MTG Arena (Magic the Gathering Arena), é a mais recente iteração do mais famoso TCG (trading card game) do mundo. Como escreveu recentemente o nosso Ricardo Correia no seu artigo “…pai de todos, do sumo-sacerdote das cartas de lutas, presidente da república da mana: o Magic, the Gathering.”
O MTG estabeleceu o género e tornou-o parte da cultura mainstream, ao ponto de toda a gente, em algum ponto da vida, ter ouvido falar do MTG e ter uma ideia das suas cartas ilustradas. Nasceu em 1993 e sem dúvida é um prodígio de longevidade: passados 25 anos continua amplamente popular com vários milhões de jogadores por todo o mundo e é claramente uma influência em muitos produtos modernos de enorme sucesso como Hearthstone e Gwent.
O MTG Arena é uma resposta da Wizards of the Coast ao crescimento destes outros jogos mais modernos, dos quais o Hearthstone é o principal, numa tentativa de conseguir cativar mais jogadores e faixas mais novas da população. É importante referir que já existe há muitos anos uma versão online de MTG, o MTGO(o “O” de online), lançado em 2002 foi responsável por uma grande parte do desenvolvimento do jogo.
O MTGO oferecia a possibilidade de jogar online e com uma comunidade grande e activa, encontrar partidas para os mais diversos formatos nunca foi um problema. O MTGO manteve-se fiel ao conceito TCG e sempre teve uma economia própria e vibrante, é verdade que pode ser um jogo caro mas esta economia permite comprar qualquer carta em qualquer altura desde que os fundos estejam disponíveis. Era de tal forma vibrante a economia que foi possível conseguir ser profissional a jogar MTGO, mas já há uns que entrou em declínio e em boa verdade utiliza um software pouco moderno e não foi capaz de se reinventar de forma a fazer frente aos upstarters.
Entretanto o Hearthstone não só ganhou força como se tornou, com o seu modelo apelativo, um dos maiores e-sports em todo o mundo.
O que encontramos no MTG Arena
Com o MTG Arena a Wizards of the Coast, tenta fazer face a esta situação e desta feita são eles que vão procurar ideias ao Heathstone e à forma como este funciona. Com bom efeito, MTG Arena apresenta um magic com um aspecto moderno muito à imagem do ambiente que já vemos há muito na concorrência. Encontra-se ainda em Open Beta mas já promete.
Neste momento podemos encontrar no jogo todos os conjuntos que são usados no formato Standard, podemos obter boosters e jogar neste formato e ainda outros formatos que ficam encerrados neste universo de cartas disponíveis.
Em termos mecânicos só posso dizer que o jogo está muito bom na transição de Magic original: todo o seu funcionamento está perfeito desde a forma como a regras estão bem implementadas ao funcionamento fluido das diversas fases de cada turno, estas podem funcionar em automático e são activadas as devidas quebras quando assim se justifica ou então pode o jogador forçar a paragem de forma manual. Isto é importante porque, dependendo da estratégia que cada jogador utiliza, pode ser necessário controlar mas quando não acontece é bom ter algo a funcionar de forma eficiente e automática de forma ao jogo correr mais rápido.
Tendo jogado de forma intensa nestas ultimas semanas, posso aferir que estão sempre a mudar o tipo de evento que podemos participar. Vão aparecendo vários tipos de draft, por bloco ou mesmo drafts especiais temáticos e mesmo o constructed ranked nem sempre se encontra disponível. Já as partidas casuais de constructed e evento não competitivo tem estado sempre presentes. Esta volatilidade é aceitável tendo em conta que estamos ainda em Beta e é esperado que a versão final vá ter várias modalidades fixas presentes e que vão surgindo vários tipos de torneio.
Algo que é de salientar é o matchmaking, que está a funcionar muito bem. É rápido(apenas segundos) e faz um trabalho eficiente em encontrar partidas equilibradas. Revela também que mesmo em Open Beta já tem uma comunidade grande e activa.
O que já custa mais a aceitar mesmo sendo Open Beta é o facto de ter sido lançado sem a possibilidade de ter amigos, não podemos portanto fazer uma partida amigável com aquele amigo com quem jogamos e debatamos o jogo. Parece uma opção fraca tendo em conta que são ferramentas indispensáveis para fixar uma comunidade num jogo em particular. Certo que sendo MTG não vai espantar a base de jogadores e ficar “às moscas” não deixa porém de ser mais uma má decisão que vai tirar mais uma lasca na panóplia da Wizards of the Coast.
Certo que será uma situação que será tratada mas não deixa de ficar um travo amargo porque é algo de bradar aos céus.
A economia em MTG Arena
Agora vamos falar do Loxodon na sala, MTG Arena, apesar de fiel ao MTG tradicional deixa o conceito de TCG para trás e muda tudo o que estamos habituados na economia deste lendário jogo. As cartas deixam de ser trocadas, passam a ser adquiridas em boosters ou ganhas como prémio individual em eventos. Para amenizar esta situação e ser possível aos jogadores conseguirem os decks que pretendem foi criado um sistema de wildcards que podem ser trocadas por uma carta à escolha, existem wildcards dos 4 tipos de raridade de cartas existente no MTG Arena: mítica, rara, incomum e comum.
Se é fácil torcer o nariz à primeira vista, é preciso admitir que funciona bem pelo menos com os drop rates actuais, só é estranho abrir um booster e ficar mais feliz com uma carta sem ilustração do que uma carta ilustrada. À semelhança de outros jogos, temos quests diárias e semanais que vão aumentando a colecção aos poucos com os seus prémios, temos que convir que é um grind sem dúvida mas pela experiência pode muito bem ser contido numa dose de tempo razoável pouco extensa e ao mesmo tempo ser jogo divertido. A sensação que fica é que está bem equilibrado e deixa construir uma colecção aos poucos sem partir o porquinho mealheiro.
Todas as contas novas tem a oportunidade de adquirir um pacote de iniciante por um valor de cerca de 6€ (não se deixem iludir, vai aparecer 4.99€ na loja mas falta o IVA), este tem 5 boosters de core set e 2500 cristais(falaremos em breve destes). É um bom valor e compensa para quem quer de facto começar a construir uma colecção e jogar em eventos.
No MTG Arena temos dois tipos de moeda, ouro e cristais. O ouro é algo que vamos conseguindo amealhar jogando e que serve para comprar cartas, enquanto os cristais devem ser comprados e servem para comprar as entradas para os eventos. Existem excepções em que podemos comprar entradas para alguns eventos com ouro e ganhar prémio em cristais porém tem um retorno reduzido e já encaixa no conceito de grind hardcore.
Conclusão
MTG Arena traz o Magic the Gathering para um ambiente moderno e permite uma experiência agradável e fácil do jogo, é excelente para quem quer aprender a jogar e para jogar de forma casual. O jogo está bom e permite construir uma colecção jogando, só peca por muito tardio.
Não consigo perceber como vai afectar o jogo competitivo se é que vamos ver algo relevante nesta iteração do Magic the Gathering, quando o MTGO apareceu criou uma versão análoga à de papel que permitiu aos profissionais e aspirantes a profissional utilizarem a plataforma e até tinham a possibilidade de ganhar pontos para a classificação profissional. Algo que não irá acontecer com o MTG Arena devido a não ser TCG como os outros e por isso irá de alguma forma ter o seu espaço de outra forma.
Ainda assim esperemos uma versão final já com tudo o que o MTG pode oferecer a ser aproveitado. Estou certo que vai no bom caminho e tenho de opinião que em termos de mecânica de jogo e património o MTG é superior à concorrência por isso só posso adivinhar que tenha sucesso.