O nosso editor chefe, que escreveu os dois primeiros artigos que eu venho aqui dar seguimento, tinha a mania de fazer piadas sobre o facto de eu ter uma Xbox One e ser adepto do Sporting Clube de Braga. A primeira destas coisas partilho com 3 ou 4 pessoas no mercado nacional e a segunda com o Presidente da Republica Marcelo Rebelo de Sousa e mais 2 ou 3: somos um pequeno nicho, mas um nicho valioso. Quando saiu o artigo do Ricardo sobre o serviço online da Nintendo pensei em responder nos comentários, mas como ele já tinha feito o da EA também achei melhor dar a minha perspectiva num pequeno texto porque é particular a este mercado da consola norte-americana que já mencionei.
Durante muito tempo não concordei com serviços de subscrição, digamos que numa vida passada em que era mais materialista por osmose das pessoas que estavam em meu redor na altura e antes de passar muito tempo em meditação profunda para aprender a largar o passado e as posses.
Hoje vejo algumas coisas de uma forma mais aberta muito graças a algumas particularidades dos serviços da Microsoft. Outras nem por isso.
Como alguns de vocês podem saber eu sou um bocado adverso a jogos online/multiplayer, portanto os serviços de subscrição como os da PlayStation, Microsoft e agora também da Nintendo sem os quais os jogadores não podem jogar uns com os outros não me fazem grande mossa porque não jogo com outras pessoas, sem ser Sea of Thieves com o meu irmão, assunto sobre o qual já lá vamos. Antes é preciso dizer que concordo totalmente com algumas críticas que o Ricardo fez sobre o serviço da Nintendo, que eu “paguei” a subscrição anual para ter mas tenho mais a acrescentar. Eu não jogo Mario Kart 8, Splatoon ou Super Smash Bros., portanto para quê assinar a subscrição? De certeza que não foi pelos jogos da NES que não só tenho na minha original, na Mini-NES e em várias outras plataformas móveis como a DS ou 3DS e mesmo assim não os jogo. Por mais históricos que sejam, são jogos dos anos 80 tiveram o seu lugar na indústria são clássicos, muito giros, muito cool e retro mas vamos ser sinceros, de toda a gente que tem o serviço quem joga mesmo aquilo? Pois… bem me pareceu… é uma feature gira mas nada mais que isso. Têm tanta utilidade como ter um Carocha ou um Citroen 2CV na garagem, muito bonito para mostrar aos amigos mas andamos num Renalt Clio todos os dias.
A razão principal pela qual eu assinei foi, pelo menos para já, pelos cloud saves. Eu recuso-me a perder as centenas de horas de conteúdo desbloqueado em jogos como Breath of the Wild ou Super Mario Odyssey. Por isso é que usei as minhas gold coins para “pagar” a subscrição. A outra foi ter a esperança que os subscritores tenham algumas funcionalidades adicionais no futuro, nem que seja descontos extra em compras online, por exemplo mais 5% desconto, mas não me parece. O que hoje me leva a pensar que desperdicei o meu dinheiro virtual num serviço da bosta. Mais valia ter pegado numa nota de €20 e ter dado a uma stripper, ou atirado pela janela, o efeito era igual.
A minha reacção com o serviço da Nintendo é perfeitamente ilustrado nesta imagem.
Isto leva-nos aos serviços de subscrição da Microsoft.
Sem fanboyismos, digo que os serviços da Xbox são melhores porque tenho argumentos sólidos para isso e são livres para contestar ou discordar, que eu também tenho o direito de continuar a achar que estão errados. Comecemos pelo Xbox Gold, sem olhar a comparação de preços porque são os mesmos do equivalente da Sony e oferecem coisas completamente diferentes da Nintendo. O que temos com o serviço?
