Caçada Semanal #172

Edward Bulwer-Lytton marcou-nos na História com a sua afirmação de que “a caneta é mais poderosa que a espada”. Todos sabemos o quanto isso é verdade, e o quanto as palavras conseguem impactar, deixar marca e legado. No lugar onde a espada termina algo, a palavra perpetua e imortaliza.

Os dois indies que trazemos nesta caçada mostram-nos o poder da palavra enquanto mecânica, trazendo-nos dois jogos distintos que parecem ter aprendido a partir desta ideia, e sobre ele construíram os seus conceitos.

Haimrik

Há muitos anos que estávamos de olho nele, desde que na Gamescom de 2016 tivemos a oportunidade de o conhecer numa apresentação à porta fechada da 1C Company. De início foi o estilo visual único de Haimrik que nos conquistou, com o seu traço castanho omnipresente a contrastar com o ambiente monotonal de castanhos (até ao branco) de todo o jogo. O vermelho ocasional que lá ia aparecendo e que nos lembrava que apesar do seu aspecto notoriamente cartoon que o seu conteúdo tinha tudo menos de infantil.

Haimrik é um puzzle game diferente de qualquer coisa que já jogaram, em que as palavras podem ser invocações de objectos que temos de utilizar para ultrapassar os nossos obstáculos. Há chamas a bloquearem-nos o caminho? Então basta pegarmos na palavra rain que surge na narração inscrita aos nossos pés para o apagar. Um cavaleiro inimigo barra-nos a passagem? Nada que a palavra sword e a sua materialização não resolvam.

Este jogo não é muito difícil, mas o seu propósito máximo é o de contar uma história e fazer-nos interagir de forma diferente com a palavra e com as ideias em torno delas, mas é certamente um jogo recomendado por tudo o que de diferente faz. E ainda por cima faz muito bem.

The Path of Motus

Este jogo desenvolvido pelo estúdio MichaelArts é outro que pega na ideia do poder das palavras e o leva mais longe. Num mundo onde os goblins vivem encarcerados na sua pequena aldeia e impossibilitados de sonhar com o que existe fora dela, controlamos o jovem Motus que decide arriscar a travessia que poucos tiveram coragem para fazer.

The Path of Motus é um puzzle platformer com algumas ideias únicas. Se a construção de pontes e a abertura de portas são elementos curiosos com puzzles de lógica e raciocínio interessantes, é o seu combate único que o distancia de qualquer outro jogo.

Aqui o combate é verbal. E não me refiro aos geniais duelos de insultos de Monkey Island, mas das 4 palavras que servem de projécteis contra os inimigos com os quais nos cruzamos. Para além dessas 4 palavras corresponderem a botões distintos e a terem cores associadas, o fundamento do combate é que temos de contra-atacar com as mesmas palavras com que nos atacam e conseguir “penetrar” nas defesas do adversário.

O outro ponto curioso é o crescimento do próprio Motus ao longo da sua aventura, como se a aldeia onde a sua comunidade está reclusa há tanto tempo o impedisse de crescer à velocidade que deveria.

The Path of Motus é indubitavelmente um jogo diferente, tanto no tom como nas ideias que nos traz.