“Mudam-se os tempos mudam-se as vontades” disse um gajo que perdeu um olho. Mas eu diria que agora as pessoas fazem as suas necessidades da mesma forma que na Idade Média só que agora limpam-se com papel fofinho e dantes tinham que o raspar com uma colher.
E é sempre conflituoso, acho que quanto mais pensamos mais conflito nos entra pela cabeça. E se calhar muita da porcaria que vemos hoje pela internet é por tempo a mais a criar conflito na nossa cabeça e na dos outros. Esse conflito pode ser explorado por outros e tem sido sempre assim desde o principio dos tempos. E hoje os conflitos tradicionais são cada vez menos, no entanto vivemos num tempo onde surgem novas formas de conflituar.
A formula é uma regra básica do comportamento humano, “ninguém gosta de estar errado” e aplicada a outro componente muito importante e conectado a isso o de “ninguém gosta de pensar muito” junta-se como numa formula alquímica em algo muito explosivo e que resulta muito bem nas formas e canais de comunicação dos nossos tempos.
Gerar conflito é uma arte, e essa arte é muito lucrativa e uma ferramenta muito poderosa mas que não serve os alvos desse conflito, e vai servir a quem explorou essa natureza humana. Peguemos no exemplo da nossa própria História, o celebre episódio na Restauração da Independência.
A formula é essencialmente a mesma que em tempos medievais e quem sabe muito mais longínquos se participava.
Temos alguém que quer ganhar o poder mas sem o apoio numérico suficiente para tal, o que vai tentar é virar o jogo a seu favor e ganhar números, e isso faz-se metendo o conflito que o povo tem por falta de tempo e esperar que a coisa cresça em proporção e se ponha exactamente do nossos lado. Pode correr mal, pode correr bem, vai depender da forma de o fazer e de outras circunstâncias.
Também em todas as actividades humanas sempre existiram conflitos supérfluos, até por um balde de água se pode criar uma guerra civil!
Hoje basta uma consola não ter exclusivos para andarmos todos à batatada, porque um indivíduo não se sentiu suficientemente satisfeito porque a sua escolha correu mal e em vez de procurar corrigir essa decisão na sua cabeça o mais lógico é tornar essa decisão a correcta mesmo que tenha de ser à força a tentar convencer os outros que são eles que estão errados e não ele.
Esta exploração mental foi estudada e tem sido explorada pelas grandes marcas, porque é uma forma simples de fazer pouco sem mérito nenhum e obter uma carrada de fãs agarrados a espadas e forquilhas a lutar do nosso lado sem que se apercebam que o estão a fazer não por eles mas por quem instigou isso. Eu detesto marketing ou pelo menos a filosofia por detrás, sempre tive conflito com os meus professores porque a minha definição de marketing era “a arte de enganar”. BEM!
E é ai que surge o subproduto do marketing que eu penso ser o mais negativo e nocivo para a nossa sociedade e que está a substituir completamente tudo o resto. O marketing evangélico torna as pessoas em Guerreiros Mujahidin super empenhados numa jihad só existente na sua cabeça.
No culminar de anos a potenciar isso muitas marcas de facto conseguiram criar uma cultura ou uma comunidade dentro a da comunidade dita normal, e são hoje um cancro absoluto.
A comunidade mais tóxica existente dentro da comunidade gamer no geral é de um segmento comunidade de fanboys da Xbox, que prejudica todos os restantes fãs da marca e da plataforma, mas que tem nessa comunidade um cancro maligno que vai consumir e prejudicar ainda mais o que tanto admiram.
Mas a culpa não é bem vossa, a culpa é da empresa que engendrou esse plano e não pensou que poderia correr mal, e de facto está. A imagem duma marca que poderia hoje ter uma conotação positiva e uma boa representação, é agora muito mais pálida se compararmos sequer ao seu inicio.
O conflito, ódio e a ignorância tem que ser combatidas, a exploração de pessoas de mente fraca não faz uma comunidade saudável e colaboradora, e gera mais ignorância e mais ódio. A guerra das consolas sempre existiu, o problema é quando alguém que quer explorar esse mecanismo, descobre o interruptor correcto e cria um monstro que vai originar uma perda de controlo absoluta. E está descontrolada.
Não tenho a solução para esse problema, mas tento iniciar a procura dessa solução, eu tento fazer com que as pessoas pensem sobre os seus erros mesmo que para isso gere conflito sobre o próprio conflito na sua mente. Acho que é uma das formas que temos de amenizar a guerrilha: se uma cabeça perdeu a capacidade de pensar, então vamos metê-la a pensar novamente mesmo que para isso tenha que entrar em conflito consigo mesmo.
