Há cerca de dois anos demos de caras com um jogo de aventura indie que nos arrebatou por duas razões diferentes. A primeira era a sua direcção artística com animais antropomórficos que nos levavam para a linguagem dos livros infantis, ou não fosse Stories: the Path of Destinies uma dramatização de um livro de histórias. Por outro eram as múltiplas ramificações desse mesmo livro/jogo que nos fazia conhecer linhas narrativas diferentes.

As muitas páginas de uma boa história

Dois anos depois o estúdio Spearhead Games está de regresso com um novo hack ‘n slash com twist, passado dentro do mesmo universo de animais antropomórficos e que atira a linearidade para um canto. Omensight assume-se como um action murder-mystery, um whodunnit misturado com o Groundhog Day e onde é quase impossível não pensar em Majora’s Mask. Há até pontos comuns com um dos nossos jogos favoritos do ano passado, Sexy Brutale.

Em comum estes dois jogos colocam-nos a difícil missão de reviver o mesmo dia de forma infindável para impedirmos o fim do mundo. No caso de Omensight é uma serpente maligna que irá destruir o universo depois deste ficar desprotegido com o assassinato da Godless Princess. Quem é que a matou e porquê é a resposta que temos de encontrar enquanto encarnamos uma entidade neutra chamada Harbinger, e que tem o poder de voltar atrás no tempo para obter pistas sobre o terrível crime.

Com uma guerra sangrenta entre duas facções, numa beligerância literal entre gatos, ratos e os seus respectivos aliados, é curioso que a nossa neutralidade se revela em aspectos simples, sendo que um deles é mesmo a forma como não tomamos nenhum partido nesta guerra. A nossa missão é simples: encontrar a verdade, e tudo faremos para lá chegar. Até cometer assassinato.

Entre níveis vamos encontrar uma pequena sala fora do espaço e do tempo na qual temos quatro estátuas de personagens que estiveram de alguma forma envolvidos com a Princesa. Alguns aliados e outros inimigos, basta-nos aproximar-nos de um deles para acompanhá-lo nas 24 horas que antecederam o assassinato.

Quando percorrermos um caminho com um personagem e aprendemos algo sobre ele, podemos voltar à sala cósmica e decidir reviver o dia na companhia de outro. É nessa interacção que podemos imbuir os restantes personagens com o que sabemos e vimos das outras linhas temporais dos outros personagens e que vão mudar o rumo dos acontecimentos. Dois inimigos poderão deixar de o ser ao usarmos este poder de Omensight e passarmos informações que não tinham antes, fazendo-os compreender o outro lado.

O interessante aqui é que vamos ter de rejogar os mesmos níveis diversas vezes, mas em cada uma delas o objectivo é alterar a linha temporal para conseguir obter novas pistas e novas informações. É claro que dada a limitação económica deste estúdio indie, esta repetição é grande, e não fosse a excelente narrativa e as pistas que vamos desbloqueando da grande maquinação por trás do assassinato da Princesa, e nada disto valeria a pena.

Personagens que achamos que foram os culpados vão provar-se inocentes, e pelo caminho teremos ainda de executar alguns dos personagens principais para permitir que as linhas temporais ramifiquem e que conheçamos mais sobre a verdade. Aliás, dentro do nosso pragmatismo extremo não existe nada que não façamos para chegar a ela. Mas não há problema, já que nenhuma linha temporal neste loop diário é definitiva, e no fim o mundo acaba sempre… até que consigamos encontrar todas as pistas e desvendar o crime cósmico.

Podemos jogar este jogo no modo difícil e ele não irá marcar nem registar todas as pistas que encontramos ou as portas que conseguimos desbloquear, obrigando-nos a anotar tudo por nós mesmos. Esta é uma opção engraçada mas não me parece que faça grande diferença na experiência total do jogo.

O combate é reminiscente dos jogos de Batman Arkham, mas no qual não podemos bloquear ataques, apenas conseguimos desviar-nos dos mesmos. Andar a saltar de inimigo em inimigo, rolar para longe das investidas e utilizar os poderes que vamos ganhando à medida que subimos de nível, e que tornam o combate interessante ainda que nada de novo seja inserido. A diversidade de inimigos não é grande e as más colocações da câmara acabam por ser a pequena nódoa num sistema que funciona bem neste Omensight.

Omensight, recém lançado para PC e PS4, é uma mistura interessante entre um murder mystery, um hack ‘n slash e o loop (quase) interminável de Majora’s Mask. Apesar da notória limitação de ter de rejogar os mesmos níveis diversas vezes para conseguir encontrar as suas ramificações, há algo de verdadeiramente interessante no seu argumento e na forma como todos os personagens evoluem à medida que o enredo avança. Com um combate interessante, é mesmo a linha narrativa de Omensight quem nos mantém presos num universo partilhado onde a sua linguagem artística vai assumindo cada vez mais um maior protagonismo.