ter em consideração as diferentes iniciativas temos de pensar que o dano infligido e recebido está correlacionado com o ângulo de ataque, e que dependendo deste há diversos componentes que podem ser danificados ou destruídos. Portanto o ângulo em que nos posicionamos pode ser a diferença entre termos um canhão inoperacional ou perdermos a capacidade de nos movermos. Num jogo onde os créditos são difíceis de encontrar, perder um componente raro ou mesmo um mecha por inteiro é um duro golpe no nosso sucesso, e muitas serão as vezes em que teremos de optar por ejectar os pilotos para que eles não pereçam em conjunto com os veículos.

Visto que os nossos BattleMechs são veículos gigantes há outros aspectos que temos de ter em conta. O primeiro é a sua estabilidade, visto que estes robots gigantes bípedes podem ser derrubados o que nos deixa numa posição vulnerável ou pode mesmo danificar componentes na queda. O posicionamento no terreno é outro aspecto vital já que a Harebrained decidiu remover a ideia clássica de grelha permitindo uma movimentação mais orgânica, mas muito influenciada pelos acidentes geográficos do cenário.

O outro aspecto mecânico que temos de ter em conta é o sobreaquecimento dos nossos BattleMechs, ainda que o jogo nos permita dosear a intensidade dos nossos ataques com mísseis e projécteis e dessa forma minimizar o calor criado na estrutura. Por outro lado os ataques corpo-a-corpo têm cálculos distintos dos disparos, o que nos traz mais uma componente estratégica num jogo que está repleto delas.

Para um coleccionador como eu há um elemento adicional e opcional em BattleTech que tem sido uma verdadeira diversão: capturar todo o tipo de mechas existentes no jogo. Quando atacamos um adversário não estamos apenas a danificar o veículo, mas estamos também a afectar o seu piloto. Se conseguirmos incapacitar o humano dentro do BattleMech temos a hipótese de recolher partes dele como espólios de guerra de final de missão. Se reunirmos três partes distintas de um mecha que não temos ganhamos-lhe acesso gratuito.

Com todos estes elementos é fácil de perceber que o nível de dificuldade de BattleTech é imenso, e não apenas pela grande complexidade das suas mecânicas e de todos os seus componentes. Mas porque o combate e as consequências dos nossos erros são verdadeiramente impiedosos, tornando-o um dos mais desafiantes tactical RPGs dos últimos tempos. Por outro lado é um dos jogos do género verdadeiramente obrigatórios, mas isso já é quase chover no molhado visto que muitos dos fãs de XCOM e afins já o compraram há muito.

Com a Paradox a adquirir o estúdio Harebrained no mês passado podemos decerto contar com novos e melhores jogos, não só tactical RPGs mas no universo de BattleTech. E se os lançamentos forem sendo intercalados com a 2K Games e os seus XCOM decerto que vamos estar num estado constante de saciedade em termos de brilhantes jogos tácticos.