Todos os fãs de A Song of Ice and Fire (e consequentemente, ou não) de Game of Thrones, têm teorias sobre o direccionamento da história e dos seus personagens. Todos temos fan fictions não verbalizadas e ideias do que os personagens deveriam fazer e dizer mas não temos mão para os dirigir. Nem no jogo da famigerada Telltale Games, em que a nossa agência era ilusória. Tinha mesmo de ser o estúdio Nerial a trazer-nos a verdadeira capacidade de mudar os destinos de Westeros com o seu Reigns.

Nada disto é canónico, obviamente.

Com a terceira iteração em três anos, Reigns chega agora ao universo de George R R Martin. A estrutura base de Reigns – que, convenhamos, adorámos tanto o primeiro quanto o segundo jogo – permanece intacta. Somos confrontados com escolhas e decisões, e temos de fazer swipe para a esquerda ou para a direita para responder a quem nos interpela. Imaginem o Tinder, com os mesmos swipes, mas menos deplorável, mesmo tendo em conta no caso deste Reigns: Game of Thrones haja muitas mortes e muitos bordéis à mistura.

Se nos jogos anteriores controlávamos reis e rainhas na expectativa de nos mantermos vivos o maior tempo possível, em Reigns: Game of Thrones a nossa esperança média de vida é mais curta e medida em luas, não nos podendo dar ao luxo de contar o nosso reinado em anos. As formas de morrer continuam as mesmas: ter cada uma das quatro variáveis (poder militar, economia, povo e religião) completamente cheias ou vazias. Se alguma destas oito situações acontecer vamos encontrar uma morte dolorosa. Nos dois títulos anteriores, após a nossa morte, seguiríamos a história com outro rei ou rainha, descendente, ou não, do nosso anterior. Em Reigns: Game of Thrones, o conceito é ligeiramente diferente.

Melisandre, a sacerdotisa vermelha de Rh’lor, está a ter uma premonição com o nosso reinado, e acredita sermos o profetizado Azor Ahai. Sempre que morremos somos “renascidos” no ponto inicial por ela, que serve também de indicação do que deveremos “cumprir” ou encontrar para prosseguir no jogo.

Sempre que renascemos temos a possibilidade de recomeçar sob o ponto de vista de um dos 9 personagens que vamos desbloqueando, todos eles protagonistas da amada série. O que fazemos a partir daí é digno de um multiverso, de múltiplas ramificações não-canónicas de cenários possíveis para a famosa série. Seja colocar Tyrion no Trono de Ferro ou unificar todo o reino sob a coroa da Rainha Sansa, o objectivo é mais ou menos o mesmo: sobreviver o maior tempo possível, equilibrar as diversas variáveis com as nossas decisões, tentar desbloquear novos “baralhos” narrativos cumprindo objectivos, morrer e recomeçar.

Mas a morte pode também surgir por decisões nossas, seja no campo de batalha ou em encontros fortuitos com outros personagens. As possibilidade de morte deste Reigns: Game of Thrones aumentaram em muito para além do equilíbrio e desequilíbrio das quatro variáveis, trazendo uma extensão mecânica e narrativa a uma fórmula que já era de si mesma surpreendente.

É irónico que um jogo com a simplicidade mecânica e visual como Reigns seja até agora o jogo que melhor consegue incorporar a alma da saga de George R R Martin. Seja em mobile ou no PC, Reigns: GoT traz-nos, com os seus dilemas, interacções e diálogos, a melhor representação videolúdico do cerne de todo o universo de Westeros: consequências, imprevistos, traições, violência, complexidade relacional e política e morte. Este novo jogo do estúdio Nerial é verdadeiramente obrigatório por ser o colorário de desenvolvimento de uma série de videojogos coesa e complexa dentro da sua simplicidade, e também para todos os fãs de Game of Thrones que têm aqui as ferramentas para levar a cabo todos os “e ses?” que lhes passam pela cabeça.

E já vos falámos do preço? Custa 3,99€ e vale cada cêntimo investido. Garantia dada pelo Mestre da Moeda de Westeros.