Caçada Semanal #182
Há sempre alguém a querer vir à nossa memória com uma pá e escavar para perceber o que encontra lá dentro. Esse é um dos segredos do revivalismo e da nostalgia: trazer-nos novos objectos que nos levem de volta aos tempos que vivemos, cujas memórias parecem tão vivas hoje como se as estivéssemos a viver.
Ver indies que levam esta ideia de retro mais longe não é novidade, como é o caso dos dois jogos desta caçada.
Perspectrum
Um jogos que poderíamos ver nos nossos computadores antigos não tivesse ele sido lançado há pouco mais de um mês. Com uma paleta cromática reduzida, um dos desafios visuais deste Perspectrum é justamente o de perceber onde se encontram os primeiros e os segundos planos.
Funcionando como um puzzle platformer aberto onde os níveis e mundos diferem no seu ambiente, como reinos paralelos de elementos diferentes. O cenário é desenhado sobre ambientes de água, gelo, lava e ácido, e através de mudanças entre eles vamos resolvendo os obstáculos e progredindo de ecrã para ecrã.
Imaginemos um pequeno lago gelado que se pode transformar em água ao mudarmos o elemento do nível. Isso permitir-nos-ia atravessar o lago e descobrir o que se encontra sob a água. Ou um deserto de lava que podemos mudar para que esta fique no background e seja menos ameaçadora. É nestas alterações simples de ambiente e elemento que todos os puzzles são resolvidos, onde o limitado detalhe cromático e visual são também parte do desafio curto deste pequeno jogo.
A ajudar à dificuldade deste jogo é outra evocação a tempos antigos: a total inexistência de mapa que nos vai obrigar a criar mapas mentais dos percursos que fizemos. Perspectrum é um jogo sólido com uma abordagem retro, com puzzles e orientação velha guarda, apetecível aos revivalistas dos jogos dos anos 1980.
Nogalious
Quando pegue em Nogalious fui instantaneamente projectado para a sala de um primo meu, quando nos sentávamos no sofá dele a jogar Commodore 64. Nogalious vem emular (não literalmente) tudo aquilo que fez dos jogos da era do Commodore 64 memoráveis, e a primeira delas é a apresentação visual.
O detalhe (e a falta dele) característico das limitações técnicas dos jogos de então surge aqui em toda a sua glória, adaptado a um platformer que também ele foi desenvolvido com todas as características de um jogo de Commodore 64.
Os ecrãs estáticos por onde vamos passando ao longo destes 5 mundos revitalizam o desafio e o nível de dificuldade dos jogos que todos jogámos. A parte mais interessante deste novo-velho jogo? É que os seus autores lançaram-no originalmente para MSX, Spectrum, Amstrad e Commodore 64,e decidiram finalmente trazê-lo para Steam para uma abrangência ainda maior de jogadores.
Com boss battles duras de roer como aquelas que quase nos faziam esmurrar as teclas dos nossos velhinhos teclados, Nogalious é como Perspectrum: uma valente viagem pelo corredor da memória com jogos que podiam ter sido lançados na nossa infância, mas que surgem 30 anos depois como que perdidos numa cápsula do tempo.