Desde Don’t Starve que mordi o isco dos survival games, caindo numa toca de coelho que me deixa preso durante horas mesmo em jogos mais estáticos mas com a vontade de perceber o quão longe eu consigo ir na missão de permitir aos personagens sobreviverem às agruras do jogo. Um desses casos foi 60 Parsecs!, cujo antecessor eu há muito seguia na wishlist do Steam sem nunca ter tido a decisão de o comprar.
Esta é sequela a 60 Seconds!, com o estúdio Robot Gentleman a mudar por completo a perspectiva em relação ao jogo original. E do que trata 60 Parsecs!? Sobrevivência, de forma risível, que em muito me lembra uma mistura de Out There e Cosmonautica com a tendência actual de survival games como The Flame in the Flood.
E é neste cocktail de coisas que me fazem lembrar outras que encontramos 60 Parsecs! onde temos apenas um minuto para percorrer a nossa nave, apanhar o máximo de recursos que conseguirmos e seleccionarmos quais os membros de equipa é que vamos salvar, já que não podemos salvar todos.
Já perdi a conta às vezes que utilizei a magnum opus do nosso José Cid como referência para acompanhar jogos aqui no Rubber. Mas se há algo que 60 Parsecs! parece mesmo ter sido feito é como acompanhamento à música Fuga para o Espaço do Cid. É que é exactamente isso que temos de fazer nos 60 segundos iniciais: decidir sobre pressão o que colocamos no nosso space pod antes de nos ejectarmos em direcção ao espaço, vendo a Terra a arder atrás de nós e fazendo figas para irmos aterrar a algum planeta que nos permita subsistir.
Ao contrário do que imaginava, a fase mais dinâmica que aparece nos trailers, onde andamos de um lado para o outro a recolher objectos e tripulação acontece apenas no primeiro minuto de jogo. A partir daí todo o jogo se desenrola num ecrã estático, que vai mudando mediante as nossas acções e os eventos, mas apenas no passar de cada dia.
Este ecrã representa o centro do escape pod, onde a nossa tripulação se encontra reunida. É aqui que conseguimos saber o estado de cada um, desde fome, doença ou sanidade. Podemos construir itens para saciar qualquer uma dessas necessidades, mas a fome, como é óbvio, acaba por ser a mais presente.
A cada dia que passa o computador da nave vai-nos confrontando com decisões que temos de tomar. Uma família de baratas super-inteligentes vivem connosco a bordo da nave? Decidimos matá-las ou coabitamos com elas? A sanita da nave está entupida, devemos desentupi-la à força ou com destreza? O resultado de cada decisão só sabemos no dia seguinte, com as consequências que daí podem advir. Podemos encontrar recursos ou perdê-los, podemos magoar membros da tripulação ou até matá-los, mas todas as nossas decisões têm uma consequência, seja positiva ou negativa, e é com essa aparente aleatoriedade que temos de conviver.
Se encontrarmos algum planeta podemos decidir aterrar e explorá-lo. As explorações são decididas por locais específicos previamente sondados, e usualmente obrigam-nos a escolher qual o membro da tripulação municiada de quais objectos irá passar três dias fora em missão de reconhecimento.
Na minha primeira playthrough (como podem ver no nosso canal de Twitch) sobrevivi 52 dias até que toda a minha tripulação perecesse, o que, dentro da aleatoriedade diária das decisões que temos de tomar, é surpreendente para as expectativas que tinha para o jogo. Reconhecendo o género, e visto que a quase totalidade deste título (à excepção exacta dos primeiros 60 segundos) se processa em sistema de ecrã estática com point ‘n click, acredito que este era daqueles jogos que, à semelhança do magnífico Out There, funcionaria na perfeição num ambiente tablet Android ou iPad.
60 Parsecs! pela sua falta de dinamismo e foco no texto e na aleatoriedade das decisões que temos de tomar não é um survival game para todos. Mas o seu delicioso tom humorístico em perfeita consonância com o visual cartoon, aliados ao desafio e à diversidade de eventos ou ocorrências que nos surgem em diferentes playthroughs tornam-no uma das maravilhas deste género. E um daqueles jogos que podemos mergulhar em jogadas curtas na esperança de conseguirmos superar os nossos próprios records de sobrevivência.