O estúdio Nerd Monkeys tem um cantinho guardado nas minhas críticas positivas ao game dev Português. Falei bastante bem do primeiro jogo, pois adorei o Inspector Zé e o Robot Palhaço a passearem pelos belos cenários pixelizados, no que considero um dos jogos mais bem realizados que fizemos cá em Portugal. O primeiro título sabia que queria passar a alma Tuga lá para fora, e penso que conseguiu.

Além do mais ofereceram-me um Waffle de Banana com a Key do primeiro jogo, portanto quando vierem vasculhar os e-mails aqui da Rubber, já sabem que me vendo por pouco. Portanto não hesitei em lançar-me à sequela com este novo Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades.

A “nostalgia” voltou quase de imediato: os gráficos pixelizados, as expressões brejeiras, a pastelice do Inspector Zé… mas quando aparece o Robot Palhaço… oh quando aparece o Robot Palhaço… Perco 10 minutos a carregar no botão dedicado de piadas secas, que é obviamente a minha feature favorita do primeiro jogo.

“O que é pior que ser atingido por um raio? Ser atingido por um diâmetro”

OK, genial, vamos ouvir outra:

“O que é pior que ser atingido por um raio? Ser atingido por um diâmetro”

OK.. já ouvi esta…

e 7 ou 8 piadas depois acabou o reportório, ou o meu azar no sorteio aleatório tramou-me, deixando-me imensamente triste. EU QUERO AS MINHAS PIADAS SECAS, apontar e clicar em coisas é uma sái da queste!

Mas pronto lá fui fazer o conteúdo secundário.

Pelos vistos anda alguém muito mal intencionado a assassinar os bons utilizadores de transportes públicos portugueses, um assassino no Intercidades Lisboa-Porto-Lisboa e a nossa tarefa é interrogar, remexer e questionar tudo o que for seleccionável até chegarmos ao cerne da questão. Excluindo os breves momentos que passamos no escritório e na estação de comboios (com um aspecto fenomenal, acho que foi a primeira vez que vi painéis de azulejos em pixel art), a acção acontece nas carruagens da primeira à terceira classe do Intercidades, com um leque de personagens bastante distintas.

Não querendo entrar em spoilers, pois a história é o foco do jogo, tenho que fazer uma avaliação dele como jogo singular e como sequela. Como jogo cerrado em si mesmo, este Assassino do Intercidades é um “bom pequeno indie“, demorei cerca de 4 horas a terminar a história principal e todas as side quests, a progressão é mais ou menos linear, mas com boa margem de manobra, apesar de ser fácil imaginar o seguimento da história.

Se tivesse sido o primeiro lançamento da série, teria ficado por aqui, apenas com algumas sugestões de melhoria, pois os primeiros lançamentos são normalmente proof of concept e as segundas aventuras são melhorias significativas. Neste caso senti um pouco o inverso, existem algumas melhorias, mas muito que se perdeu do primeiro para o segundo.

Os mini-jogos são engraçados, sem grande problema para quem já está habituado a eles, mas acredito que possam frustrar alguns jogadores mais casuais. A arte está melhor, mas sabe a pouco, 90% do nosso tempo de jogo é passado no comboio, onde, em termos de ambiente, só é distintiva a carruagem da primeira classe (e a sua fantástica casa de banho), ao contrário do primeiro que tinha uma maior diversidade, que ia dos quartos de hotel, estação de polícia, restaurante, bar, ruas e jardins do primeiro jogo (apesar de haver algumas homenagens a ele nesta iteração do Inspector Zé e Robot Palhaço).

A história, por outro lado, está mais relegada a segundo plano.

PEQUENO E ALGO RELEVANTE SPOILER:

Após o assassino voltar a matar alguém na carruagem em que estamos, sempre que acabamos de entrevistar um suspeito ele morre instantaneamente, criando um ciclo que se repete até ao final do jogo, que nos faz sentir que as entrevistas estão a ser algo desnecessárias, e pelo menos no meu caso, antever o desfecho final. Além disso, foi introduzida uma nova personagem “principal”, o filho ilegítimo do Garcia, que ajudamos a reconciliar com o pai no primeiro jogo, mas além de fazer barulhos de comboio e ter a bexiga pequena, não notei a relevância do rapaz, a não ser que tenha alguma participação importante em algum conteúdo que me possa ter passado ao lado.

FIM DO PEQUENO E ALGO RELEVANTE SPOILER.

Fico com o sentimento que algumas personagens estavam tão bem pensadas/caracterizadas que até ficamos com pena de não termos mais oportunidades de interagir com elas, e gostei especialmente das interacções do Robot Palhaço com as três festeiras.

Agora, um pedido sincero: POR FAVOR, NÃO TRANQUEM A PROGRESSÃO DE HISTÓRIA PRINCIPAL ATRÁS DE UMA CAÇADA DE ITEMS COLECIONÁVEIS.

É extremamente frustrante e desnecessário seguir esta via. Estava bastante imerso no jogo, a aproveitar a história e a questionar o elenco, até que me sobram duas personagens: uma só fala se eu colecionar todos os 12 bigodes, a outra, uma senhora de idade, só me deixa entrevistá-la se o marido der autorização, mas para ele conseguir falar tenho que colecionar os quase 30 dentes de 4 pixeis espalhados sorrateiramente no comboio.

Isto quebrou-me completamente o flow do jogo, pois tive que passar pelo menos meia hora a clicar freneticamente em todos os cantos do comboio a ver quando apareciam os botões de interacção. A minha sugestão, seria reduzirem o número necessário de 100% para tipo 50% ou 60% dos dentes, que assim o pessoal vai encontrando enquanto joga em vez de ter que procurar literalmente todos os coleccionáveis, (exceptuando as cassetes de vídeo e o macaco nerd opcional) e quem quiser o achievement pode procurar na mesma .

Ainda assim adorei o jogo, e quer tenham jogado o primeiro ou não, se são fãs do género vão adorar. As minhas expectativas provavelmente estavam demasiado altas, condicionado pela qualidade do primeiro jogo e do fantástico waffle de banana, que fiquei um pouco a sentir que isto ficou no meio caminho entre uma sequela, e um grande DLC, pois as bases estão fantásticas, as personagens são boas, o humor tem mais algumas piadas hit or miss, mas continua a ser dos poucos que me faz rir alto cá para fora (o também chamado do lol), mas podia ter ali mais um pouco de conteúdo extra para me deixar totalmente convencido.

(E JÁ AGORA MAIS PIADAS SECAS NO BOTÃO DEDICADO, A PARTE PRINCIPAL PARA MIM).

Volto a aconselhar o full price pelo jogo, para suportar os macacos que são tipos fixes, caso não sejam patriotas, ou adeptos de símios em geral, em vez dos 15€ acho que quando os saldos entrarem, 10€ é mais do que justificado pelas 3 horas de conteúdo, mais a hora de inflação de procurar os bigodes e dentes.