Voltar de férias tem efeitos estranhos. Possivelmente o mais estranho de todos é o facto invisível para quem está a ler isto de que já comecei e apaguei este artigo umas sete vezes, o que é estranho para o ritmo com que usualmente escrevo. Quem diz que escrever é um hábito semelhante ao de qualquer outro exercício muscular tem toda a razão. Depois de 6 anos a escrever praticamente todos os dias (o que inclui os períodos das duas licenças de paternidade pelo nascimento dos meus filhos) conduziu-me finalmente a um momento ainda não visto de 3 semanas sem escrever. Perro, enferrujado e com dificuldade em carburar lá vou tentar voltar das férias a falar de um jogo sobre tirar férias.

Estas férias de Verão de 2018 marcam algumas novidades na minha vida. Para além de terem sido as primeiras com a família a contar com 4 elementos, foi também aquela em que eu e o meu filho mais velho decidimos contar com a companhia da Switch. Lá dentro, para além de um conjunto de jogos comprados a preparar o período de férias, ia um jogo que assentava que nem uma luva: o relançamento do jogo de 2011 da Wii Go Vacation.

Compreender o fenómeno de jogos como Go Vacation é perceber algumas das linhas orientadoras que fizeram da Wii o fenómeno transversal que ela foi. A conquista do mercado casual com jogos e títulos que apelavam a públicos não nativamente “gamers” e direccionado para períodos de jogabilidade curtos e em grupo teve em Wii Sports uma das suas maiores forças motrizes. A Bandai Namco viria, já num período de quase final da vida da consola, a apresentar Go Vacation como a sua solução para este mercado aparentemente rentável.

Sete anos depois o jogo é re-lançado na Switch, a aproveitar o sucesso da consola híbrida e quiçá a tentar explorar o mercado casual dos mini-jogos de “desporto” e actividades antes que a Nintendo traga para a refrega as suas próprias armas. Há aqui sobretudo uma questão de timing, já que no lançamento original Go Vacation tinha demasiada competição (em termos qualitativos e quantitativos) para ter sido o sucesso esperado pela Bandai Namco.

Assim que começamos a jogar Go Vacation na Switch sentimos que é muito difícil de disfarçar os seus setes anos idade. Ainda preso a uma estética colada aos jogos casuais da Nintendo da década passada mas com notória qualidade inferior, e com lógicas de IUX desactualizadas e que mais facilmente são compreendidas pelo paradigma tecnológico de então do que pelas necessidades actuais. Isso sente-se logo na componente multiplayer do jogo que exige passos excessivos apenas para adicionar ou remover um jogador. Para o fazer temos de sair do que estamos a fazer, dirigir-nos até ao menu principal e seleccionar um novo modo multi-jogador. Os jogos e consolas contemporâneos já fazem esta gestão do número de jogadores de forma mais eficaz e imediata do que esta proposta do Go Vacation, e com a articulação da vida normal foram inúmeras as vezes em que eu e o meu filho andámos a começar e a recomeçar o jogo apenas para podermos partilhar o ecrã.

Go Vacation já era insípido quando foi lançado e continua a sê-lo hoje. A sua apresentação é engraçada para um público mais casual infantil, com as ficcionais Ilhas Kawawii a serem divididas entre 4 resorts distintos (Marine, City, Snow e Mountain) para além da nossa Villa que podemos decorar e onde temos o nosso fiel cão companhia. Cada um dos resorts é formado como um hub world onde nos podemos deslocar de diversas formas diferentes mediante o setting e onde um sem número de NPCs habitam sem podermos interagir com a maioria, fazendo deles apenas mais um exemplo do quão estéril o jogo é.

Cada um dos resorts tem dezenas de actividades à nossa disposição mas facilmente percebemos que a Bandai Namco enveredou por um caminho de quantidade em detrimento de qualidade. Poucos são os mini-jogos verdadeiramente divertidos, e percorrê-los a todos só nos relembra o porquê de Wii Sports ser tão bom por comparação.

Curiosamente a minha opinião é altamente contrastada com a do meu filho de 5 anos que tem estado a coleccionar os selos por cumprimento de todas as actividades em jogo. A liberdade do aspecto sandbox do jogo tem sido um dos elementos que mais lhe têm agradado, à medida que vai deambulando pelos resorts ora a pé, ora de patins em linha, ora de mota de água. A diversidade de actividades, apesar de muitas estarem apenas a fazer número, tem-no levado a seleccionar os seus favoritos onde vai tentando bater os records, competindo comigo ou com o próprio computador. De todos eles têm sido os de skate e de patins no resort citadino, amplamente inspirado pelas mecânicas de Tony Hawk’s Pro Skater aqueles que ele mais tem jogado, e que são por curiosidade dos mini-jogos que melhor execução apresentam num título antológico que é mais fumo que fogo.

Go Vacation não é o Wii Sports que queremos na Switch, mas é o mais parecido que temos. As suas fragilidades são ainda mais evidentes hoje onde as suas limitações estéticas e mecânicas parecem filhas de outro tempo. No entanto, se tiverem crianças em casa, Go Vacation é surpreendentemente um bom título para os deixarem explorar a seu bel-prazer, percebendo pelo caminho o tipo de selecção e pseudo-curadoria de actividades que as crianças fazem de um jogo que tem demasiado para oferecer, mas em que nem sempre tudo é sequer memorável.