Chama-se a vossa atenção para os senhores de óculos de trás, na segunda fila.

Há coisas que acontecem com fluidez fora do normal. Saltar para Banner Saga 3 foi uma delas. Joguei Banner Saga muito por força do artigo do Ricardo Correia, aqui publicado há 2 anos, sobre o segundo jogo da saga. É um artigo incontornável para se perceber aquilo que Banner Saga nos traz e a evolução gradual ao longo da série. Não leram? Vão lá ler. Eu espero.

Leram? Gostaram? Pronto. Banner Saga 3 é o magistral cair do pano a encerrar uma trilogia concebida, desenhada e trabalhada com singular mestria. Não que a coisa se revelasse particularmente difícil. A base, coesa, sólida e bela, estava lá. O mote para o incremento em cada jogo também fora dado com o Banner Saga 2. Se nesse o caminho passou por manter todo o fantástico sistema de combate do jogo original, acrescentando-lhe novas personagens, níveis e sub-mecânicas, neste Banner Saga 3 parte-se dessa base e acrescenta-se-lhe ainda algo mais, sem desvirtuar a lógica e a fluidez do jogo. Desta feita, trata-se da componente de renome heróico. Ao escolher o epíteto para algumas das personagens que atinjam determinado nível, escolhemos também um conjunto de características que lhes permitem ser mais eficientes em combate. Resistência a dano, maior capacidade de movimento, bem como um conjunto de características dependentes de vários factores no campo de batalha – como a distância ou a proximidade a inimigos ou aliados – entre muitos outros.

São suficientes para deixar o jogador já cativado pela saga mais interessado na sua exploração sem se revelarem poderosas demais ou fúteis.

A cidade revolta, em ruínas. A caravana marcha, com um propósito definido

Em termos de mecânicas de jogo temos, portanto, toda a base anterior com uma maior profundidade a convidar a sua exploração e um conjunto de novas personalidades recrutáveis, com algumas surpresas pelo meio. Claro que a mecânica de manter devidamente enterradas as personagens que tenhamos visto ser mortas nos jogos anteriores se mantém, uma vez que, embora com um espaçamento de 2 anos entre cada episódio, este continua a ser um jogo por episódios consecutivos e coerentes. Para tal, o jogo vai buscar os nossos Save games anteriores – e podem estar apenas na Steam Cloud.

Em termos técnicos, a nota negativa vai apenas para alguma instabilidade até agora não verificada em nenhum dos anteriores jogos. Além do irritante hábito do jogo esquecer as nossas definições de idioma, encontrámos alguns bugs e crashes que não se verificavam nos jogos anteriores.


O resto… bem, o resto é Banner Saga. Uma história bem construída, madura, inclemente, com uma arte absolutamente deliciosa, a fazer lembrar os clássicos de animação, e um sistema de combate inovador, dentro das mecânicas de Turn Based Strategy, que primeiro se estranha e depois se entranha. A longa marcha das nossas caravanas mantêm-se fulcrais na evolução da história e transmitem o desespero, o cansaço e a perseverança de um grupo que persiste apesar de um mundo a desabar em seu redor. Negro, opressivo, triste, inclemente, mas sempre com uma pequena réstia de esperança, sempre com uma luz a brilhar ao fundo do túnel. O jogo conduz-nos assim, incentiva-nos a continuar, pela curiosidade e pela ligação emocional entretanto forjada a ferro e fogo com as personagens. E não nos larga. Nem nós o largamos.

Banner Saga 3 é o fim digno a uma excelente e viciante história que nos agarra pelos colarinhos com a força e a violência de um Varl a quem foi negada uma caneca de hidromel. Absolutamente imperdível para amantes de story-driven games com gostinho pela estratégia, com o pequeno – mas delicioso – senão de exigir que se tenha jogado os seus antecessores para devidamente se apreciar esta obra. Banner Saga deixa-nos a querer mais, muito mais dos seus produtores. Resta-nos esperar que faltem apenas dois anos para o próximo.