Na mesma sequência de perguntas que poderiam vir n’O Diário de Maria, do mesmo nível de “Ontem bebi mais de quatro cafés, serei toxicodependente?” e “Ontem encostei-me a uma parede durante 5 minutos, serei uma prostituta?” fica a pergunta que urge fazer depois de ter aderido ao Origin Access Premier: “e agora”?
A resposta mais simples é “gastaste 99,90€”. O que é mais ou menos verdade, considerando que eu já subscrevia o Origin Access, quando fiz o upgrade para o Premier foi-me creditado o tempo que restava e devolveram-me 10€, portanto gastei cerca de 89,99€. Mas e agora?
Em semana de lançamento de FIFA 19, o que aconteceu é que já tenho acesso ao jogo e já o ando a jogar. Olhando para aquilo que é a oferta anual, continuo a achar que este tipo de serviços, a par do Xbox Game Pass ou o PlayStation Now (que não está disponível no nosso território) acabam por compensar versus o investimento médio em cada plataforma. Vejamos o caso exclusivo da Electronic Arts. É sabido que os jogos com iterações anuais são aqueles que mais desvalorizam após o seu lançamento, com os FIFAs muitas vezes a valerem meros euros meses após o seu lançamento. Há muito que defendemos que para a pouco profunda alteração de iteração em iteração que a EA devia criar um serviço fixo que permitisse aos seus subscritores simplesmente fazerem um update ou o download de uma nova iteração quando ela estivesse pronta.
O FIFA 19 tem um preço aproximado de 59,99€ o que só por si significa 60% do valor total do serviço de subscrição anual. Para quem esteja a pensar em comprar Battlefield V cujo preço é o mesmo, estamos já a falar de um acréscimo de 20€ ao valor total da subscrição. Facto que vai apenas aumentando à medida que adicionamos Anthem e outros exclusivos que a EA anunciou e que fazem parte do serviço. Para além destes títulos recentes há outros quase tão recentes e tantos outros mais antigos que fazem parte do Vault, disponível para download instantâneo num total de 149 jogos presentes neste momento e a crescer.
Ontem falava com o nosso Mota sobre a minha subscrição ao serviço, e ele, céptico, argumentava contra, especialmente pelo facto de os jogos nunca nos pertencerem. Nos dias que correm esta ideia de propriedade já me parece desfasada com a realidade. Tenho milhares de jogos no Steam, muitos mais do que uma pessoa sensata deveria ter, e tenho a ideia que os milhares de euros que ali gastei servem para muito pouco caso um dia a plataforma feche. Os jogos são meus, mas por outro lado também não o são. Aquele vazio legal de possuir 0s e 1s.
Vivemos numa era, felizmente, no meu entender, em que temos acesso à cultura enquanto serviço relativamente aberto. Tenho diversas subscrições activas, desde o Spotify ,e Adobe Master Collection para mim e para a minha mulher, ao Amazon Prime Video e Netflix para toda a família, PS Plus e Game Pass (ainda que estas subscrições me tenham sido oferecidas). Agrada-me o acesso instantâneo aos serviços, e vivo em paz com a consciência de que todo o conteúdo ao qual acedo é legal, digital e parte do éter, o que significa que numa hecatombe electromagnética que destrua os servidores base vão deixar-me com praticamente nada.
Pensemos no caso do FIFA, que como sabemos é dos jogos mais vendidos em Portugal. Olho para a minha prateleira e consigo ver iterações antigas, algumas tão atrás que vêm da PS2. Sabem quanto é que elas valem cada uma em revenda? Ou quanto custa um FIFA 17 ou 18 para PS4, dias antes do 19 sair? Os jogos da EA têm esta característica: são de uma efemeridade surpreendente. Conhecem alguém que diga “eu como coleccionador tenho ali o meu FIFA 12 na prateleira porque é uma raridade e porque é um marco na série”? Mas podem ver alguém com a sua cópia de um God of War, Halo ou Super Mario Galaxy com apreço emocional sem nunca os venderem.
Não tenho qualquer comissão da EA para defender um serviço como o Origin Access Premier, e até a minha própria subscrição foi paga por mim. Mas continuo a achar que a sua mais valia para quem habitualmente investe em mais do que um jogo da gigante norte-americana compensam largamente o investimento, para além de termos acesso a um acervo legal de excelentes jogos do passado recente e não só que não se encontram noutras plataformas. Ou ter o The Sims 4 completo sem ter de comprar as diversas expansões isoladamente.
Há, porém, um perigo associado a este tipo de subscrições para uma empresa como a EA. Se as pre-orders são um livre-trânsito para as empresas lançarem os jogos “de qualquer maneira” porque já têm o nosso dinheiro, uma subscrição anual parece, à partida, um compromisso ainda maior. Mas acredito que neste caso não seja, já que por um lado facilmente cancelamos a nossa subscrição e não renovamos em protesto, ou porque o somatório de tudo o que o serviço nos dá direito quase que dilui o impacto negativo de um lançamento. E sim, estou a olhar para a grande probabilidade de o teu lançamento ser uma valente treta, Anthem.
Para além de FIFA, Madden, e afins que muitas vezes são alvo das nossas críticas, há um ponto em que a EA tem sido exímia: no seu programa EA Originals. Com três lançamentos no bolso, Unravel Two, A Way Out e FE, estes indies apoiados pela gigante americana estão também acessíveis no momento de estreia com o serviço Premier. O que no caso deste ano civil, só estes 3, com a sua brilhante qualidade, já compensavam o investimento no serviço.
E para o ano? Não sei se manterei o serviço, mas é provável. Já era subscritor do Origin Access (que custava 30€ anuais) e este acesso instantâneo a todos os títulos parece-me compensatório no somatório de todos os pontos. Os jogos não são meus, mas neste mundo digital nada é. Que o diga o meu FIFA 18 a olhar para mim na prateleira, sabendo que nunca mais vai ser jogado.