Screenshot do Life Is Strange 2. Um autocarro escolar pára no meio de uma rua. O céu está a escurecer, indicando que é o fim da tarde. árvores bloqueiam o lado direito da imagem.

Estás num autocarro da escola a voltar a casa, o sol já se esconde, e tens uma festa de Halloween a que ir. Sais do autocarro ao som de ‘Lisztomania’, dos Phoenix – uma música que alude vagamente a uma inabilidade para lidar com fama desproporcional. Hmm…

Life is Strange 2 é o mais recente jogo de aventura da DONTNOD Entertainment, o segundo da linha principal da série. Foi anunciado com o lançamento do episódio grátis The Adventures of Captain Spirit durante a E3 deste ano. Todos os novos jogos dentro deste universo focam-se numa nova perspectiva dentro do mesmo universo e este não é excepção – desta vez, a atenção recai sobre Sean Eduardo Diaz, um jovem de dezasseis anos que é a personagem controlada pelo jogador, e Daniel Diaz, o deuteragonista de nove anos e parte essencial da nova mecânica da história do jogo.

Sim, já não temos O Poder – já não o tínhamos desde o Before the Storm. Mas temos um irmão que nos admira, birras à parte, e a capacidade de influenciar como ele vê e age com o que o rodeia. Nos jogos anteriores, as acções que tomávamos alteravam especialmente a forma como poderias atingir os teus objectivos, com alguns actos altruísticos ou maliciosos como decoração aqui e ali. Mas neste, não só temos de nos preocupar com aquilo que fazemos e com a forma como isso altera a reacção do mundo, como também temos de pensar que mensagem é que isso transmite ao miúdo que vai colado a nós. Queremos tomar uma decisão moralmente errada por boas (ou mesmo más) razões? O nosso irmão pode pensar que essa decisão se aplica noutras situações, e irá agir da mesma forma em situações menos apropriadas. E não é um reload ou um rewind (isso já passou) que nos vai ajudar desta vez; o Daniel lembra-se do que fazemos, e só mais tarde é que iremos saber.

Screenshot do Life Is Strange 2. Uma imagem do caderno da personagem principal. Tem várias personagem antropomórficas desenhadas. Do lado direito, uma espécie de astronauta com um capacete felino.

Temos, no entanto, o poder de fazermos boas composições com os nosso caderno de esboços! Talvez o poder mais irrealista até agora!

Apesar de ser a novidade mais interessante, temo que ainda não consigamos seriamente avaliar o seu impacto na história, dado que apenas ocorreu uma vez, no primeiro capítulo. E isto leva-me a falar um pouco do que aconteceu até agora. Sem detalhes, mas saltem os próximos três parágrafos se não quiserem arriscar.

Life is Strange 2 começa no sítio onde as personagens principais passaram as suas vidas inteiras para pouco depois serem retiradas à força desse conforto. Precisou de tempo antes da acção começar para ficarmos minimamente afectados com o que íamos perder (em comparação ao primeiro, que saltou logo para a acção principal porque era um novo começo para a Max). Idealmente, ser-nos-ia dado mais tempo, mas os criadores tinham cerca de duas horas de jogo para nos convencer a esperar pelo resto dos capítulos. Por causa disto, pouco da influência que Sean tem sobre Daniel é mostrado nesta primeira parte, e muito do resto (vou assumir, pensando positivo) irá aparecer mais tarde.

Screenshot do Life Is Strange 2. Uma imagem do Daniel a sorrir de forma suspeita.

A cara que os irmãos mais velhos bem conhecem. Um santinho agora, mas vai mexer nas tuas coisas mal saias.

A contrastar com o foco dado à relação entre irmãos, as outras personagens não são de perto tão relevantes – das personagens novas que encontramos ao decorrer da narrativa e que não fazem parte da vida passada dos irmãos, só uma tem nome, e é incerto se o vamos voltar a ver cara a (pixeis em forma de) cara. Dada a natureza nómada da aventura, isto será definitivamente a tendência; não porque quem encontras não seja importante ou memorável (e algumas até poderão ser mais que um estereótipo, que era algo que LiS1 adorava fazer), mas não ficámos com tempo suficiente para saber.

Só com a última crise do capítulo é que a nova vida deles fica assente. O objectivo que Sean temia fica claro, o que faz esta nova vida “estranha” também. O que não mostrou, promete mostrar (e novamente sou atirada para um limbo, mas desta vez com mais certezas de que vou comprar os próximos episódios).

A outra mecânica relevante é o inventário, que agora pode ser levado para mais do que uma cena. Como as outras coisas, infelizmente, só nos foi dado um gostinho. Esta especialmente não me deixou com tantas esperanças, pois mesmo aquilo que nos foi mostrado foi bastante misericordioso nas suas consequências. Não é do tipo de jogos com escolhas que podem travar o progresso do jogo, nem estava à espera disso. Mas entre ter e fazer pouca coisa e não ter… veremos.

Graficamente, aproveitou-se das capacidades das novas consolas para melhorar muitos aspectos da apresentação. Mantém a mesma estilização dos modelos das personagens e evita o hiper-realismo, os espaços continuam a manter a ilusão de que são habitados na sua atenção ao detalhe. A inspiração em fotografia é mais secundária do que no primeiro – ela veio do fotógrafo Mike Brody e da pesquisa que a DONTNOD fez à costa oeste da América. No que falha, que já falhava nos outros, é na representação das emoções das personagens. Nada de grave, pois é algo que é acompanhado por outros factores como a escrita e os actores e actrizes que dão a voz a estas personagens.

Screenshot do Life Is Strange 2. Um screenshot do Sean e Lyla no jardim da casa dos Diaz. Lyla escreve na mão de Sean.

A composição também não fica atrás!

Infelizmente, neste último ponto, deixa um pouco a desejar. Não é das piores actuações em videojogos de longe, mas dei por mim a olhar para a textura debaixo de olhos de algumas personagens a ver se tinha mudado para uma molhada de lágrimas. Nada que estrague a experiência por completo no entanto. Mas a banda sonora…

As escolhas de Jonathan Morali como o compositor dos jogos já impressionava e continuam a fazê-lo, sempre bem escolhidas para cada parte da história de uma selecção de bandas indies que combinam com a idade e natureza das personagens principais: fora da caixa, criativas, ainda um pouco estranhas. A playlist está no Spotify, para os interessados.

Life is Strange 2 Episode 1: “Roads” já está disponível para PC, Playstation 4 e Xbox One. Será lançado para Linux e macOS em 2019.