Criando uma pequena introdução: adoro jogos de sobrevivência, adoro gestão de recursos e principalmente, cooperação entre jogadores. Grimmwood é um produto de fusão entre tudo isso, e adiciona a mecânica roguelikeEsta última para quem me conhece, sabem que pouco ou nada me diz, mas quando incorporada neste jogo, encaixa como uma luva.

Este jogo ainda em fase de construção, foi desenvolvido pela Big Moustache Games e é o primeiro jogo dessa companhia. Mas atenção! É uma equipa bastante experiente na indústria com membros que trabalharam em séries de jogos como TropicoSacred Seasons of War, e até um artista com trabalho realizado em filmes como The Expendables Conan The Barbarian. Uma equipa veterana que se junta para a criação de Grimmwood com a ideia de nos apresentar uma experiência única.

Grimmwood é apresentado como um co-op mmo, e não está longe da verdade, apesar de estar dividido em servidores de 40 pessoas, cada jogador é livre de entrar a qualquer altura do jogo, e desligar o mesmo quando quiser, sem ser prejudicado por isso. Isto se o seu personagem não morrer entretanto. O setting deste jogo passa-se em cenário pós-apocalíptico em plena era medieval, e com muita fantasia à mistura. A premissa é algo do género: a nossa personagem andava perdida pelo meio de uma floresta recheada de criaturas místicas e lá para o meio encontra uma vila abandonada com ou sem habitantes dependendo da altura em que entramos no jogo. Ninguém nesta vila se tinha conhecido antes, e agora têm a tarefa de fazer uma nova vida aqui, colectando comida, materiais e com sorte mais habitantes para ajudar nesta demanda.

Como em todos os jogos de sobrevivência, algo mais entra em vigor aqui, que nos dificulta a sobrevivência. Todas as noites, a nossa aldeia é atacada por monstros. Estes ataques acontecem sempre, e para nos defendermos temos de fazer obras na vila, desde fortificar muralhas a cavar um fosso. Devemos também proteger o nosso personagem, equipando-o com o que tivermos disponível, tudo isso antes da meia noite, pois quando os monstros atacam, nada podemos fazer senão esperar um log detalhado que descreve o acontecimento da noite passada. Muito semelhante a um dungeon master dizer-nos o que acontece após tomarmos uma decisão e rolarmos os dados numa sessão de D&D.

Pegando no D&D, todo o jogo tem uma vibe muito dentro desse mundo. Muitas das situações que acontecem são dadas como respostas a acções que pretendemos tomar, mas não temos como responder às mesmas. Devo dizer que por vezes é frustrante o sistema, e morri muitas vezes por isso, mas ao mesmo tempo é muito bom. Beber água duma poça 3 vezes e na terceira vez apanhar um problema de estômago só porque o sistema de “dados” assim o dita é interessante. Falhar um tiro contra um unicórnio que está moribundo e morrer na sequência de um contra-ataque do mesmo, mais uma vez por ordem de “RnGesus”, é incrivelmente frustrante e também incrivelmente fixe.

Algo que ainda não referi desde o inicio deste texto é o facto de existir morte permanente. Ou seja, morremos durante a noite, ou por fome, ou por luta com criaturas, e temos de criar um personagem novo. Não levamos nada connosco depois da morte, salvo raras excepções, onde as nossas acções nos oferecem bónus para uma próxima sessão de jogo. Esses bónus são importantíssimos porque nos garantem algo que não pode desaparecer com o sistema aleatório do jogo. Este sistema leva a que todas as nossas decisões sejam muito ponderadas, a não ser que queiram mesmo matar aqueles anões que não nos deixam dar loot a um viajante morto, ou colher umas florzinhas para a nossa amada. Muitas são as vezes em que me enervo com algo e decido recolher as melhores armas que estiverem no armazém da vila e ataco o que estiver à minha volta, muitas são também as vezes em que isso corre mal e acabo por morrer.

Algo que acho muito engraçado, o nosso personagem começa com atributos e equipamentos aleatórios, que proporcionam experiências incríveis. Este formato de criação de personagem, é mais um “cheirinho” de uma sessão de D&D, e uma prova do teor de rejogabilidade que Grimmwood nos apresenta. Se já jogaram Don’t Starve Together isto é uma actualização nesse formato de jogo, e mais do que isso, um fortalecimento da fórmula. A importância de nos prepararmos para as más colheitas é importantíssima.