Ai já entro no campo da psicologia que não quero entrar porque reconheço que não tenho conhecimentos suficientes. Desafiei a Alexa Ramires para que definisse o que é um fanático e de facto o mais similar que podemos equiparar é a dum adepto de futebol. Fanboys – essa espécie de Gamers que cada vez mais invade as redes sociais e todos os meios em que os seus habitantes se relacionem com videojogos. O objectivo era trazer a Alexa psicóloga cá para fora e debater o tema.
(nota do editor: a partir deste parágrafo o texto é da autoria da Alexa Ramires)
Ser um adepto de Desporto – tomemos o exemplo de futebol – absolutamente fanático pelo seu clube, é algo com o qual nos habituamos a conviver. É um daqueles males que conhecemos há tanto tempo que já não nos incomoda (muito). Consideramos normal, ao ponto de que quando conhecemos um adepto que não é Fanático, não lhe chamamos adepto de todo. É apenas um simpatizante.
Qual é a Psicologia de um adepto fanático? Será o mesmo processo que um fanboy? Ser um adepto fervoroso de algo está intrinsecamente ligado à necessidade de pertença a um grupo – algo tão antigo quanto os primeiros Australopitecus que decidiram formar tribos. Existe força nos números: pertencer a um grupo diz-nos que somos aceites por alguém. Pertencemos.
Os sucessos do grupo são os nossos sucessos! As nossas falhas individuais são postas de lado… não pensamos muito sobre nós enquanto seres individuais – focamo-nos no grupo (e isso é sempre muito mais fácil).
No desporto, o Fanatismo assume o fenómeno descrito pela Associação Americana de Psicologia, de: BIRGing – “Basking in Reflected Glory. Ou seja, regozijarmo-nos com os sucessos dos outros. Quantas vezes perguntam a um adepto de um qualquer clube: “como é que correu o jogo?” ele responde: “Ganhámos!” Como se ele tivesse ganho também por reflexo. Não foi o clube que ganhou – não foi aquele grupo de jogadores… Ele também ganhou. Curiosamente, muitas vezes na derrota, esse comportamento é alterado e transferido para: “Perderam”. Já não é “Nós”: é “Eles”.
A este fenómeno chamamos em Psicologia: CORFing” “Cut Off Reflected Failure. Não se quer associar ao insucesso e a frustração é muitas vezes transformada em agressividade para com o próprio clube ou outros adeptos.
Este fanatismo adopta então o fenómeno descrito por: Ingroup – Outgroup. Existe o Nós e o Eles, sendo que ambos os grupos ignoram por completo que não existem praticamente diferenças nenhuma entre eles. Ambos seguem as suas equipas, ambos reagem de maneira quase igual às vitórias e derrotas, ambas colocam outros clubes fora da sua esfera de grupo. As diferenças criadas entre eles são imaginárias – argumento arbitrários criados por ambos os grupos como forma de justificar a sua pertença e permanecer na ideia de que são melhores que outros.
FANBOY: Ao contrário do que eu própria pensava enquanto psicóloga (talvez por ser Gamer, queria acreditar que somos melhores que fanáticos), Fanboy segue exactamente o mesmo conceito que o Fanatismo desportivo: a necessidade de Pertença. Este conceito de Fanboy tomou forma na famosa guerra de consolas que começou a surgir nos anos 1990 e mais recentemente, na guerra Consolas versus PC – o duelo.
Neste caso, temos também aqui uma razão económica subjacente. As consolas não são baratas, nem tão pouco o é um PC para Gaming. Exige algum investimento, que por Orgulho, queremos acreditar que quando o fazemos, é o certo. Queremos acreditar que gastámos 500€ em algo que merece! Que tomámos a decisão certa e optámos pelo melhor sistema.
Quem melhor pode validar isso que um grupo que pensa como nós? Lá vamos nós juntar-nos à “mesma equipa” e atacar as restantes, ignorando qualquer fundamento racional para os nossos argumentos, pois queremos manter o nosso orgulho a qualquer preço. Para isso vale tudo: ofender os restantes, inventar razões, recusar ouvir o outro lado – tudo.
Em suma: Porque existem FanBoys e Fanáticos? Necessidade humana de pertença e validação de um grupo. Sentirmos que importamos, que existem muitos iguais a nós. Porque temos necessidade disso? Será assunto para outro artigo
NOTA: Fanático e Fanboy são termos aplicáveis a indivíduos que apresentem opiniões/acções extremas face ao clube ou consola da sua preferência. Simplesmente gostar de um clube e preferir uma consola a outra não faz de nós Fanboys. A titulo de curiosidade podem consultar uma compilação interessante de discussões da Usenet, tempos idos que poucos se recordam.