Caçada Semanal #180

Nunca fui grande fã de techno. Na altura em que alguns amigos andavam a tripar (alguns literalmente) ao som de Carl Cox, já eu andava a fechar-me no quarto às escuras a ouvir Bathory, Old Man’s Child e Cradle of Filth. “São gostos” já dizia o Descartes.

Conseguia perceber a apetência dos meus amigos num contexto teenager de ir para o Parque das Nações para os bares/discotecas da moda, de copo na mão, e dançar nas pistas de dança aquilo que sempre chamei “martelos”. Mas estar em casa a tentar estudar com som saído do subwoofer de um Citroen Saxo rebaixado não era coisa para mim. Mas provavelmente eles diriam o mesmo das minhas esquisitices com música (dita) satânica.

Os 3 jogos de hoje são uma espécie de trips videolúdicas em laivos de arcade.

Tempest 4000

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Esta não é apenas uma homenagem a um dos grandes títulos dos tube shooters dos 1990s. Mas sim o mais recente título do criador original da série, Jeff Minter, e do seu estúdio Llamasoft, que apesar de algumas quezílias com a Atari acabariam por se unir para mais um jogo de tiros à moda de arcada do advento dos jogos 3D.

É fácil considerar este jogo apenas como uma versão remasterizada de TxK da PS Vita, também ele criado por Minter, mas adaptado à tecnologia actual. O efeito psicotrópico do tubo de vectores na primeira pessoa é a primeira coisa que nos salta à vista, ou não fosse o famoso game designer um dos responsáveis pelo desenvolvimento dos visualizers que acompanharam os reprodutores de audio dos 1990s. Quem nunca ouviu música no falecido Winamp com os efeitos psicadélicos ligados? Jogar Tempest 4000 é o mesmo que estar dentro desses efeitos, aos tiros, e com uma banda-sonora de techno da década “a bombar”.

Tempest 4000 é um shooter de arcadas puro, onde a sua missão principal é encontrar os melhores de entre os melhores da tabela classificativa. Dificilmente conquistará novos jogadores que não tenham vivido a época, mesmo com as óbvias influências que tem em estúdios como a Housemarquee. Mas o seu público está perfeitamente definido e decerto já o comprou.

PUSS!

Podia ser um life simulator de Donald J. Trump, mas não é. Igualmente filho da cultura contemporâneo, do psicadelismo e aleatoriedade da cultura internética e do vaporware, PUSS! deve ser o equivalente a meter ácidos e tentar jogar Dig Dug, mas com menos controlos e menos objectivos.

Este avoid ’em up é jogado apenas com uma mão, controlando o rato, o que no caso do actual POTUS lhe deixa uma mão livre para fazer outra coisa qualquer. Percorrer os labirintos deste PUSS! sem tocar em nada é uma missão quase impossível já que é um jogo hiper-difícil que está constantemente a aumentar o desafio que temos até chegar a níveis doentios.

Este jogo verdadeiramente hardcore funciona quase exclusivamente por sistemas de tentativa-erro e memória muscular do que perícia nata. Com todo o seu absurdo visual e a música techno a “bater” incessantemente nas colunas ou no headset, PUSS! é destinado apenas a jogadores que querem ser frustrados por níveis de dificuldade sobre-humanos.

ZIQ

Mantendo o tom de jogos simples desta Caçada Semanal, ZIQ é um Endless Runner completamente arcade e que, apesar de não reinventar um género também ele usualmente simples, consegue adicionar alguns elementos diferenciador.

O maior de todos é mesmo a existência de polaridades no jogo, no qual temos de passar por interruptores para activar a polaridade certa que nos permita passar portas e activar trampolins que nos projectem sobre piscinas de ácido.

Com alguns itens para apanhar nas laterais do nível sempre em movimento, a dificuldade passa por termos mesmo de acertar ou antever as polaridades que vamos ter de possuir para ultrapassar os obstáculos, sob pena de perdermos. E na realidade vamos perder muito e muitas vezes.

ZIQ é um bom jogo para apanhar em promoções, já que as suas óbvias limitações visuais e mecânicas dificilmente justificam o seu preço inteiro.