Caçada Semanal #173

No inigualável filme (e romance) Forrest Gump, o personagem titular é descrito como tendo um QI baixo e entre muitas aventuras e desventuras acabaria por dar por si a correr pela América fora, criando uma citação que marcou a História do cinema. Não sei se a frase tal e qual como a adulterámos para o título algum dia será utilizada pelo povo dos EUA (ou alguém no mundo) numa envergonhada caça ao homem ao actual Presidente. Pensem no episódio White Bear da série antológica Black Mirror e substituam a protagonista por Trump. Qualquer um deles serve. Falando no patriarca, não sei se o seu QI sequer se aproxima do de Forrest Gump, mas a cada dia que passa tenho a ideia que a magnífica e clarividente paródia do filme Idiocracy é mais credível do que desejaríamos.

Noutro extremo oposto, o videoclip do último single de Childish Gambino é possivelmente das melhoras obras audiovisuais do seu meio em muitos anos. E as imagens finais com Donald Glover a correr na nossa direcção são um momento que ficará para sempre na história da cultura pop.

Depois daquilo que mais parece um dos desvios de conversa mais estranhos que já por aqui tivemos, resta-nos falar dos 3 indies desta Caçada que nos trazem corridas, de uma maneira ou de outra.

Runner3

A terceira iteração da série que começou como BIT.TRIP Runner, e cujo sucesso até já permitiu a Runner3 deixar cair o BIT.TRIP como prefixo que serviu de suporte a praticamente todos os jogos do estúdio Gaijin Games. O habitual platforming rhythm game da série está de volta mas já há muito caminho corrido* desde o minimalismo de pixel art do primeiro jogo e este.

O Commander Video já não é apenas uma silhueta preta pixelizada e o seu detalhe volumétrico encaixa dentro de todos os muitos elementos que preenchem o level design de Runner3. Os níveis são visualmente imaginativos, detalhados e surrealistas, ainda que no meio do desafio do jogo sejam apenas um borrão que mal temos tempo de dar atenção.

As “corridas” que fazemos pelos percursos cheios de plataformas e obstáculos continuam interligadas ao ritmo do jogo, com o qual temos de “encaixar” os muitos movimentos que vamos aprendendo, sem margens para erro. Falhar em aplicar o movimento certo para o obstáculo obriga-nos a recomeçar e só terminamos cada nível com uma acção perfeita.

Runner3 ensina-nos diversos movimentos, e depois de tantos insucessos vamos começar a aplicá-los por instinto, e é aí que o grande desafio deste título se torna mais acessível. Um dos melhores rhythm platformers já anda aí e todos devíamos correr para o apanhar.

Horizon Chase Turbo

Havia um tempo simples em que os jogos de corrida como OutRun e Top Gear faziam as nossas delícias com objectivos e focos muito definidos. Clássicos das arcadas cujo desenvolvimento nos fazia imaginar que aqueles jogos eram tão realistas que nos sentíamos nas estradas virtuais do jogo. E nem me façam falar do jogo de Knight Rider

Horizon Chase foi lançado em 2015 para o mercado mobile a levar-nos de volta para esse mesmo ambiente, num dos mais honestos e interessantes jogos de corrida arcade que chegou ao iOS e ao Android. Um jogo simples onde todas as novas tendências de extorsões e artificialismos para enganar o jogador mais incauto a gastar dinheiro eram atiradas para trás das costas em honra de um jogo de corridas arcade onde o nosso objectivo era apenas um. O de chegar… a número um.

Horizon Chase Turbo traz esse mesmo mindset e essas mesmas inspirações para um novo patamar tecnológico na PS4 e no PC, as plataformas escolhidas para o receber. Mecanicamente minimalista, uma das adições modernas a um jogo brilhantemente retro é a introdução de tokens que servem para desbloquear novos carros. No resto este Horizon Chase Turbo é tudo o que nos lembramos dos melhores racing arcade games com os quais crescemos, mas trazido de forma exímia para o mercado de 2018.

Cologne

O mais discreto dos 3 jogos que trazemos nesta Caçada, Cologne é um jogo que dificilmente existiria se Tron nunca tivesse visto a luz néon do mundo. Este é um jogo de corridas retro-futurista na senda da experiência de WipeOut mas com motas que fariam derramar uma lágrima ao Jeff Bridges.

Quando fomos visitar o espaço de Zero Latency havia umas motas Tron-like com um jogo muito semelhante a este Cologne, que com os seus 9,99€ de preço consegue trazer alguns modos diferentes, para além de cerca de 28 pistas que “existem” em planetas diferentes dentro do seu universo. O único problema é que o loop de corrida e a configuração das pistas para além das diferenças cromáticas das pistas é demasiado semelhante e torna a experiência ligeiramente repetitiva.

Com upgrades demasiado caros no início para sequer termos uma mota tecnologicamente competitiva com os nossos adversários, Cologne tem ainda um modo multiplayer online tão deserto quanto grande parte dos jogos indie.

Cologne é interessante, mas recomendado apenas em desconto no Steam. Poupem o restante dinheiro para comprar qualquer um dos outros dois.

* trocadilho intencional