Multiplayer online entre outras coisas tipo voice chat ou lá o que é, e quatro jogos por mês, dois deles da Xbox One, e outros dois da Xbox 360, já que a consola actual é retro-compatível com a geração anterior. Olhando apenas de Janeiro de 2018 até hoje, alguns dos títulos 360 foram Crazy Taxi, Dead Space 2 e 3, Virtua Fighter 5 e Hitman: Blood Money, para Xbox One tivemos Assassin’s Creed Syndicate, Metal Gear Solid V, Forza Horizon 2, Superhot e For Honor. Neste ponto os defensores da PlayStation habitualmente contestam com os argumentos sobre “exclusivos” e “qualidade” dos jogos que estão disponíveis pela subscrição Plus ao que o meu contra-argumento é simples: se deixarem de pagar o Playstation Plus, deixam de ter acesso aos jogos, enquanto com o Xbox Gold, pelo menos os jogos da 360 são sempre nossos, mesmo com o cancelamento da assinatura. Se considerarmos que uma assinatura anual custa €60, e dividindo a coisa irmãmente estamos a falar de um bundle de 48 jogos nos quais pagámos €1.25 por cada um. Com o bónus de poder jogar online, para quem gosta disso.
Como tinha dito, o único jogo online em que participo é o Sea of Thieves, e tenho estado muito ausente desse por falta de disponibilidade, mas percebo quem gosta de jogos multiplayer, eu também sou um fã dos Rocky e não sou má pessoa por isso. Por outras razões, sim, mas não por isso.
Enquanto o Gold mostra nitidamente a sua superioridade sobre a Nintendo e a PlayStation, o Game Pass mostra que no mínimo é capaz de se aguentar contra os outros pelo catálogo enorme que tem. O maior problema do Game Pass do ponto de vista de consumidor é ter apenas a opção de pagamento mensal. A quantia é de €9.99 mas não há hipótese de ter descontos por assinaturas mais longas como, por exemplo o serviço da EA. De um ponto de vista empresarial, percebo perfeitamente a opção, é economicamente mais rentável à casa. Com o Game Pass temos acesso a centenas de jogos, inclusive os lançamentos exclusivos no dia de lançamento. Tudo bem que é a versão mais básica sem extras, mas se mais uma vez formos buscar a máquina de calcular, no início do mês foi lançado Forza Horizon 4 que a versão base custa €70 se não me engano. Podia comprar o jogo, ou até gastar até aos €100 pelas versões com DLCs incluídos, mas pela mesma quantia também posso ter acesso ao jogo durante 7 a 10 meses, mais centenas de jogos. Se for a um ano, são €120, por centenas de jogos num catálogo em crescimento constante.
É aqui que entra a parte da posse e aprender a largar. Muitos de nós gostamos de ser “donos” do jogo, mas a não ser que tenhamos uma cópia física, o jogo digital nunca é nosso. Por razões várias pode ser retirado da nossa conta e acabamos por perder o dinheiro que foi gasto nele, e se olharmos para as nossas prateleiras físicas e virtuais com as nossas listas de jogos, pensemos em quantos gastámos €50 a €60, jogámos talvez umas semanas na melhor das hipóteses, horas na pior e nunca mais lhes pegámos? Esse dinheiro não era melhor empregue numa assinatura que nos dê mais variedade? Dá que pensar, não dá?
Além de ter o que para mim é o melhor serviço de subscrição online por si só, a Microsoft tem um trunfo enorme na sua manga, algo que nunca sei se é uma feature ou uma falha que depois foi assumida e deixaram rolar, a Partilha de Contas. Usando esta coisa maravilhosa, 2 donos de Xbox One conseguem cortar a sua despesa por metade tanto no Gold como no GamePass, tornando-se assim a campeã indiscutível dos serviços online que os jogadores chulam .
Àqueles que pensarão no argumento: “Ah e tal, e se eu pago a minha parte e a pessoa com quem partilho a conta fica com ele e com os jogos?” apenas posso recomendar que partilhem apenas com quem têm absoluta confiança, eu partilho a conta Xbox com o meu irmão Miguel, sim ele podia ficar com o dinheiro e os jogos, mas isso ia tornar os aniversários e Natais em casa dos nossos pais um pouco desconfortáveis…
Eu não assinei o Game Pass, mas tenho acesso a ele e todos os seus conteúdos, porque o meu irmão o fez, que é mais ou menos a mesma coisa.
*nota de edição do autor: texto editado por chamada de atenção de um leitor. Apenas os jogos da Xbox 360 continuam disponiveis ao cancelar a subscrição Xbox Live, e não todos.