E com a afirmação no título não quero propriamente dizer que perdi o respeito, interesse, ou outra coisa qualquer nessa histórica e genial criadora de arcade games que é a SNK. Uma empresa que soube manter o género dos fighting games vivo quando o mercado o parecia ter esquecido, que soube alimentar a criatividade nos jogos que lança e de servir de inspiração para outros estúdios que continuariam o seu legado como a Arc Systems Works. Por outro lado preciso de fazer o exercício de abstracção de perceber que este SNK Heroines: Tag Team Frenzy não é um típico jogo da SNK, e responde a público e a necessidades muito específicas.

Começamos por perceber nos primeiros instantes que este jogo é muito mais simples que qualquer outro fighting game da SNK, mais simplista até que os jogos dos anos 1990 do estúdio japonês. Este é na realidade um party/fighter game disfarçado de 2 button fighter onde a profundidade mecânica do género é atirada para canto e substituída por uma abordagem tão superficial que o único grande ponto positivo é mesmo o facto de ter um nível de entrada baixo mesmo para quem nunca jogou fighting games.

Esqueçam o que Fatal Fury ou Samurai Showdown vos habituaram, com combos e movimentos únicos dedicados a cada personagem. O limite de amplitude de habilidades e golpes de SNK Heroines: Tag Team Frenzy é tão curto que é possivelmente o primeiro jogo do género que jogo que não traz a possibilidade de agachar. Sim, leram bem. Se o compraram e pensam que os vossos Joy-Cons ou Dual Shock estão danificados, desenganem-se. Simplesmente não dá para agachar.

Não é que o enredo de um fighting game (tirando algumas excepções) seja um dos seus grandes elementos, mas SNK Heroines: Tag Team Frenzy vai mais longe na sua banalização dos jogos de luta. O conceito deste mash-up de personagens femininas de jogos do estúdio (ou versões femininas como é o caso de Terry Bogard) é que um fetichista raptou o elenco do jogo, as vestiu de forma provocatória e as obrigou a combater entre elas. Acredito que ali pelo meio esta entidade tenha pedido alguma intervenção divina para adicionar jiggle physics ao jogo já que o óbvio fan service dos movimentos mamários do jogo são demasiado evidentes.

Os modelos tridimensionais do elenco são interessantes mas deixam saudades da pixel art antiga da SNK, ou da situação de compromisso em cel-shading que a Arc System Works tem nos seus jogos recentes. As 14 personagens vêm todas de jogos bem conhecidos mas têm as suas roupas originais alteradas. E é aí que entra uma das grandes forças do jogo: a customização, em que usamos o gold do jogo para comprar novos fatos e novos itens para alterar as nossas lutadoras. Para além disso, e já que o combate é de duplas em tag team, temos cut scenes exclusivas mediante as escolhas de duplas que fazemos, mas ao contrário do que temia conseguimos desbloquear estas sequências animadas com in-game gold sem precisarmos de passar o jogo com todas as combinações de lutadoras possíveis.

Há, no entanto, ligeiras alterações aos fundamentos do género que conseguem ser um ponto positivo dentro dos aspectos de combate, que são, como já dissemos, insípidos. Para derrotarmos as nossas oponentes não basta levarmos a sua barra de vida a 0. Quando o fazemos atordoamo-las, e temos de usar um Dream Finisher (que aqui é alcançada apenas por carregar no botão R, sem grande dificuldade). Mas para usar um destes ataques finalizadores precisamos de ter a barra de Spirit, que nos permite fazê-los. Ou seja, é possível que consigamos destruir a barra de vida dos adversários mas que não tenhamos “energia” para terminar o combate, prolongando este um pouco mais. Mas apesar desta mudança de mindset nos fighting games, SNK Heroines: Tag Team Frenzy continua a ser bastante superficial e casual e uma tremenda desilusão para quem espera sempre algo mais de um jogo proveniente da SNK.

A duração e profundidade de cada combate é curta, em oposição a qualquer outro fighter que já jogámos. Este jogo permite também co-op fighting, em que cada jogador controla uma das personagens e pode até, de fora do campo, atirar os itens recolhidos aos adversários. É fácil vê-lo como um party fighter game, especialmente com a sua utilização de itens dentro de jogo, mas com uma profundidade tão distante dos grandes do género como Super Smash Bros. Ao contrário do que a SNK nos habituou, até o movimento das lutadores parece lento e rígido, longínquo dos precursores do género que o estúdio japonês criou.

SNK Heroines: Tag Team Frenzy é, dentro da sua superficialidade, mais fan service game do que um fighter coeso por si só. O combate simplista não vai conseguir apelar aos fãs do género, e penso que o seu único destino remonta os jogadores que vão satisfazer algumas necessidades biológicas com o visual das glândulas mamárias das lutadoras. Como jogo SNK Heroines: Tag Team Frenzy é muito pouco, mas acredito que seja muito para o nicho que procura outro tipo de resposta para os videojogos que não apenas as lúdico-emocionais.