Não me lembro de muitas séries indie tão profícuas quanto Holy Potatoes, dos Daylight Studios de Singapura, que em meia dúzia de anos vão no quarto jogo dentro do mesmo universo. Para quem esteve enterrado num batatal nos últimos anos e não sabe do que esta série trata, Holy Potatoes, como o próprio título indica, traz-nos jogos de gestão diferentes sempre com a mesma temática: humor e tubérculos.
Há dois anos, quando o estúdio se preparava para lançar Holy Potatoes! What the Hell?! o Leonel esteve com os autores no Tokyo Game Show e percebeu o que os movia a apostar no riso misturado com jogos enganadoramente difíceis. Com Holy Potatoes! A Spy Story?! lançado ontem, o estúdio afinou finalmente a fórmula, diversificando as suas mecânicas base. Mas já lá vamos.
Se Obélix caiu no caldeirão da poção mágica quando era miúdo e ficou para sempre afectado por isso, eu ontem senti que depois de jantar tropecei para dentro de um tacho com batatas ao lume e fiquei por lá esquecido. Isto porque o humor e a direcção artística de Holy Potatoes (ambas já demarcações do trabalho dos Daylight Studios) nos capta quase de imediato, para depois nos algemar no seu management game, enquanto as horas passam sem darmos por isso.
O humor é constante como a série já nos habituou. Uma série de trocadilhos constantes, brincadeiras com os personagens que são óbvias paródias-batata de elementos comuns da cultura Pop.
Neste spy agency simulator o objectivo é irmos avançando na história e descobrindo o que se passou com os pais desaparecidos dos dois protagonistas-batatas gémeos que gerem a agência. São eles (nós) quem faz a gestão de todos os recursos e que escolhe quais os agentes que enviamos para cada missão.
O sistema das missões é curioso, ainda que com os seus números escondidos nos conduza a ter surpresas amargas muitas vezes. As missões têm um funcionamento simples e envolvem ir do ponto A (a “entrada” da missão) até ao ponto B (o objectivo da missão). Até chegarmos ao ponto A levamos tempo que pode ser diminuído com a aquisição de veículos (de notar que, como explicaremos à frente, o tempo é fulcral neste jogo). Antes de começarmos a missão temos de decidir que acção o agente deve tomar em cada obstáculo, e se algumas vezes temos informações das forças e fraquezas destes pontos, muitas outras há em que vamos às escuras. As nossas acções dependem, em muito, da eficácia das estatísticas individuais dos nossos agentes, e é a eficácia em resolver cada um dos pontos que vai fazer subir mais rápida ou mais lentamente a barra de alarme, que se encher por completo resulta numa missão falhada.
As missões, essas, têm muitas vezes picos de dificuldade abruptas. Seja pelos pré-requisitos de fabricarmos gadgets específicas para as resolver, ou de classes obrigatórias de agentes, seja pelos pontos escondidos de estatísticas que invariavelmente resultam em falhanços constantes.
Visto que muitas das missões têm dias para serem finalizadas, e que só podemos fazer uma de cada vez, é fácil chegarmos ao Game Over por não conseguirmos completá-las a tempo.
Para subir as estatísticas dos nossos agentes vamos criando na nossa cidade alguns edifícios onde estes podem passar tempo a subir a sua pontuação. É nesta gestão de que agentes enviar para onde (e quanto do nosso limitado dinheiro devemos investir) que circunda algum do desafio deste Holy Potatoes! A Spy Story?!.
Para os fãs de jogos de gestão é praticamente impossível não serem devorados pelo misturador de puré que é este Holy Potatoes! A Spy Story?!. Um jogo aparentemente leve, com muito humor, com um sistema de gestão centralizado num ecrã só, mas cuja enganadora ligeireza mascara momentos de extrema dificuldade e muitas missões duras de roer como uma batata crua. A forma como vamos encaixando em todas as partes que compõem este simulador de agência de espiões é verdadeiramente deliciosa e não sendo dos jogos mais profundos do género, é certamente um dos mais originais.