Caçada Semanal #174
De tantos celeumas da Humanidade que nos assolam, provavelmente um dos mais acesos refere-se a toppings de pizza. Cá na capoeira, por exemplo, temos o João Machado numa postura purista (fundamentalista, diriam alguns) de achar que o ananás nunca deve ser posto em cima da pizza. Por outro lado estou eu, que tenho o ananás como o meu fruto favorito, e que acho que tudo fica bem quando acompanhado por ele.
Esta divergência não impede de ele ser um dos meus melhores amigos e de eu ter o prazer de ser padrinho da sua filha. Sabemos que os nossos limites estão em nunca abordar o tema e prosseguimos com as nossas vidas. Os shooters são um pouco assim. Há quem goste deles mais frenéticos, há quem goste mais tácticos, e há quem goste deles a roçar os battle royales. Os 3 indies desta semana mostram o espectro de bons shooters que por aí andam escondidos sem ninguém falar muito neles.
20XX
Poderia haver uma sitcom chamada Everybody loves Mega Man, porque é verdade. Aquela que é a minha série favorita de sempre e o meu grande calcanhar de Aquiles tem sido alvo de imensas cópias, uma delas do seu próprio criador, Keiji Inafune.
No caso de 20XX (um jogo que se sentava há muito tempo na minha wishlist e que foi recentemente lançado para Switch) a inspiração é óbvia: o magnânimo Mega Man X, onde até a direcção artística, design de inimigos e dos níveis nos lembram desse genial jogo da SNES.
Se a imitação é a melhor forma de elogio, então 20XX é um tremendo “tirar do chapéu” a Mega Man X com os seus dois protagonistas, a “Mega Woman” Nina e o espadachim Ace. Com obstáculos e inimigos proceduralmente gerados sempre que entramos em cada nível, o desafio crescente do jogo encaixa bem com a adição de mecânicas modernas como os upgrades, um sistema de progressão de personagem e o loot. E cedo percebemos que mesmo um pequeno upgrade já faz uma grande diferença na dificuldade dos níveis.
Com um excelente co-op para 2 jogadores, 20XX é verdadeiramente obrigatório para todos os fãs de Mega Man e de shooter platformers.
Milanoir
O sucesso de Hotline Miami levou muitos jogos a tentarem reproduzir o seu sucesso, esquecendo que este era muito mais que uma fórmula criada artificialmente. Milanoir, do estúdio italiano Italo Games é mais um a tentar criar a sua versão do famoso jogo do estúdio Dennaton Games.
Milanoir é Hotline Miami se este não fosse uma ode em pixel art aos 1980s, mas sim uma carta de amor ao crescimento do cinema italiano dos anos 1960 e 1970. Os seus criadores apelidam-no de Spaghetti Noir, o que deve mais ou menos justificar o seu ambiente ligado ao submundo da Mafia, da violência e da prostituição.
Visualmente é brilhante o que foi conseguido com esta pixel art que aprendeu com o melhor dos 16 bits. É impossível não ficar embasbacado com toda a construção artística deste jogo, mas infelizmente todos os restantes componentes caem por terra em comparação.
Um twin stick shooter demasiado linear para sequer sonhar em aproximar-se de Hotline Miami, mas que criou uma auto-ilusão de diversidade e de desafio em formato de puzzle como a sua inspiração. Com a introdução pouco explorada da possibilidade de disparar contra placas de trânsito para ricochetear, Milanoir é insípido mecanicamente como não o é do ponto de vista artístico.
Nem o seu argumento cliché e desinspirado consegue salvá-lo ou elevá-lo para o tremendo potencial que tinha. Milanoir peca por ter uma apresentação brilhante e por percebermos que com uma maior dedicação ao seu level e game design poderia cumprir com a qualidade que poderia atingir. Assim deve ser visto apenas pela sua maior glória: a sua direcção artística.
TankYou!
TankYou! é um jogo do qual é pouco provável ouvirem falar sem ser aqui, e que tem por outro lado uma grande probabilidade de vos pôr a cantar o conhecido single da Alanis Morrissette mas com a letra errada.
Um twin stick arena shooter para até 4 jogadores em couch co-op, desenvolvido pelo one man tank army Virigil Tuser e que nos traz um mundo destrutivo de forma divertida. Com alguma simplicidade nas suas ideias e que de alguma forma me lembra o velhinho Tank City em esteróides, mais divertido e mais diversificado.
Apesar de ser um brilhante desconhecido é um jogo divertidíssimo para estar com os amigos no sofá e que vos vai lembrar momentos de alegria da vossa infância a jogarem com os amigos nas férias de Verão.