O jogo é composto por um conjunto de hexágonos a partir de um centro que é a nossa vila. Cada um desses hexágonos é gerado proceduralmente, sendo que inimigos presentes, tipo de terreno e pontos de interesse em cada um são diferentes a cada jogo. No caso dos inimigos, são gerados aleatoriamente a cada dia, algo que proporciona um novo desafio diário. Existe no entanto uma opção de fazer scout a uma área antes de entrar nela, que felizmente reinicia também a cada dia. Honestamente nunca a uso porque só somos atacados se nos aproximarmos demasiado de um inimigo, mas acredito que seja útil.

Um ponto muito complicado de jogar às cegas como eu, é que pode acontecer de entrarmos numa nova área directamente em cima de um inimigo. O problema de isso acontecer é que inicia uma sequência de combate por turnos, da qual não é possível sair a não ser tentando a nossa sorte e mesmo no caso de uma escapatória bem sucedida, corremos o risco de ser atacados por trás durante a fuga. Já morri assim e posso dizer que não é nada bonito, talvez tenha sido a morte que mais me enraiveceu, muito porque já tinha um boneco com bom equipamento, a vila estava a correr bem, e acabo morto por um maldito unicórnio. Sim. Um unicórnio.

A componente social deste co-op mmo é uma delicia de explorar, temos acesso a um fórum da cidade, onde membros mais activos deixam mensagem quase como post-its para newcomers tenham uma entrada mais simples nas regras e trabalhos da vila. Neste fórum, muitas vezes encontramos os mesmos textos, possivelmente retirados de algum guia disponível na Internet mas ainda assim são muito úteis. É também possível utilizar uma opção de chat instantâneo, que ajuda a passar as horas mortas, que vão ser muitas, a stamina do nosso personagem é limitada, e as horas passam em tempo real, assim que acabamos de recolher materiais temos de arranjar uma solução para passar o tempo, caso contrário mais vale desligar o jogo e voltar mais tarde.

Dentro do factor social, cria-se uma importante ligação de confiança com pessoas do outro lado do Mundo, que podem a qualquer momento esvaziar os inventários da vila e guardar tudo no seu armazém pessoal, apenas para ver o Mundo a arder. Ou gente que rouba as melhores armas só para andar contente da vida e não quer saber do bem estar dos restantes aldeões. Felizmente podemos criar um movimento para excluir um membro da aldeia mas honestamente é quase sempre tarde demais quando o mesmo é feito. Nunca te perdoarei King Bob por teres levado os meus equipamentos de caça só para morrer fora da aldeia durante a noite. Nunca mais os encontrei… “Deixa os equipamentos na aldeia, estamos a precisar de madeira” dizia ele.

Se tudo isto vos afasta do jogo, por requerer um investimento enorme de tempo, paciência e vontade, descansem pois existe um formato Blitz onde cada dia passa em 15 minutos. Como seria de esperar tudo neste modo é mais rápido, incluindo a regeneração de stamina. Para pequenas sessões é perfeito mas para obterem o verdadeiro “sumo” deste jogo, recomendo a versão standard. Com 15 minutos por dia, a componente social perde-se pelo caminho e fica apenas uma repetição de mecânicas para quem já as sabe de cor. Mecânicas essas que não são assim tão interessantes ou inovadoras quando retiradas do contexto base do jogo.

No fim de tudo, onde possivelmente me faltou uma coisa ou outra, que este jogo tem tanto para falar, resta a opinião de que é sem dúvida um título a seguir. Seja para jogar com amigos ou completos estranhos, é um forte investimento para quem aprecia este tipo de interacção. Tendo sido lançado em Agosto, continua a receber actualizações e ajustes constantes, que prometem melhorar mais e mais a experiência de quem o joga. Agora só falta ter mais jogadores, infelizmente os seus servidores parecem estar um pouco desertos, talvez devido à sua curva de dificuldade inicial.

E por favor, lembrem-se, os unicórnios não são vossos amigos.