Caçada Semanal #177
Se têm mais de trinta anos (e eu tenho quase a certeza que têm) é quase certo que na vossa infância a ideia de Rei que proliferava lá pela vossa casa não se dirigia nem ao D. Duarte nem ao Elvis, mas sim ao Roberto Carlos cujos vinis deviam trilhar quilómetros na agulha dos sistemas de alta fidelidade. Seja o Calhambeque, As Baleias, ou mesmo o Quero que vá tudo para o Inferno, há um espaço para o sobejamente conhecido “Rei” da música brasileira na memória colectiva da cultura musical portuguesa.
Se por outro lado são mais jovens e andam a pesquisar por Roberto Carlos no Google, a grande probabilidade é encontrarem o antigo lateral esquerdo do Real Madrid que marcava uns livres assustadores à Tsubasa, que eram capazes de esventrar alguém se não tivessem cuidado.
E o que é que o Roberto Carlos tem a ver com os três shooters deste artigo? Quase nada. Mas acabei de voltar de férias 13 dias depois de não escrever rigorosamente nada aqui no Rubber, o que é o meu período de “seca” mais longa desde que aqui entrei na redacção há 6 anos. Portanto deixem-me usar a bengala do Rei para aquecer as turbinas de volta à escrita por favor.
To Hell With Hell
Não é por estar a ouvir Cradle of Filth enquanto escrevo (a minha banda favorita da adolescência e que pude ver ao vivo há 1 semana no Vagos Metal Fest) que este twin stick shooter passado no Inferno teria melhor música de arranque.
Nota paralela: já alguma vez pensaram em ver a banda de Dani Filth a ser referenciada no mesmo artigo do grande Roberto Carlos?
Em To Hell With Hell somos Natasias, a filha humana de Asmodeus, regente do Inferno, que se viu atacado e aprisionado pelos seus inimigos, deixando-nos a difícil tarefa de o salvar ao nosso encargo. Este bullet hell apropriadamente passado no Inferno, vem na senda de muitos jogos como Enter the Gungeon com abordagens roguelike duras de roer, onde o nosso número de mortes é quase tão grande como o número de hits que o Roberto Carlos teve ao longo da sua longa carreira.
Mas o que faz deste twin stick shooter roguelike verdadeiramente diferente é a utilização de máscaras aleatórias enquanto novas formas da nossa protagonista, ou seja, por cima da sua forma base e vulnerável podemos apanhar uma máscara que não só trará poderes passivos e activos mas também uma segunda barra de vida sobre a primeira.
A possibilidade de irmos colectando máscaras e de irmos alternando de forma entre elas é parte da estratégia deste To Hell With Hell, na medida em que vamos tentando ajustar os poderes e as características das diversas formas que possuímos às situações em que nos encontramos, o que pode passar por abraçar formas/ataques melee em detrimento da segurança que as armas à distância permitem.
Ainda em Early Access, a fluidez mecânica de To Hell with Hell e as diferentes premissas que traz fazem dele uma das melhores apostas indie num género onde novos jogos brotam no Steam como ferrugem nas engrenagens de um velho calhambeque.
https://www.youtube.com/watch?v=QXRSm7f66Rk
BrutalAliens
BrutalAliens ficará amanhã disponível no Steam e não podia ser um twin stick shooter mais clássico, com a sua visão de quase perspectiva cavaleira a levar-nos para outros tempos de jogos clássicos do género.
Quase sem justificação nem enredo martelado como subterfúgio para justificar o porquê de andarmos de armas em punho a pintar corredores com as entranhas de alienígenas, BrutalAliens chuta-nos para a acção. É assim com esta desfaçatez que este título desenvolvido pelo estúdio Voronoi Games nos põe na pele do General Robson, e a sua intrépida missão de erradicar todos os invasores extraterrestres das colónias humanas.
Com powerups, acção ininterrupta e skills disponíveis, este jogo de ambiente quase arcade onde os níveis são mais repetitivos do que gostaríamos que eles fossem leva-nos para um tempo simples dos shooters isométricos com algumas características dos jogos contemporâneos.
Apesar de não sabermos ainda o preço a que BrutalAliens será vendido, conseguimos recomendá-lo se a sua simplicidade quase nostálgica o mantiver abaixo do 1 euro de preço. Se assim não for há muitas melhores hipóteses dentro do género à vossa espera pelo Steam.
INVASION OF THE BOX PEOPLE
Falando de twin stick shooters de arcada e nostálgicos encontramos de INVASION OF THE BOX PEOPLE que podia ter sido criado nos anos 1990 (e muito dificilmente me convencem que tal não é verdade).
Com aquela simpatia de quem nos diz olá e depois nos dá uma valente bofetada na cara (ou “bufatada”, citando numa ocorrência recente um outro decano artista da língua portuguesa e meu consócio sportinguista), INVASION OF THE BOX PEOPLE leva a ideia de não nos dar a mão um pouco mais longe e decide empurrar-nos para trás para uma arena onde tudo nos quer matar, e efectivamente conseguem-no apenas por nos tocarem uma vez.
Com gráficos hiper-simplificados, temos que destruir tudo o que mexe antes que nos destruam a nós, ou podemos empurrar os nossos inimigos uns contra outros para despoletar efeitos de dominó. Com diversos modos disponíveis, há aqui alguma diversidade mas nada que o torne sequer memorável dentro de um género que tem tão bons twin stick shooters a um preço convidativo.
A par de BrutalAliens, só conseguimos recomendá-lo ou num bundle ou com uma promoção largamente abaixo do euro de custo. Desafiante e divertido, mas dificilmente vale os 6,59€ que o estúdio Angry Giant Games pede por ele.