Ah Capcom… Tantas vezes que já falámos mal de ti aqui, tantas queixas sobre como tratas mal as tuas propriedades intelectuais como Phoenix Wright e Mega Man, como negligencias as tuas melhores dádivas ao mundo e como às vezes algumas pessoas desejam que vás à falência para que alguém trate aquilo que tens com o valor que merece… Tipo aquele amigo(a) eternamente apaixonado(a) que espera que a pessoa amada ganhe juízo e largue a besta com quem está. Apesar disso ser tudo verdade, hoje vou ignorá-las um pouco, porque tal como um(a) companheiro(a) habitualmente negligente, de vez em quando consegues surpreender-nos com um gesto super romântico que apesar de não salvar a nossa relação, durante uns momentos deixa-nos em êxtase nostálgico lembrando dias em que fomos mais felizes. Esta semana, como para me recompensar de um aniversário esquecido em que ficaste no trabalho, trouxeste-me um belo bouquet de jogos na forma de Capcom Beat’em Up Bundle, e eu não podia estar mais feliz.
Nos anos 90s do século passado, a Capcom era rainha dos Beat’em Up de arcadas, a minha educação de pancadaria em movimentação da esquerda para a direita (e toda a minha geração) foi feita metendo muitas moedas naquelas máquinas que odiava adorar. É verdade que há varias maneiras de jogar Beat’em Ups em PC ou consolas comprando-os em separado, mas quando a Capcom junta o meu favorito Knights of the Round (1991) a The King of Dragons e Captain Commando do mesmo ano, adicionando o clássico dos clássicos Final Fight (1989) e Warriors of Fate (1992), fechando a lista com Armored Warriors (1994) e Battle Circuit (1997) que até agora nunca foram lançados em consola podemos pensar que €19.99 é um preço um pouco alto para 7 jogos com pelo menos 20 anos, mas se formos ver que podemos pagar €6.99 apenas por um, às vezes muito mais antigo talvez seja um um investimento a ponderar.
Se formos ver bem as coisas, Capcom Beat’em Up Bundle não é um jogo obrigatório para todos, mas para alguns, que gastaram fortunas de mesadas em máquinas de jogos é uma compra obrigatória. Isto faz sentido mesmo que não pareça, não é só pelo sentimento nostálgico mas porque são jogos que aguentam bem a passagem do tempo, e são óptimos para passar o tempo. Não vamos estar com ilusões que Knights of the Round ou Warriors of Fate têm argumentos profundos, escritos com mestria poética na sua prosa. Mesmo tendo como base as crónicas de Rei Artur ou a Guerra dos Três Reinos. Ter essa base ou o enredo ridículo de Final Fight em que o objectivo é recuperar a filha de Haggar, é exactamente igual no que respeita ao jogo em si. Ir de um lado para o outro dando o máximo de porrada ao máximo de inimigos, enquanto sofremos o mínimo dano possível. Contudo esta falta de “conteúdo” permitiu à Capcom criar alguns dos melhores jogos do mercado, com mecânicas que são utilizadas ainda hoje neste e noutros modelos, jogar Capcom Beat’em Up Bundle é uma lição na história do género.
Foram acrescentados pequenos features que “modernizam” o sistema e facilitam a jogabilidade aos mais novos, podemos gravar e carregar jogos a meio, podemos decidir previamente quantas vidas base temos e em alguns casos a quantos pontos ganhamos uma extra, algo que com continues infinitos não devia fazer muita diferença, mas faz porque podemos usar todas as “moedinhas” virtuais do mundo para chegar ao final de cada um deles, meter o nome no high score e dar por concluída a sessão de jogo. É uma óptima maneira de passar uns tempos numa sala de espera do dentista (versão Switch) ou em casa enquanto não temos nada que fazer (versão Switch, Xbox One ou PS4).
Só que temos o outro lado da moeda, e na nossa mente andamos anos para o passado e vemos aquele rapazinho que entrava na sala de arcadas escura com uma moeda na mão, vencendo o medo de ser expulso por não ter idade legal para ali estar e pensava para ele mesmo “Hoje vou acabar este jogo só com esta moeda”, é para esse rapazinho que provavelmente ainda vive dentro de nós que este bundle foi feito, para nos dar a oportunidade vezes sem conta de acabar o nosso jogo favorito só “com uma moeda” e ao não conseguir, repetir a tentativa vezes sem conta. O rapazinho nunca o conseguiu fazer, acabava sempre por gastar mais dinheiro no jogo, mas era um sonho bem bonito.
Desde que comprei o Bundle já acabei Knights of the Round uma vez usando 15 continues, e Final Fight também usando 11. Ora se cada jogo na altura custava na altura 50 escudos, convertendo para Euros dá €0.25. Multiplicando esses €0.25 por 28 jogos (26 continues mais os dois iniciais) dá €7 euros, se a isso adicionarmos os outros jogos que joguei no restante bundle e nestes dois títulos que não acabei, mais taxa de inflação, IVA, e outros impostos… como dizia o outro “é só fazer as contas” mas nesta perspectiva Capcom Beat’em Up Bundle começa a parecer um bom investimento. Se fizermos as contas como foi feita a adaptação escudo-euro em que 50 escudos passou para €0.50, ainda parece mais barato.
Deixando de parte as brincadeiras económicas, Capcom Beat’em Up Bundle é realmente um óptimo pack de jogos arcada para apaixonados do género, seja para jogar a solo ou com amigos (local ou online) é uma óptima viagem de nostalgia pela história das antigas salas de máquinas. É pena que mais estúdios não façam algo semelhante.
Entretanto parece que a Capcom se anda a tentar redimir, depois dos Bundles de Megaman e este, já anunciou que também vai lançar para a Nintendo Switch um pack com os três primeiros Phoenix Wright. Não são jogos novos mas são algo. Só falta o meu bundle de Megaman Battle Network para eu começar a acreditar que afinal não vivemos na linha temporal mais negra.