“Sete são os homens que vem trabalhar para Mafra no convento; oriundos de sete regiões do país; sete bispos batizaram a infanta; sete vezes Blimunda vai a Lisboa à procura de Baltasar e o número sete repete-se na data de bênção da primeira pedra do convento-17 novembro de 1771.” – José Saramago em Memorial do Convento
Pois com estes pequenos excertos de uma das minhas obras favoritas, dou asas ao artigo referente à sétima expansão daquele que detém o recorde do Guinness por ser o jogo do seu género com mais subscritores, falo claro, de World of Warcraft.
Esta nova expansão foi anunciada na Blizzcon de 2017 e prometia trazer de volta uma das maiores batalhas correntes do mundo dos videojogos, Alliance contra Horde pela conquista do mundo de Azeroth. Quem é fã de jogos de estratégia lembra-se perfeitamente do inicio deste conflito com o primeiro Warcraft, intitulado de Orcs & Humans raças essas que sempre foram a base folclórica de uma das mais extensivas histórias de fantasia a que podemos ter acesso entre os milhões de jogos que existem. Foi um anúncio que para além de prometer mundos e fundos, chamava a um dos mais básicos instintos do ser humano, escolher um lado. Eu não sei porque é que odeio a Horde mas é uma realidade de sinto e senti também quase de imediato a necessidade de entrar em jogo e lutar pela minha facção com tudo, porque sim.
O que é que levou a esta guerra quando tudo parecia apaziguado? Simples, durante a batalha contra a Burning Legion no decorrer da passada expansão, a Horde enquanto lutava lado a lado com a Alliance, viu-se forçada a retirar para evitar um total genocídio, com o recuo das suas tropas, os azuis com símbolo de leão em que a honra, a justiça e a lealdade são valorizados acima de tudo, viram-se em larga desvantagem numérica. Face a esta desvantagem tiveram de recuar para segurança mas sendo os últimos a recuar estavam em muitos maus lençóis pois por essa altura já o exército completo da legião estava no seu quintal. Para permitir a sobrevivência das suas tropas, o rei da Alliance sacrificou-se. Escusado será dizer que as vozes de peso da Alliance passam a exigir vingança, mas é algo que fica em “águas de bacalhau”. Depois disto, o Warchief da Horde morre e nomeia uma doida para o substituir que no meio de tanto desconforto diplomático decide que é altura de mostrar a superioridade das suas forças. Tudo isto com a ideia de adquirir controlo total sobre um novo mineral, libertado durante os acontecimentos de Legion e que parece ser a chave para obter controlo soberano sobre o mundo de Azeroth. Talvez por folga do escritor de serviço decidiram chamar a esse mineral, azerite. Muito inovador. Essa doida ataca uma espécie de árvore da vida muito significante para a civilização onde nasceu mas mais tarde se viu forçada a abandonar por coisas que aconteceram no Warcraft III: The Frozen Throne e bla bla bla. Resumidamente é guerra aberta com ambas as facções a invadirem o continente-mãe onde a outra reside.
Agora que já dei uma pequena introdução para os mais perdidos, ou aqueles que não têm seguido a evolução da história de Warcraft vamos voltar a Battle for Azeroth. Entre muitas promessas, que na verdade são reaproveitamentos de velhas mecânicas, temos de facto uma mão cheia de novidades. Talvez uma das novidades mais importantes seja a alteração do sistema de artefacto, visto que ao invés de termos uma arma que evolui com os nossos esforços, passamos a ter um colar, algo muito menos invasivo no nosso inventário. Este colar evolui consoante a nossa colecta de azerite e os seus níveis desbloqueiam habilidades e talentos especiais para alguns equipamentos que vamos obtendo ao longo do nosso jogo. Estes itens ao contrário das armas artefacto de Legion são alteráveis, sendo que podemos obter melhores e melhores opções a cada heroic que fazemos, assim não passamos uma expansão inteira a ignorar um espaço do nosso equipamento eliminando qualquer necessidade de existirem itens do mesmo género, estou a olhar para ti Ashbringer.
Novas raças tanto para a Aliança como para a Horda, sendo elas denominadas de Allied Races e compostas por “edições especiais” de raças já existentes. Estas novas raças podem ser desbloqueadas mediante certas acções, como por exemplo, aumentar a reputação com determinados grupos. Devo admitir que possivelmente não vou jogar com nenhuma destas novas raças e mantenho-me fiel ao meu humano paladino de retribuição, “Retri pala” para os amigos. No entanto é muito fácil desbloquear essas mesmas raças pois em pouco mais de uma semana de lançamento da expansão, já quase alcancei a reputação necessária para algumas.
Um novo modo de World PVP extinguindo de vez a diferenciação entre servidores de jogador contra jogador e servidores de passear em noite de núpcias. Agora qualquer mundo ou servidor pode servir para andares à porrada com pessoal do teu lado inimigo, basta activares essa opção na cidade capital da tua facção e a partir daí podes bater em toda a gente que tiver essa opção activada também e claro, seja da facção contrária à tua. Tenho algumas missões para realizar neste contexto mas ainda não o fiz, nem activei o modo, apesar dos 10% de experiência terem dado jeito enquanto subia o meu personagem de 110 para 120. Não o fiz por querer preparar-me melhor para bater nos Orcs feios e arrancar os cornos a uns Taurens. Infelizmente a maior parte dos meus amigos estão no lado contrário da paliçada e para partilhar experiência com eles, não convém andar à pancada com os meninos, até porque iriam perseguir-me até aos confins da terra só para me humilhar.
