A vida está cheia de boas surpresas. Podemos encontrar 60€ no chão, podemos jogar Horizon Chase Turbo ou podemos encontrar um vídeo de um lagarto a dançar no varão ao som de Guns, quando procurávamos algo na internet que não tinha nada a ver com strippers ou varões…

Uma das tarefas mais ingratas que tive recentemente, foi fazer parte do Júri do Indie X durante a Lisboa Games Week. Foi uma tarefa interessante, mas também teve a sua parte de injustiça ao ter que dizer quais eram os melhores entre os melhores, algo que fiz com o máximo de idoneidade que me era esperado. Ser júri de uma mostra de jogos não é fácil porque viajamos naquela linha ténue que separa a qualidade do nosso gosto pessoal. Eu consigo reconhecer a qualidade de vários jogos mesmo que não goste particularmente do estilo ou outras coisas sem dificuldade, é-me um pouco mais complicado ver falhas em algo de que gosto particularmente, um pouco como quando estamos apaixonados e não admitimos que as falhas da outra pessoa nos vão irritar no futuro. Horizon Chase Turbo cai nesta segunda categoria. Gosto imenso dele no seu todo, e felizmente não tem falhas. Que eu queira admitir como relevantes.

Esclarecendo desde já, Horizon Chase Turbo não é perfeito, mas não está muito longe disso. Pelo menos dentro do seu estilo.

Os fãs de jogos retro, especialmente de corridas, devem lembrar-se de Lotus: The Ultimate Challenge, ou Outrun. Se fecharem os olhos conseguem ver o sprite da traseira do seu carro enquanto o cenário mais próximo passava por ele a uma velocidade estonteante e um cenário colorido preenchia o horizonte que nunca era alcançado enquanto os ouvidos são embalados pelo ritmo electropop constante feito num sintetizador de bitsounds. Horizon Chase é um revivalismo de todas essas coisas, é um Outrun/Lotus moderno, é viciante, é divertido e é das melhores compras que um fã de jogos de corrida arcade pode fazer este ano.

A Aquiris, o estúdio brasileiro que desenvolveu esta obra conseguiu dar uma roupa nova a um estilo de jogo, que se não tivesse sido tratado com muito amor e carinho teria tido uma recepção agreste. A fórmula técnica é a mesma que nos jogos antigos, um sprite fixo com um cenário móvel a alta velocidade e uma ilusão brilhante de estar a conduzir o carro quando no fundo estamos a mover a pista “debaixo dele”. É algo que parece batota, mas é uma daquelas técnicas de velha guarda pelas quais tenho uma certa fascinação. Contudo, em vez de ter um carro e meia dúzia de pistas somos presenteados com mais de 100 corridas por 12 locais à volta do globo e acima de 32 carros que vão do desportivo mais recente a um velho calhambeque.

Apesar da falta de licenciamento, todos os carros são reconhecíveis por um Cabeça de Pistão digno desse título e para os que não apreciam a arte do design automobilístico é perfeitamente indiferente porque todos eles são diferentes em condução e têm algumas opções estéticas que permitem uma certa personalização nas corridas, e apesar de pensar que mais de 100 pistas seria cansativo ou aborrecido quando peguei no jogo ao fim de várias horas não podia estar mais enganado. Os cenários e designs nunca são repetitivos, há uma grande variedade de estruturas e até elementos que tornam cada corrida um desafio, até porque o objectivo principal do “World Tour” modo principal de jogo, não é só conseguir uma classificação que nos permita avançar (uma tarefa fácil) mas sim conseguir a vitória capturando todos os tokens espalhados pela pista. Uma tarefa mais complicada já que para o fazer é preciso o carro com os atributos certos para cada pista e destreza suficiente para tal.

Talvez essa seja a maior falha de Horizon Chase Turbo, nada grave que lhe tire muita qualidade, mas ao tentar manter a sensação arcade sem os clássicos checkpoints, a Aquiris optou por espalhar icons de gasolina, e uns tokens recuperáveis pela pista. A colocação de alguns deles, obriga às vezes a um sacrifício táctico que pode custar a corrida, derrotando o propósito de os apanhar. Tirando isso, não consigo apontar falhas à qualidade deste jogo que está em primeiro lugar dos meus Kinder Supresa de 2018, porque além dos modos single player que são mais que suficiente, Horizon Chase permite jogar em split-screen de quatro jogadores.

Tudo à moda antiga.

Como deve ser.

Queria só terminar por dizer que independentemente de estilos de que goste, e para fechar no tema da minha introdução, Fortnite continua a ser um cocó e recuso-me aceitar que seja um dos maiores candidatos a jogo do ano.