Há um sentimento agridoce em muitos dos jogos que encontram uma segunda vida na Switch. Por um lado, e isto contando com os jogos que foram exclusivos da Wii U, há uma série de títulos maravilhosos que saíram e que pelas fracas vendas da plataforma acabaram por ficar acessíveis apenas a um número restrito de jogadores. Depois há outros tantos títulos multi-plataformas que chegam em versões “menores” à consola numa tentativa de seguir o filão das vendas douradas da híbrida da Nintendo. Para mim o caso mais paradigmático foi o de DOOM, elogiado por muitos pela sua maravilha técnica de “caber” na Switch mas enxovalhado por mim por lembrar-me como é a minha visão se não tiver lentes de contacto ou os óculos postos.
Nestas últimas semanas houve três jogos bem conhecidos que encontraram uma nova casa na Switch, e que apesar de já terem sido analisados por nós merecem um comentário adicional.
Wolfenstein II: The New Colossus
A mesma editora que DOOM e o mesmo estúdio a fazer o downgrade para o jogo correr na Switch. Mas porque é que fustiguei esse port e acabo por ver algum cabimento nesta versão mais pobrezinha de Wolfenstein II na Switch? Tudo se resume ao tipo de jogo do qual estamos a falar.
É verdade que há um impressionante feito técnico do estúdio Panic Button em conseguir alterar texturas e polígonos nos dois títulos, criando alguns efeitos de blur para disfarçar a coisa, apenas para que eles corram nas limitações de hardware da Switch. Mas se o DOOM tem um frenetismo estonteante e um dinamismo competitivo em que todo aquele embaçado míope do jogo a correr na Switch nos lembra constantemente que poderíamos estar uma versão mais fidedigna e que nos afectasse menos o córtex visual, Wolfesntein II é um FPS frenético mas com um grande foco na narrativa. O que significa que podemos ir avançando a história ao nosso ritmo, especialmente em modo portátil, tornando a experiência desta história alternativa (infelizmente quase plausível) um elemento de degustação em virtualmente qualquer lugar.
Ainda assim, Wolfenstein II: The New Colossus na sua versão na Switch consegue disfarçar o seu downgrade de forma aceitável na versão portátil, e é, aliás, a única maneira que recomendo vivamente de jogar uma das histórias mais duras e necessárias dos últimos anos. Se querem jogá-lo na televisão ou num ecrã grande têm as versões de PS4, Xbox One e PC que servem melhor o propósito.
Captain Toad: Treasure Tracker
Um dos melhores exclusivos da Wii U foi um spin-off da série principal de Mario, e que nos colocou na pele do Captain Toad do jogo Super Mario 3D World. Como é que algo vindo do universo do Mario conseguia ser tão brilhante num jogo que não tinha algo tão elementar como a capacidade de saltar?
Cedo Captain Toad: Treasure Tracker nos mostrou que a genialidade da construção dos seus níveis como pequenos dioramas tridimensionais com muitos perigos e obstáculos para ultrapassar, e muitos tesouros e segredos para encontrar, era uma das mais divertidas abordagens que poderíamos ter ao universo do Super Mario. E uma das mais inovadoras.
Apesar de ser um spin-off, ao rejogar este Captain Toad: Treasure Tracker que foi há dias relançado para Switch e 3DS percebi que é um daqueles casos fortes o suficiente para ter a sua própria identidade, e só posso esperar que a Nintendo pegue nesta jóia perdida da Wii U e lhe dê uma nova vida, com uma segunda iteração que sonho estar no horizonte próximo.
A versão de Switch introduz um pseudo-modo co-op, onde um segundo jogador (a par dos jogos de Super Mario Galaxy) controla uma entidade externa ao jogo e que neste caso atira nabos aos inimigos para os derrotar. Não é a adição mecânica mais forte, mas também não interfere de forma alguma na genialidade que é todo este Captain Toad: Treasure Tracker, e que finalmente chega a um vasto público com a sua chegada às duas consolas actuais da Nintendo, trazendo consigo quatro novos níveis baseados em Super Mario Odyssey. E poder jogar este genial puzzle game em qualquer lado com a Switch em modo portátil (ou na 3DS) é algo que todos sonhámos quando Captain Toad aterrou a solo na Wii U.
Crash Bandicoot N. Sane Trilogy
Há exactamente um ano escrevíamos sobre Crash Bandicoot N. Sane Trilogy, e a forma como a trilogia original tinha sido refeita com novos assets para as plataformas actuais, potencialmente apresentando o tresloucado marsupial a gerações de novos jogadores.
Vê-lo chegar à Switch soa a tê-lo na plataforma que quase poderia ser o seu habitat natural. Com a mesma vibrância visual das restantes plataformas e apenas com pequenos decréscimos quando comparado com a versão de PS4, Crash Bandicoot N. Sane Trilogy é um daqueles casos em que não existe nenhuma limitação tecnológica, e a sua chegada à Switch só tem pontos positivos.
Poder jogar os três jogos originais que criaram a nossa febre por Crash Bandicoot em qualquer lado é uma das razões que tornam esta antologia uma adição quase obrigatória a todos os fãs de jogos de plataformas, conheçam ou não esta série que ajudou a fazer da PlayStation 1 o sucesso que ela foi. E que ganha aqui novas vidas sem estar circunscrito às plataformas da Sony.