Temos também novos locais para explorar, Kul Tiras e Zundalar, e também uma panóplia de novas dungeons e raids para realizar com os amigos ou parceiros de guild. Devo dizer que Kul Tiras é das localizações mais bonitas que já vi, especialmente tocando na sua capital Boralus. Existe algo entre juntar a arquitectura moderna Inglesa do reino de Gilneas com a temática naval e de piratas que cria um charme incomparável. Por outro lado e no reverso da moeda, o pequeno continente de Zundalar baseia toda a sua temática em algo que mais parece saído de uma civilização antiga da América central. Fortes contrastes entre amarelo e verde, e templos de pedra, junto com climas tropicais e desertos agressivos, pintam a paisagem destas ilhas. Se de um lado temos um tema naval com muita pirataria à mistura, aqui encontramos dinossauros e cultos religiosos regidos por rituais do passado. Apesar de adorar Kul Tiras não posso tirar o gosto que é passear pelas ilhas controladas pela Horde e ver todas aquelas bestas gigantes que nem me cabem no ecrã andarem livremente pelo mundo.
Um nova adição são as Island Expeditions, em que ambas as facções exploram uma ilha abandonada em busca de azerite, sendo que a primeira a alcançar o objectivo delineado ganha essa batalha de exploração. São pequenas batalhas 3 contra 3 em que o tempo perdido é precioso. Nas dificuldades mais baixas, os exploradores da Horde são meros NPCs mas ao escolhermos os topos de dificuldade, que valem a pena pela recompensa enorme de azerite que nos proporcionam, aí já jogamos contra uma equipa de 3 jogadores que vão tentar derrotar todos os nossos esforços para ganhar a corrida. Até agora joguei sempre contra “bots” mas assim que tiver oportunidade vou testar este modo contra jogadores de pele e osso, apesar de ser simples e demorar relativamente pouco tempo, tem a sua piada e é um mini-game interessante para se jogar com amigos. Se forem como eu vão perder imenso tempo nisto, especialmente pela sua simplicidade em adquirir recursos.
Agora vou apresentar a cereja no topo do bolo, principalmente se forem como eu e estiverem desde 2003 à espera de uma sequela para o Warcraft III. Pois é, não temos aquilo que queremos e talvez nem aquilo que merecemos mas pelo menos a Blizzard mostrou com a adição do modo Warfronts que ainda se lembra da forma como todo começou, um jogo de estratégia em tempo real. Pois é meus amigos, caros leitores e pequenos murlocks, durante esta expansão será possível entrar num modo em que se constroem edifícios, recolhem-se recursos, comandam-se tropas, tudo aquilo que pretendemos de um RTS como deve ser. Será isto um presságio para um possível Warcraft IV? Quem sabe, mas até lá, serve. Só tenho pena de não ser jogador contra jogador mas sim jogador contra máquina, dedos cruzados para que isso mude. Para além de ser um modo completamente diferente do que temos visto em World of Warcraft, serve também como pilar para contar a história à medida que a expansão vai avançando, sendo que de acordo com uma tabela de conteúdos revelada pela própria Blizzard, as campanhas que podemos realizar neste modo vão avançar ao mesmo tempo que as mudanças neste mundo em guerra ocorrerem, adaptando-se a cada uma.
Esta foi a expansão que me fez voltar a sonhar com o mundo de Azeroth, algo que à muito não me acontecia. Warcraft tem uma das mais elaboradas histórias de fantasia alguma vez escritas e após tantas voltas e reviravoltas ao longo destes 12 anos de jogo voltámos exactamente onde começámos, Orcs contra humanos na guerra que promete ser a maior e mais épica alguma vez vista entre os velhos habitantes de Azeroth e os refugiados que tiveram de fugir do seu próprio mundo em busca de um novo lugar para habitar (obrigado Gul’dan). Eu estou a adorar cada momento nesta nova expansão, e sinto que cada coisa que faço contribui para algo, nem que seja para o meu pequeno e roto bolso de gold coins. Acho que nem mesmo Sargeras previu isto quando espetou a sua espada gigante neste planeta.
Tenho andado a passear por um mundo em guerra com um sorriso na cara, fazendo todas as missões secundárias com a atenção de um pupilo inabalável, comendo cada frase, cada piada, cada canto na esperança de apanhar algo mais. Não posso falar ainda sobre toda a história desta expansão nem a forma como se vai desenvolver pois nem 10 dias passaram desde o seu lançamento, mas posso com toda a certeza dizer que o que tenho experiênciado é de me fazer dar saltos na cadeira com tanta emoção talvez por me lembrar tanto do que me fez escolher um lado e mais do que isso, o que me fez amar este folclore fantástico.
É possível que me tenha escapado algo no texto mas tenho andado a experimentar tanta coisa neste novo velho mundo que não é fácil decorar. Verdade é, já tinha saudades de ver tantos jogadores a povoar os campos, montanhas, grutas e cidades de Azeroth. Se esta “crítica” parecer pouco neutra é porque a emoção fala mais alto e pareço uma miúda de 14 anos vestida de preto no momento em que os Tokyo Hotel entram em palco.
Vemos-nos por Azeroth. E como sempre: “FOR THE ALLIANCE!“.